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Mostrando postagens com o rótulo Luiz Zanin Oricchio

Do Blog do Zanin 7: Ecos do Leão

VENEZA – A reação ao Leão de Ouro concedido ao filme sueco A Pigeon Sat on a Branch Reflecting on Existence foi tépida. Os grandes jornais, como Corriere della Sera e La Repubblica, deram a notícia de forma objetiva, da mesma forma que o local Gazzettino di Venezia. Nenhuma contestação, mas nenhuma euforia. Apenas um registro curioso – foi a primeira vez que um sueco levou o Leão de Ouro, o prêmio cobiçado do mais antigo festival de cinema do mundo. Nem Bergman tinha esse troféu. Todos também registraram a fala de agradecimento do diretor Roy Andersson, afirmando que, se não fossem Vittorio de Sica e seu clássico Ladrões de Bicicleta, ele não teria se tornado cineasta. “É minha fonte permanente de inspiração”, disse Andersson, em afirmação surpreendente, dada a diferença radical entre o seu filme e esse clássico do neorrealismo realizado em 1948, no duro após-guerra europeu.  Bem, há que pesar declarações. Se as linguagens cinematográficas parecem muito diversas, a matriz humanist

Do Blog do Zanin 6: Filme pernambucano A História da Eternidade vence o Festival de Paulínia 2014

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Não teve para ninguém e o pernambucano A História da Eternidade foi o grande vencedor do Festival de Paulinia. Ganhou os troféus (Menina de Ouro) de melhor filme, diretor (Camilo Cavalcante), ator (Irandhir Santos) e atriz (dividido entre Marcelia Cartaxo, Zezita Matos e Debora Ingrid), além do prêmio da crítica. O segundo melhor colocado foi o carioca Casa Grande, de Fellipe Barbosa, com roteiro, ator coadjuvante (Marcelo Novais), atriz coadjuvante (Clarissa Pinheiro) e Prêmio Especial do Júri. O curta O Clube, de Allan Ribeiro, conseguiu uma rara proeza: levou a tríplice coroa, isto é, recebeu os prêmios de melhor filme do júri oficial, do público e da crítica. Premiação à parte, cabem algumas palavras sobre o festival. A boa qualidade dos longas-metragens foi a característica mais marcante desta 6ª edição do Festival de Paulínia. Dos nove selecionados para a mostra competitiva, pelo menos oito vão do bom ao ótimo. Apenas um destoa, o documentário local Neblina

Do Blog do Zanin 5 - A Copa e o revolucionário

  http://www.dailymotion.com/video/x20l9ev_le-mondial-de-cohn-bendit-15_sport Daniel Cohn-Bendit, o Dany le Rouge das passeatas de maio de 1968 em Paris, depois deputado pelo Partido Verde e membro do Parlamento Europeu, está no Brasil. Cobrindo a Copa. Cohn-Bendit percorre o país, a bordo de um trailer meio precário, que ele mesmo dirige, e envia seus comentários filmados ao jornal Libération, de Paris. São filmetes de dois a três minutos, flagrando aspectos do país da Copa do Mundo, que em geral passam despercebidos aos correspondentes estrangeiros. Por exemplo, num dos programas, Dany foi a Ribeirão Preto, ao bar onde o Dr. Sócrates costumava beber. Fala longamente de Sócrates, como de um irmão libertário, e relembra a participação do jogador na Democracia Corintiana e na campanha pelas Diretas-Já. No final, ergue um brinde ao jogador, morto em 2012: “À la tienne, Socrates!”. Da mesma forma, em outro filmete, encontra-se com o igualmente rebelde Afonsinho, que hoje

Do Blog do Zanin 4: QUE ESTRANHO CHAMAR-SE FEDERICO – SCOLA CONTA FELLINI/RIOCORRENTE

QUE ESTRANHO CHAMAR-SE FEDERICO – SCOLA CONTA FELLINI [Che Strano Chiamarsi Federico! - Scola Racconta Fellini, Itália, 2012], de Ettore Scola . Imovision. Aqui temos o grande Ettore Scola prestando homenagem ao amigo Federico nos 20 anos do seu desaparecimento. Usando de técnica ficcional, Scola retraça a vida de Federico Fellini desde quando este se muda de Rimini para Roma e se inicia no jornalismo satírico até quando começa a rodar seus primeiros filmes. É obra de intimidade mútua, de quem foi amigo, colega e admirador de um dos maiores cineastas de todos os tempos, autor de obras-primas como A Doce Vida e Oito e Meio. No final, Scola inventa um desfecho diferente para o velório do amigo, realizado em Cinecittà, no estúdio em que ele gostava de trabalhar. Assisti ao filme em Veneza, durante o festival, e houve quase uma enxurrada de lágrimas no interior da sala lotada. Choradeira amplamente justificada, apesar de Scola dizer que era uma simples homenagem e não havia

Do Blog do Zanin 3: Livro relembra polêmicas de Paulo Emílio Sales Gomes

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Um Paulo Emílio Sales Gomes mais exposto e incisivo em suas opiniões no que nos textos que escrevia regularmente em jornais e publicações acadêmicas. É o que traz o livro da série (Azougue Editorial, R$ 29,90), contendo as entrevistas do nosso maior crítico de cinema, agitador cultural, professor e fundador da Cinemateca Brasileira concedidas a diferentes veículos de imprensa. O organizador do livro, Adilson Mendes, revela-se fiel discípulo de Paulo Emílio morto em 1977. E, na entrevista concedida ao  Estado , Adilson, que é doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e trabalhou por dez anos como pesquisador na Cinemateca, abre com críticas à situação difícil pela qual atravessa a casa fundada por Paulo Emílio. O livro será lançado dia 31, na Casa Guilherme de Almeida. Reprodução Paulo Emílio defendia seus ideias com fervor A Cinemateca Brasileira, instituição sediada em São Paulo, mas de âmbito nacional, teve um desenvolvimento inédito durante a última década. O que f

Do Blog do Zanin 2: 50 Anos Esta Noite

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Onde você estava naquela madrugada de 1° de abril de 1964, quando, 50 anos atrás, um golpe de Estado jogava o Brasil numa ditadura que durou 21 anos, segundo a cronologia mais aceita? Cerca de 70% dos brasileiros não podem responder a essa pergunta pela simples e boa razão que não eram nascidos naquela data. Outros tantos, imagino, eram pequenos demais para ter consciência do que estava ocorrendo. Portanto hoje, 50 anos após o golpe, apenas uma minoria da população o viu acontecer, pelo menos desde seu início. São testemunhas da história. Um número maior sofreu seus efeitos. Afinal, a ditadura durou muito tempo e atravessou gerações de brasileiros. Quem a viveu, no todo ou em parte, não a esquece. Tivemos nossa vida dividida pela metade, cortada, atravessada por essa fratura histórica do período autoritário. Quem não viu de perto, se informe por livros e filmes. Ou conversando e ouvindo quem viveu. Afinal, a consciência da história é uma necessidade humana, tenhamos testemunha