Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#108: Chile
Chile. Uma das regiões mais pobres da América do Sul, durante sua luta por independência nos primórdios do século XIX, repentinamente se tornou uma dos mais ricas, com a descoberta de prata no norte (1832), depois cobre, e após o Chile derrotar a Bolívia e o Peru na Guerra do Pacífico (1879-1882), adquirindo ricas minas de nitrato. No entanto, os interesses coloniais, particularmente do capital britânico, controlaram a exploração mineral chilena no final do século XIX. No século XX o trabalho mobilizado contra as forças da elite, e os interesses comerciais estadunidenses ganharam posição segura. O Chile permanece um país rico em mnierais e foi classificado pelo Relatório Competitivo Global como o trigésimo país mais competitivo do mundo em 2009-2010, muito acima do Brasil (56º), ainda que o país tenha sido continuamente atormentado por suas divisões políticas e ainda sofra de desigualdade econômica e alto nível de desemprego. Por vezes o cinema chileno prosperou. Nos anos 20, a produção de longas silenciosos chilenos foi a mais alta da América do Sul, com 15 filmes sendo produzidos em 1925 e 11 em 1926. Começando com os cineclubes nos anos 50, e ao longo dos anos da Unidade Popular, até o brutal golpe militar de 1973, o cinema chileno esteve na vanguarda esquerdista e do experimenalismo formal do Novo Cinema Latino Americano. Agora, nos primeiros doze anos anos do século XXI, a produção de longas chilenos finalmente excedeu os níveis de 10 a 12 filmes por ano de sua era dourada silenciosa.
Como na maior parte do mundo, o cinema foi trazido pelo público chileno pelos franceses Irmãos Lumière que apresentaram alguns de seus filmes no Cinematográfo, em Santiago do Chile, em 25 de agosto de 1896. O primeiro filme chileno, realizado por Edmundo Urrutia, foi uma vista de três minutos de parada dos bombeiros de Valparaíso. Un Ejército General de Bombas (1902). Quase toda a produção nos anos iniciais do século foi documental, apesar da figura histórica de Manuel Rodríguez, que liderou as forças revolucionárias contra a Espanha nos anos 1810, ter sido tema de um filme ficcional, Manuel Rodríguez, tido como o primeiro longa do cinema chileno. Imigrantes italianos estavam entre os primeiros realizadores chilenos, incluindo Andrés Bartolotti e Salvador Giambastiani, que focaram em temas sociais - La Agonia del Arauco (1917) - e foi o primeiro realizador local a por as faces dos mineiros nas telas, com Recuerdos del Mineral el Teniente (*) (1919). Com sua esposa, Gabriela von Bussenius, Giambastiani estabeleceu o primeiro estúdio de cinema chileno, em Santiago, e a Companhia Cinematográfica Chile, com dois atores argentinos, Arturo Mario e María Padín, também realizou filmes mudos no Chile, mas o mais celebrado dos realizadores chilenos silenciosos, Pedro Sienna, nasceu lá. O filme considerado o melhor dos de 1925, El Húsar de la Muerte, foi dirigido por Sienna e milagrosamente sobreviveu.
Com a chegada do som, o cinema chileno virtualmente desapareceu. Jorge Délano, que havia realizado filmes mudos, foi enviado por Carlso Ibañez del Campo (um coronel empossado como ditador em um golpe sem sangue, em 1927) aos Estados Unidos para aprender sobre a tecnologia envolvida com o som. Ele retornou a um país em tumulto político - uma república socialista durou somente 13 dias, seguida por uma ditadura de 100 dias, em 1932 - e foi um golpe extremamente duro a recessão mundial. O primeiro longa sonoro de Délano, Norte y Sul (1934) foi um dos únicos seis realizados antes de 1940. A eleição do primeiro governo da Frente Popular, em 1938, marcou uma breve virada para o cinema chileno. Dois filmes dirigidos pelo nascido na Itália Eugenio de Ligouro, ambos ambientados no campo, incluíam Entre Gallos y Medianoche (Entre o Cachorro e o Lobo, 1939), que inaugurou o gênero costumbrista. O novo governo criou a Corporación de Fomento a la Produccion (CORFO), para proporcionar apoio estatal aos realizadores e fundou a agência de cinema Chile Films, não somente para encorajar a produção de cinema local, mas também criar mercados exportadores para os filmes chilenos. Délano dirigiu dois filmes nos primórdios dos anos 40, Escándalo (1940) e La Chica del Crillón (1941), e o veterano realizador do cinema mudo nascido na Alemanha, José Bohr, retornou do México para dirigir filmes, incluindo Si Mis Campos Hablaran (1947), que eventualmente entraria na competição de Cannes, em 1954.
