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Filme do Dia: Cidade Vazia (2015), Cristiano Burlan

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  C idade Vazia (Brasil, 2015). Direção: Cristiano Burlan. Imagens de São Paulo em p&b, seja em fotos fixas ou imagens em movimento. Ressalta-se trechos de sua área central e alguns ícones como a catedral e, sobretudo, a Estação da Luz. Ao final uma queima de fogos na banda sonora aparentemente se confunde com ruídos de armas disparando e a alegria dos que celebram o ano-novo se confunde com os gritos de terror. Bela Filmes. 7 minutos e 30 segundos.

Cristiano Burlan, um relato de vida – 5

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JC – Como sua mãe foi para Uberlândia? CB – Morávamos no Capão Redondo, meu pai batia muito nela, bebia, mal sustentava a casa. Tinha um borracheiro em frente, onde eu fazia bicos. Fiquei amigo dele. Ele tinha um parente em Uberlândia. Ele e minha mãe começaram a ter um caso e ela fugiu com ele, me avisou, eu nunca julguei minha mãe por isso, ele a tratava muito bem e ela acabou indo para Uberlândia. Bom, meu pai foi e voltou a casar com ela. Ele morreu em Uberlândia, está enterrado lá. [...]. Um dia recebo uma ligação de minha irmã, minha mãe tinha um namorado, uma pessoa estranha. Em 2010 passei o Natal com ela. Voltei, fiz o Sinfonia [ de um homem só ]. Uma semana depois de terminar o filme, minha irmã me liga dizendo que ela foi assassinada pelo namorado, um homem soturno, ciumento. Ele a enforcou com um fio. Minha grande crise agora é se eu faço um filme sobre isso ou não. E a coisa mais sinistra é que talvez eu faça e com dinheiro púbico ainda, pela 1ª vez. Fic

Cristiano Burlan, um relato de vida – 4

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JC – O que ele faz? CB – Ele estudou jornalismo. Ele não tinha o 2º grau completo, comprou o diploma para fazer o vestibular. Ele se formou, com louvor até. Trabalhou em São Paulo e agora ele voltou para a Paraíba, Campina Grande. A família dele é de lá e de Pernambuco. Casou e leva uma vida aparentemente tranquila mas é uma pessoa transtornada por tudo o que passou, assim como eu. [...] É um grande amigo, sempre me coloca num lugar que não deixa cair no conforto, como essa agora de ganhar o prêmio ... JC – Vocês comentaram o sucesso do filme? CB – Eu o levei pro Rio, o É tudo verdade colocou a gente num lugar confortável. Ele saiu à noite, às 4 da manhã o porteiro avisa: seu amigo tá aqui com 4 putas e um traficante, querendo subir. Desci e resolvi. Ele subiu, falou: 2º não me dê lição de moral que lhe conheço muito bem; 2º se não fosse minha entrevista o seu longa que ganhou o prêmio seria um curta. Aí eu me calei! Eu sei que ele poderia fazer qualquer coisa e

Cristiano Burlan, um relato de vida – 3

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JC – Você chegou a essa situação? CB – Cheguei, me senti um lixo. Outra vez, foi quando agredi um garoto na escola, ele quebrou o nariz, saiu sangue, isso me machucou muito. Outra vez, ver uma pessoa congelada, apavorada, quando você aponta a arma para ela. Eu acho que é um clic, você tem medo de matar alguém, você não tem coragem e de repente você mata e isso vira um hábito. JC – Essas ações ocorriam onde? CB – Itaim, boutique, padaria, essas coisas. Várias vezes eu quase morri, isso para não dizer que vi o Diabo três vezes na minha frente e mandei um dedão pra ele. Mas eu não tenho orgulho disso, eu queria não ter passado por essas histórias. É tão pesado, tão trágico e dolorido o que aconteceu comigo, com minha família e com meus amigos, que para mim parece que é uma ficção, barata até, muito inventada. Se eu fizesse um documentário contando minha história realmente, as pessoas iam achar que sou louco, que parece um romance. JC – Dá um exemplo. CB – Esse exe

Cristiano Burlan, um relato de vida – 2

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JC – Volte ao Capão, essa história da escola, como foi? CB – Primeiro que as escolas na periferia têm sempre muitas grades e portões, quando você entra, as portas vão se fechando atrás de você. Quando pela primeira vez eu fui visitar meu irmão numa cadeia em São Paulo, eu tive a mesma sensação que tinha quando entrava na escola. Uma escola na periferia é sempre cinza, concreto, não tem cor nenhuma e parece que você está entrando numa cadeia. Não tem biblioteca nas escolas públicas, sempre tem alguns livros ali, restos que chegam, pelo menos na minha época, hoje não sei. Os professores iam ensinar meio forçados e não tinham interesse pelos alunos. Os alunos também não tinham interesse pelos professores. Assim pouca gente consegue se interessar pelos estudos. Muito cedo comecei a me interessar por literatura, música, teatro, cinema, por cinema principalmente, aí comecei a atravessar o rio para ir a Santo Amaro. JC – Isso revela que você tem energia, isso não vem do seu

Cristiano Burlan, um relato de vida – 1

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Entrevista realizada dia 30/01/14 na minha casa. Moro no Copan. Uma primeira tentativa feita na véspera não tinha funcionado por motivos ténicos. JC – Continuemos, a pergunta inicial é essa , você nasceu, onde, em que família? CB - Nasci em Porto Alegre em 1975, dia 21 de agosto, numa família de proletários da zona norte num bairro chamado Sarandi. Sou primogênito de uma família de 5 filhos, meu pai se chamava Vânio e minha mãe Isabel. Meu pai já faleceu e minha mãe também e um dos meus irmãos, Rafael, também morreu. Agora de uma família de sete somos em 4. JC – Como era a vida em Porto Alegre? CB - Sempre foi dura. Minha mãe era empregada doméstica e meu pai pedreiro, fazia serviços gerais. Muito cedo foi vitimado pelo alcoolismo e isso o tornou uma pessoa violenta e dura. JC – Ele batia na sua mãe? CB - É, um pouco sim, bastante na verdade. Mas ela reagia, porque ele era menor que ela, ele era baixinho e ela, uma mulher alta, então a porrada comia solta, de

Cristiano Burlan, os dois olhares – 2

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Esta segunda entrevista com Cristiano Burlan foi feita em 9.5.2014. O ator Henrique Zanoni estava presente. A primeira entrevista foi postada nesse blog em 20.2.2014. JC – Vamos retomar os dois olhares de que você falou na entrevista anterior? CB – Os dois olhares? Não me lembro. JC – Estranho você não se lembrar, eu achei marcante. É o seguinte: um olhar do lado de cá e um olhar do lado de lá do rio. CB – Lembro. JC – O que são esses dois olhares? CB – Mesmo tendo consciência de ter passado por esses dois olhares, o meu olhar agora é sempre o olhar de fora. JC – Ah bom! CB – Por mais que eu tenha nascido no Capão Redondo e tenha consciência, hoje a perspectiva é diferente. Eu não consigo me colocar na perspectiva do outro. JC – Quem é o outro agora? CB – O que mora do outro lado do rio. JC – No Capão Redondo? CB – Aquele que é explorado pela minha câmera e de outras pessoas, aquele que é objeto de estudo. Por mais que eu tente, nunca vou conseguir