Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#72: Nuevo Cine e Nuevo Cine Latinoamericano

 


NUEVO CINE E NUEVO CINE LATINOAMERICANO. Talvez o termo mais utilizado em relação ao cinema sul-americano, nuevo cine, apareceu primeiro no final dos anos 50 na Argentina, ao mesmo tempo que a Nouvelle Vague (a "nova onda" francesa) ocorria. De fato, o termo nueva ola foi igualmente empregado. No entanto, os jovens diretores de cinema argentinos emergentes, liderados por Leopoldo Torre Nilsson e Fernando Ayala, que dirigiriam seus primeiros filmes em 1957 e 1958, respectivamente, foram inspirados pelo movimento antecedente do Neorrealismo italiano (no final dos anos 40 e primórdios dos 50) e pelo cinema de arte europeu, por exemplo, Federico Fellini e Ingmar Bergman.

Uma das tendências das obras da nova geração foi tornar proeminente os escritores da Argentina, mais que os europeus, com autores como Manuel Antín, adaptando ambiciosamente Julio Cortázar (La Cifra Impar, 1962) e René Mujica adaptando um conto de Jorge Luís Borges em El Hombre de la Esquina Rosada (1962). Muitos diretores do nuevo cine foram capazes inicialmente de realizar curtas de 35 mm, através de apoio governamental disponível, incluindo David José Kohon, que tipicamente analisou as tristes vidas das mulheres de Buenos Aires em seus filmes, enquanto outra figura de proa, o prolífico ator Lautaro Murúa,  realizou seu primeiro filme, Shunko (1960), na remota província de Santiago del Estero. À época que o último dos realizadores-chaves do nuevo cine, Leonardo Favio, chegou a cena, em 1965, o movimento estava efetivamente findo. Um golpe militar, ocorrido em 1966, e as restrições da censura, fecharam o cerco.

O próximo  movimento "cinema novista" foi o Cinema Novo no Brasil, geralmente considerado como tendo se iniciado pelos primeiros longas dirigidos por Gláuber Rocha e Ruy Guerra, em 1962, enquanto o segundo movimento nacional cinema-novista no continente ocorreu no Chile, entre 1967, o ano que o Festival Internacional  de Cine de Viña del Mar foi fundado, e o golpe militar que depôs Salvador Allende, em 1973. Uma série de diretores de longas-metragens, incluindo Raúl Ruiz e Miguel Littín, realizaram suas primeiras obras nestes anos. O Festival de Viña del Mal é frequentemente citado como o nascedouro do nuevo cine latinoamericano, ainda que o festival organizado pelo Cine Club do Uruguai, em 1965, deveria também ter sido considerado como um ponto de partida para o movimento, ocasionalmente militante, socialmente consciente e pancontinental de realizadores e críticos.

O termo é mais usualmente utlizado em relação aos filmes - frequentemente documentários ou reconstruções ficcionalizadas - realizadas independentemente, à esquerda, particularmente na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Cuba e Uruguai, durante o final dos anos 60 e anos 70. A Revolução Cubana e a eleição de Allende no Chile foram catalizadores políticos para o "movimento" (como foi, por outro lado, o ativismo contra as ditaduras militares por toda parte). Retrospectivamente, a obra pioneira de Fernando Birri na Escuela Documental de Santa Fé, Argentina, assim como os curtas uruguaios e cubanos, dos anos 50 e primórdios dos anos 60, e o início do Cinema Novo brasileiro, tem sido incluídos sobre a rubrica "Novo Cinema Latino Americano". A incorporação de um festival anual internacional de cinema, em Havana, em 1979, utilizando o nome Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, fez ressurgir o "movimento", que havia entrado em declínio após os golpes militares dos anos 70: Na Bolívia, em 1971; no Uruguai, assim como no Chile, em 1973; e na Argentina, em 1976. 

De forma mais significativa, o rótulo nuevo cine reapareceu no final dos anos 90, na Argentina, em referência não a um movimento, mas a jovens realizadores, a maior parte egressos de numerosas  escolas de cinema no país, que estavam realizando filmes narrativos altamente independentes, tendendo a não seguirem os modelos tradicionais industriais - locais, hollywoodianos ou mesmo europeus. Outras denominações, tais como las películas argentina jovenes de éxito e el nuevo cine independiente argentino foram aplicados, e quando o Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente (BAFICI) foi inaugurado, em 1999, o Novo Cinema Argentino encontrou sua morada. Para complicar as coisas, muitos dos realizadores que haviam dirigido seus primeiros longas no novo milênio, tais como Mariano Llinas (Historias Extraordinárias, 2008), Santiago Mitre (El Estudiante, 2011), Alejo Moguillanski (Esas Cuatro Notas, 2004) e Matías Piñiero (El Hombre Robado, 2007), não dependendo de nenhum financiamento de subsídios argentinos ou do além mar, estão trabalhando juntos como grupo e agora são referidos como os membros do "novo" Novo Cinema Argentino. Ver também ALONSO, LISANDRO; ARAYA; BURMAN, DANIEL; CHASKEL, PEDRO; CHILE FILMS; REALIZADORES CHILENOS NO EXÍLIO; CINEMATECA DEL TERCER MUNDO; COLÔMBIA; EQUADOR; FRANCIA, ALDO; FUNDACIÓN DEL NUEVO CINE LATINOAMERICANO; GETTINO, OCTAVIO; GLEYZER, RAYMUNDO; HANDLER, MARIO; MARTEL, LUCRECIA; NUEVE REINAS; PARAGUAI; PERU; PIZZA, BIRRA Y FASO; POLIAK, ANA; REJTMAN, MARTÍN; SANJINÉS, JORGE; SOLANAS, FERNANDO EZEQUIEL; SOTO, HELVIO, STANTIC, LITA; "TERCEIRO CINEMA"; TRAPERO, PABLO; VENEZUELA.

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 425-27. 

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