Uma série de diretores de cinema estrangeiros, incluindo alguns da Argentina - Luis Moglia Barth (Romance de Medio Siglo, 1944), Carlos Schlieper (La Casa Está Vacía, 1945), e Carlos Hugo Christensen (La Dama de la Muerte, 1946), juntamente com Jacques Rémy, da França (La Fruta Mordida, 1945), foram convidados pela Chile Films, para fazerem filmes em seus estúdios, mas a experiência não funcionou, e a Chile Films cessou de produzir em 1949. Talvez a mais notável faceta desta primeira fase da Chile Films tenha sido a emergência da atriz Ana González, que realizou sua estreia em Entre Gallos y Medianoche. Ela então apareceu em P'al otro Lado seguido por papéis principais nos filmes do mesmo diretor, El Relegado de Pichintún (1943) e Dos Caídos de la Luna (1945), de del Liguoro e o papel-título em La Dama de las Camelias (1947), de Bohr. González, "la Desideria", para seus fãs e colegas, foi também uma famosa atriz de rádio e teatro, e em 1969 receberia o Prêmio Nacional das Artes do Chile. Retornou como intérprete de telenovelas do Canal 13 chileno e interpretou o papel principal numa série cômica para a TV de 1991, Villa Nápoli, já em seus setenta. Morreu em 2008.
De 1941 a 1950, 49 longas foram realizados no Chile (12 dos quais foram dirgidos por José Bohr), mas as plateias por fim cansadas de apoiarem suas cópias locais de melodramas e comédias estrangeiras (mexicanas, argentinas e hollywoodianas) e após o colapso da Chile Films, a produção de longas-metragens decaiu para somente um por ano ao longo dos anos 50. A reemergência do cinema chileno ocorreu com a formação do cineclube da Universidad do Chile, em 1958 e depois a abertura do Instituto de Cinema da Universidade Católica do Chile em Santiago. O Departamento de Comunicação da Universidade do Chile foi fundado em 1960, que incluia o Centro de Cine Experimental, sobre a direção de Sergio Bravo. Em 1962, Aldo Francia fundou o cineclube de Viña del Mal, o que levou a fundação de um importante festival de cinema, o Festival Internacional de Cine de Viña del Mar.
Na política, o Chile continou a se mover à esquerda, com os Democratas Cristãos, eleitos em 1964, promulgando reformas sociais, incluindo a sindicalização dos trabalhadores rurais. Quando a televisão chegou ao Chile, nos primórdios dos anos 60, profissionais de esquerda foram contratados. Em todos os setores, o documentário social se tornou o principal modo de cinema, e a influência do neorrealismo italiano do pós-Segunda Guerra foi dominante. O radical documentarista holandês Joris Ivens visitou o Chile em 1962 para realizar um filme, ...A Valparaíso, que teve um grande efeito sobre a comunidade cinematográfica chilena. Bravo e Francia foram os primeiros a realizarem curtas documentais relevantes, incluindo La Marcha del Carbon (1963), do primeiro, contestando a versão oficial da greve do governo de Jorge Alessandri (1958-64) e La Escalera (1963), do último. Em 1964, Helvio Soto dirigiu seu primeiro curta, Yo Tenía un Camarada, e Miguel Líttin seguiu-o em 1965 com Por la Tierra Ajena.
