Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#80: Terceiro Cinema



 TERCEIRO CINEMA. Um termo cunhado por Fernando E. Solanas e Octavio Getino no seu polêmico ensaio "Hacia un Tercer Cine: Apuntes y Experiencias para el Desarollo de un Cine de Liberación en el Tercer Mundo", escrito em 1969 e primeiro publicado em inglês como "Toward a Third Cinema" nos Estados Unidos em 1970/71 (Cineaste 4, n.3), o termo tem sido utilizado frequentemente como sinônimo de "cinema do Terceiro Mundo", para se referir a um tipo de cinema asiático, africano, assim como latino-americano dos anos 60 e 70, e além, que deliberadamente se contrapõe aos filmes comerciais e o "cinema de arte" europeu.

Solanas e Getino teorizaram que um "terceiro cinema" poderia ser superior tanto ao "primeiro cinema" hollywoodiano, no qual os espectadores são seduzidos pela passividade do espetáculo audiovisual e um "segundo cinema", representado primordialmente pelo cinema autoral europeu dos anos 50 e 60 (tal como o dos italianos Federico Fellini e Michelangelo Antonioni), com suas intenções sérias, sendo considerado como um aprimoramento sobre o "primeiro cinema", porém que na sua representação de vozes individuais se acreditou não possuir uma consciência coletiva ou revolucionária.

Basicamente, Solanas e Getino teorizaram suas intenções no documentário em três partes, La Hora de los Hornos, que finalizaram em 1968. Brilhantemente, converterem um termo pejorativo, "Terceiro Mundo", claramente sugerindo inferioridade (como "terceira classe") em um de superioridade, não diferentemente da estratégia de inverter o mapa do mundo, para que o sul, contendo a maior parte das nações em desenvolvimento (o então chamado terceiro mundo) fosse observado por cima do norte - América do Norte e Europa. Uma nova tradução foi feita por Julianne Burton e Michael Chanan, em 1983, como "Rumo ao Terceiro Cinema: Notas e Experiências para o Desenvolvimento de um Cinema de Libertação no Terceiro Mundo", e republicações tem ocorrido tão recentes quanto em 1997. Acrescente-se que, em um livro que co-editou em 2003, Rethinking Third Cinema, Anthony R. Guneratne argumenta que não é mais necessário  sequer considerar quando se pensa a maioria dos filmes do mundo, que são hoje realizados fora dos Estados Unidos e da Europa. Talvez o "terceiro cinema" seja o modo hoje dominante. Ver também BIRRI, FERNANDO; BOLÍVIA; CENTRO DE CINE EXPERIMENTAL; CHILE; CINEMA NOVO; CINEMATECA DO TERCEIRO MUNDO; DOCUMENTÁRIO; ESCOLA DOCUMENTAL DE SANTA FÉ; FESTIVAL INTERNACIONAL DO NOVO CINEMA LATINO-AMERICANO; FUNDAÇÃO DO NOVO CINEMA LATINO-AMERICANO; GLEYZER, RAYMUNDO; GRUPO CINE LIBERACIÓN; GUZMÁN, PATRÍCIO; HANDLER, MARIO; LITTÍN, MIGUEL; NUEVO CINE E NUEVO CINE LATINO-AMERICANO; RODRÍGUEZ, MARTA; SANJINÉS, JORGE; URUGUAI. 

Texto: RIST, Peter H. Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, pp. 554-55. 

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