No Encontro de Realizadores Latino-Americanos no primeiro festival de Viña del Mal, de 1967, uma série de realizadores chilenos recebeu "menções honrosas": Pedro Chaskel e Héctor Rios por Érase una Vez (1967), um filme de animação; Patricio Guzmán por Electroshow (1965); e Jorge di Lauro por Andacollo. Desvinculados desta experiência cinco diretores chilenos começaram seus primeiros projetos de longas em 1968-1969: Raúl Ruiz, Tres Tristes Tigres (1968); Soto, Caliche Sangriento (1969); Francia, Valparaíso Mi Amor (1970); Littin, El Chacal de Nahueltoro (1970); e Carlos Elsesser, Los Testigos. Eles tiveram que virtualmente "ficar na fila", enquanto esperavam para fazer uso da única câmera de 35 mm disponível. O governo de Eduardo Frei reestabeleceu a Chile Films, em 1967, e criou o Conselho de Fomento à Indústria Cinematográfica, com o imposto nos lucros do cinema para apoiar a produção e distribuição de filmes, mas na prática isto não ajudou este grupo de realizadores. No entanto, um apoiador de Frei, German Becker, obteve um grande sucesso de bilheteria com um longa que o estado apoiou, Ajúdame Usted, Compadre, um melodrama folclórico, nacionalista e convencional, bastante diferente do novo cinema que emergia no país. O mais formalmente experimental dos três longas, Tres Tristes Tigres, que foi visto por somente 30 mil pessoas, mas o filme de Líttin, que era ao mesmo tempo depressivo e desafiador, foi visto por meio milhão de espectadores, uma estatística bastante surpreendente. Lançado durante o movimento das eleições federais de 1970, El Chacal, como outros filmes novos, beneficiou-se da euforia política e cultural da esquerda.
Em 1970, nas eleições presidenciais chilenas, Salvador Allende Gossens, um marxista, celebremente venceu, com 36% dos votos endereçados a coalizão Unidad Popular. No segundo turno, contra a direita do presidente Jorge Alessandri (1958-64). Ainda que o governo controlasse a Chile Films, e a figura simpática de Líttin tenha sido o encarregado de suas operações, encontraram os velhos estúdios em estado inadministrável, com equipamentos de filmagem decrépitos e um laboratório com equipamento enferrujado. Foi uma época importante da Chile Films para a realização de documentários e curtas, montagem, desenvolvimento e facilidades de dublagem, e técnicos tornando-se disponíveis. Littín iniciou várias oficinas de cinema, embora nenhum longa tenha sido feito. Alguns sentiram que Littín era demasiado obviamente de esquerda para trazer equilíbrio como gerente principal da Chile Films, enquanto outros pensavam ele não ser um bom administrador. Em todo o caso, Littín renunciou, e foi substituído por Leonardo Navarro, que por sua vez foi substtuído por Eduardo Paredes, antes do fim da Unidade Popular, em 1973. Ainda que a distribuição de filmes (sobretudo de Hollywood) tenha declinado durante o governo Allende, os royalties (ou impostos) continuaram a ser pagos ao Banco Central do Chile. A despeito de turbulento de diversas maneiras, o período da Unidad Popular foi bastante ativo para os filmes chilenos, com 15 longas e mais de 35 curtas realizados. A produção se dividiu entre o setor privado, o Cine Experimental na Universidade do Chile e a Chile Films. Ruiz foi responsável por dirigir 10 dos 50 filmes, dentre eles um importante longa ficcional, La Colonia Penal e dois longas analisando a Unidad Popular, La Expropriación (1971-72) e El Realismo Socialista (1973), Soto também dirigiu três longas, e Littín realizou seu filme mais ambicioso do período, o longa épico e expeirmental em tela panorâmica, La Tierra Prometida (A Terra Prometida, 1973), que revisitou os esforços politicos do passado na comemoração do presente socialista. Também notável foram as filmagens empreendidas por Patricio Guzmán e a Equipe Tercer Año, sobre a situação que resultou no golpe, eventualmente tornando-se La Batalla de Chile: La Lucha de un Pueblo sín Armas (1974-79).
11 de setembro de 1973 foi uma das datas mais memoráveis na história sul-americana, quando as forças dos militres chilenos derrubaram o governo de Allende, e o general Augusto Pinochet se instalou como líder da junta militar. O que se seguiu foi o pior período na história chilena, com as liberdades civis abolidas, as atvidades sindicais banidas, e as reformas agrária e econômica de Allende revertidas. Pior que isso, entre 1973 e 1990, entre 1.200 e 3.200 chilenos foram executados ou "desapareceram" e mais de 25 mil foram presos ou torturados. Dentre os desaparecidos estão Jorge Müller, o diretor de fotografia em La Batalla de Chile, e sua companheira, a atriz Carmen Bueno, enquanto outros trabalhadores vinculados ao cinema, incluindo Guzmán, seu técnico de som, Bernardo Menz, e outro membro da equipe, Federico Elton, foram presos. Porém muitos vinculados ao cinema chileno, incluindo Littín, Ruiz, Soto, Rios, Chaskel, e três dos acima mencionados membros da Equipe Tercer Cine, partiram para o exílio (ver REALIZADORES CHILENOS NO EXÍLIO). Um dos últimos filmes a ser realizados no Chile antes do golpe foi o documentário de duas horas Descomedidos y Chascones, um inquérito sobre a consciência política da juventude chilena, dirigido por Carlos Flores para o Cine Experimental. Um dos primeiros atos exectuados pela junta militar foi fechar o centro de cinema Cine Experimental da Universidad de Chile, seguidos pela apropriação da Chile Films. O General Cabrera foi posto no comando, e muitos filmes considerados subversvos incendiados. As tentativas prévias de libertar o cinema chileno dos controles e restrições estrangeiras de um pequeno mercado nacional foram exterminados pela junta miliar com política econômicas da escola de Chicago. A Chile Films seria vendida, e a distribuição de filmes reverteu, em sua maior parte, ao controle norte-americano. As escolas de cinema foram fechadas e "conteúdos políticos e sociais" proibidos. A única tentativa de um longa metragem oficialmente sancionado foi Los Mil Dias, de Germán Becker, uma exposição sobre a Unidad Popular, que foi abandonado em 1975.
Nos primeiros sete anos e meio do golpe, apenas 15 filmes foram realizados dentro do Chile, enquanto mais de 90 filmes foram realizados por chilenos no exílio. O único realizador de longas ficcionais no Chile durante o período foi Silvio Caiozzi, que realizou o não lançado La Sombra del Sol (1974, co-dirigido com Pablo Perelman), e Julio Comienza in Julio (1976), que seria eventualmente lançado em 1979. Havia, no entanto, uma grande disposição de realizar filmes, e o vídeo serviu como canal. Em 1982 uma sala de exibição de vídeo foi aberta em um cinema de Santiago, e os realizadores Carlos Flores e Guillermo Cahn realizaram uma série de videotapes de escritores chilenos, e em setembro o Primeiro Festival Nacional de Vídeo Amador foi realizado, atraindo 120 inscrições. Também notável em 1982 foi a exibição do longa do realizador veterano Sergio Bravo, No Eran Nadie, sobre uma vítima desaparecida do golpe, exibido no Festival de Cannes, filmado no Chile, mas finalizado em Paris. O mesmo festival deu a Constantin Costa-Gavras e sua chocante narrativa de um jovem americano "desaparecido", Missing (Desaparecido), a Palma de Ouro. Durante a primeira metade da década, cerca de 200 longas foram lançados no Chile a cada ano, dos quais cerca de 70% eram dos Estados Unidos, e a maior parte do restante da Europa. Muitos poucos filmes de países latino-americanos foram exibidos.
No restante da década a produção de longas no Chile foi, na melhor das hipóteses, esporádica. Caiozzi iniciou seu longa seguinte, La Luna en el Espejo (A Lua no Espelho), em 1985, mas não seria finalizado antes do final da ditadura militar, em 1990. Gonzalo Justiniano foi uma figura de liderança na nova geração de realizadores chilenos que havia treinado no estrangeiro e que, frustrada pela ausência de oportunidade de fazer filmes "reais", trabalhou em comerciais. Ele conseguiu realizar três longas entre 1985 e 1990, começando com o primeiro Hijos de la Guerra Fría (Os Filhos da Guerra Fria), que adoçou comicamente sua depressiva visão da cumplicidade da classe média com o governo Pinochet e a quebra da economia chilena após um ilusório boom. O filme seguinte de Justiniano, Sussi (1987), foi um grande sucesso comercial, conquistando o número 6 na lista das maiores bilheterias do ano. Mais o filme mais significativo realizado no período foi Imagen Latente (1987), o primeiro filme claramente crítico do regime Pinochet a ser feito abertamente no Chile. Não surpreendentemente sua exibição pública foi banida no Chile, mas seu sucesso internacional nos festivais de cinema possibilitou que fosse lançado logo após o novo governo civil ser eleito em 1990.
Em um referendo nacional, em 5 de outubro de 1988, foi negado a Pinochet um novo mandato de oito anos como presidente. O democrata-cristão Patricio Alwyn foi democraticamente eleito através de uma coalizão de 17 partidos, em 14 de dezembro de 1989. As mudanças na indústria cinematográfica foram muito lentas, mas realizadores exilados tais como Raúl Ruiz e Miguel Littín visitaram o Chile em 1989. O diretor-roteirista Antonio Skármeta retornou da Alemanha para filmar um documentário para a televisão alemã, e Valéria Sarmiento filmou Amélia Lopes O'Neill, uma co-produção europeia, em Santiago. Em 1990, o público de cinema continou a decair, mas significativamente o festival de Viña del Mar voltou a ser revivido, com uma grande retrospectiva dos filmes chilenos entre 1975 e 1990, muitos dos quais haviam sido feitos no exílio. Durante o regime de Pinochet cerca de 50 longas ficcionais e 100 documentários haviam sido feitos por chilenos exilados em Cuba, Canadá, França, Alemanha, México, Estados Unidos, Suécia, e muitos outros países. O festival proporcionou as boas vindas para muitos, incluindo Littín, Ruiz e outras figuras, tais como Sebastián Alarcón, que havia filmado sete películas na União Soviética, três dos quais foram exibidas em Viña del Mar. La Frontera , de Ricardo Larraín, foi lançado em 1991. E obteve mais sucesso nas bilheterias que qualquer filme chileno em duas décadas (187 mil espectadores somente em Santiago) e iria vencer o Urso de Prata de melhor primeiro filme no Festival de Berlim, em 1992. Também em 1992, Ruiz finalmente obteve um sucesso local, com um filme que havia realizado em 1973, Palomita Blanca. Mas a grande notícia do ano foi a fundação de um Cine Chile por 28 diretores e produtores locais, cada um dos quais investindo dez mil dólares. O governo chileno cedeu a Cine Chile 2 milhões e 800 mil dólares de empréstimo do Banco de Estado para apoiar novos projetos, com empréstimo de mais de 70% de seus custos.
A produção de cinema chilena subiu para três longas em 1993, incluindo o bem sucedido Johnny Cien Pesos, dirigido por Gustaf Graef-Marino. Dois destes foram apoiados por Cine Chile, assim como quatro dos filmes realizados em 1994. Mas somente com um sucesso, Amnesia, de Justiniano, o crédito do Banco de Estado foi cancelado, deixando dois outros realizadores, Tatiana Gaviola e Patricio Kaulen, encalhados no meio das produções. Após a Televisión Nacional (TVN) ter obtido sucesso com a exibição de filmes chilenos no horário nobre, ela começou a co-financiar longas, incluindo Mi Último Hombre. Apesar do público de cinema continuar a decair nos anos 90, três cadeias internacionais de cinema, incluindo a Cinemart, baseada em Dallas, trabalhando em conjunto com a rede de exibição chilena Conate, construíram novos multiplex, dobrando o número de telas de cinema chilenas em menos de um ano. Somente em Santiago, havia 45 telas no início de 1997 e em maio de 98 eram 97, incluindo cinco salas de arte. Em 1998, de forma espetacular, houve um aumento de 50% dos espectadores chilenos. Titanic foi a grande atração, mas a cadeia de cinemas australiana Hoyts abriu um multiplex de 16 telas em maio de 1999, e o número de telas de Santiago atingindo 150.
De fato, 1999 foi um ano marcante para o cinema chileno, com El Chacotero Sentimental (The Sentimental Teaser), dirigido por Christián Galaz, tornando-se o mais bem sucedido filme doméstico da história, com 790 mil espectadores, sendo o segundo maior sucesso de bilheteria de todos os tempos, atrás somente do 1 milhão de espectadores de Titanic. Baseado em um popular programa de entrevistas de rádio de mesmo nome, El Chacotero Sentimental tece três histórias de amor e sexo e é tanto cômico quanto dramático. O total de admissões aos cinemas em 1999 chegou a 13 milhões, dos quais impressionantes 14% foram para filmes latino-americanos e europeus. Por fim, ao final da década, o problema do apoio financeiro à produção de cinema chilena foi facilitada por várias agências governamentais a promoverem a produção doméstica.
Em 2002, uma nova classificação de cinema foi introduzida no Chile que tomou o lugar das leis estritas de censura, sobre as quais mais de mil filmes haviam sido banidos, mais notoriamente, The Last Temptation of Christ (A Última Tentação de Cristo), de Martin Scorsese, que foi finalmente lançado em 2003. Também em 2003, um novo campeão de bilheterias chileno foi coroado quando Sexo con Amor (Sexo com Amor), de Boris Quercia superou o recorde de El Chacotero Sentimental, com público de 990 mil espectadores, claramente liderando a bilheteria chilena. Notavelmente, outra realização local, Sub Terra, um primeiro longa do diretor Marcelo Ferrara, baseado em um romance de Baldomero Lilo e lidando com as minas de carvão chilenas do início do século XX, ficou em sexto lugar, com mais de 470 mil entradas. Em última análise, os filmes domésticos colheram 15% das bilheterias chilenas em 2003, o que é um feito notável. Os filmes chilenos também tem feito bom papel nos festivais internacionais. Taxi para tres (Um Táxi para Três), de Orlando Lübbert, recebeu o prêmio principal, a Concha Dourada, do Festival de San Sebastián, em 2001; B-Happy, de Justiniano, ganhou dez prêmios, incluindo melhor filme, na Mostra Fórum, do Festival de Berlim, em 2004; e Machuca (2004), dirigido por Andrés Wood, venceu prêmios em diversos festivais, e tornou-se a submissão para o Oscar de Língua Estrangeira (também emplacou o quarto lugar nas bilheterias chilenas). O primeiro filme de Alicia Scherson, Play, que teve a distinção de ser o primeiro filme chileno em alta definição digital, venceu o prêmio principal do Festival de Tribeca (Nova York) e se tornou a submissão ao Oscar do Chile em 2006.
A produção de longas chilenos agora excede em muito a de dez produções anuais; em 2008 se atingiu um recorde, com 22 filmes chilenos lançados localmente. Após o sucesso de Machuca, os realizadores locais se mostraram muito mais disponíveis a retornarem aos anos sujos da ditadura de Pinochet. Tony Manero (2008), de Pablo Larraín, que estreou na Quinzena dos Realizadores de Cannes (e foi a submissão chilena aos prêmios da Academia de 2009), é talvez o melhor exemplo, embora Dawson, Isla 10 (Dawson, Ilha 10), de Migue Littín, a submissão do país em 2010, e o documentário El Diario de Agustín (2009), contestam o regime de Pinochet muito mais diretamente. No entanto, o maior sucesso do cinema chileno de 2009, La Nana (A Criada), de Sebastián Silva, é político somente no sentido que ilustra as diferenças de classe em uma rica família, embora cômica e dramaticamente revele as dificuldades da empregada. O filme venceu mais de vinte prêmios, incluindo mais de dez para a atriz que interpreta a empregada, Catalina Saavedra.
Em 2010, um novo presidente de centro-direita, Sebastián Piñera, foi eleito, e quase imediatamente a cena cinematográfica do país mudou, com os estúdios americanos sendo convidados a investir no cinema chileno. Neste mesmo ano houve um imenso terremoto, que atrasou muitas produções, mas há também histórias de boas notícias dos 33 mineiros que ficaram presos a 700 metros abaixo do solo, sobre os quais dois filmes ficcionais foram realizados, o esforço sensacionalista 03:34, Terremoto en Chile (2011), de Juan Pablo Ternecier e o mais reflexivo (e mais bem recebido pela crítica), El Año del Tigre (2011), dirigido por Sebastián Lelio, que venceu um prêmio no Festival de Locarno. O maior sucesso de bilheterias do cinema chileno de 2010 foi Ojos Rojos, dirigido por Juan Ignacio Sabatini, Juan Pablo Sallato e Ismael Larraín, que arrecadou mais de meio milhão de dólares. Um documentário sobre a celebração da seleção nacional chilena se qualificar para as finais da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, após fracassar em 2006, Ojos Rojos é um documentário esportivo incomumente sofisticado, proporcionando um notável retrato do excêntrico técnico, nascido na Argentina, Marcelo Bielsa. Tornou-se comercialmente o mais bem sucedido documentário chileno de todos os tempos.
A produção cinematográfica chilena continua a prosperar, apesar de algumas instabilidades políticas e econômicas. O IMDB lista 39 filmes tendo o Chile como país de origem em 2011, incluindo o mais popular filme local do ano, a biografia de Violeta Parra, de Andrés Wood, Violeta se Fue a los Cielos [Violeta Foi Para o Céu); o engenhosamente escrito e premiado Bonsái de Christián Jiménez, premiado em Cannes e o filme de horror de extremo baixo orçamento, Zombie Dawn (Amanhecer Zumbi). Para 2012 o IMDB lista um número recorde de 40 filmes chilenos, incluindo três dirigidos por mulheres: a surpreendentemente franca exploração da sexualidade feminina nos tempos de redes sociais, Joven y Alocada (Jovem Aloucada), de Marialy Rivas; o vencedor do Tigre de Roterdã, De Jueves a Domingo, de Dominga Sotomayor Castillo, um primeiro longa; e o terceiro longa da mais conhecida diretora chilena, Alicia Scherson, Il Futuro, uma co-produção com a Itália, Alemanha e Espanha. O último documentário de Guzmán, Nostalgia de la Luz (Nostalgia da Luz), premiado em Cannes em 2010, e o terceiro longa de Larraín, Post Morten, estreava ao final deste ano em Veneza. Ambos os filmes fizeram bastante sucesso, o primeiro vencendo o Prêmio Europeu de Melhor Documentário e o último vencendo prêmios em Havana (2010) e Cartagena, Lima e o Los Angeles Latino, em 2011. Ambos estes filmes, e o último da "trilogia Pinochet" de Larraín, No (2012), que foi extremamente bem recebido em Cannes, analisam a repulsiva ditadura militar. Infelizmetne, a batalha voltou, em junho de 2012, quando um novo documentário pró-Pinochet foi exibido na capital, Santiago, enquanto manifestantes eram confrontados pela polícia do lado de fora do cinema.
O ano de 2013 foi um dos maiores da história do cinema chileno. No foi o primeiro filme chileno a ser indicado a um Oscar de Filme em Lingua Estrangeira, enquanto o quarto longa solo de Lelio, Gloria, ganhou três prêmios em Berlim, inclusive de atriz para Paulina García e o Prêmio Ecumênico. E nada menos que três foram exibidos na Quinzena dos Realizadores: El Verano de los Peces Voadores, de Marcela Said; o primeiro longa chileno de Alejandro Jodorowski, La Danza de la Realidad (A Dança da Realidade); e o falado a maior parte em inglês Magic, Magic, de Silva, no qual guiada pelo medo de se encontrar em uma região remota do Chile, em meio a pessoas no qual não conhece, uma adolescente americana, sofre experiências dignas de pesadelos, marcadas pelos sutis efeitos especiais de um ás da cinematografia, Christopher Doyle. Enquanto esperava pelo financiamento, Silva filmou outro longa, um road movie estrelado por Michael Cera (que também está em Magic, Magic), como um jovem americano em busca de drogas. O filme proporcionou a Silva ganhar o prêmio World Cinema Directing em Sundance e devido a isso, ser lançado na América do Norte. Ver também ANIMAÇÃO; CINEMA ETNOGRÁFICO; CINEMA EXPERIMENTAL; VILLAGRA, NELSON, ZAROR, MARKO.
Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2013, pp. 142-51.
N. do E: (*) No IMDB, El Mineral el Teniente.
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