Dicionário Histórico Sul-Americano#9: Pizza, Birra, Faso

Pizza, Birra, Faso (Argentina, 1997). Causando forte impressão tanto dos júris do  Críticos de Cinema Internacionais (FIPRESCI) quanto do júri ecumênico (OCIC) do 13 Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata (Argentina) quando foi exibido em novembro de 1997, Pizza, Birra, Faso (Pizza, Cerveja, Cigarro), co-escrito e co-dirigido por Israel Adrián Caetano e Bruno Stagnaro, hoje é considerado como o primeiro filme de longa-metragem  relevante do nuevo cine argentino. No seu foco sobre a juventude desempregada que usa o discurso autêntico, e tendo sido filmado em locações nas ruas de Buenos Aires com câmera na mão, Pizza, Bira, Faso rompe com o passado imediato do cinema do país em uma diversidade de formas.

O filme se inicia com planos documentais das ruas movimentadas de Buenos Aires e introduz dois adolescentes do sexo masculino, El Cordobés (Hector Anglada) e Pablo (Jorge Sesan), que em conluio com os motoristas de táxi assaltam alguns de seus passageiros (o apelido de El Cordóbes deriva da região onde nasceu, Córdoba; dessa forma, o filme sugere que ao menos um de seus personagens principais é um migrante, e portanto ainda mais marginalizado.) Esse é o primeiro dos muitos pequenos crimes apresentados no filme que não são bem sucedidos, e após, encontram-se  com a garota grávida de Cordobés, Sandra (Pamela Jordán), e dois outros amigos (Frula e Megabom), próximos do famoso El Obelisco, erigido em 1936, enquanto monumento aos 400 anos da chegada dos espanhóis. Abandonando Sandra nas ruas, os jovens resolvem escalar o obelisco, somente para desceerem ao perceberem que Sandra está sendo presa pela polícia. Enfatizando quão "pequenos" seus crimes tendem a ser, os dois próximos são de alguém na fila de desempregados e de um pedinte sem as pernas.

Frula os apresenta a um criminoso de melhores conexões, Rubén (Adrián Yospe), que traz armas e seu próprio carro consigo e juntos tentam assaltar um restaurante elitizado em Once (área central de Buenos Aires). Aparentemente escolhem errado e em sua fuga se deparam com um policial, que demanda uma propina por tê-los deixado partir sem uma prova do registro do carro. Em outro golpe em um táxi, El Cordobés e Pablo (que é continuamente vitimado por ataques de asma), espancam o taxista, mas ficam com pena da passageira que lhes seria o alvo, uma senhora idosa, levando-a ao aeroporto, para que consiga pegar seu voo. Mas ao chegar ao aeroporto ela liga à Polícia, sendo a tentativa da gangue de roubar uma discoteca interrompida. Eventualmente, Pablo é ferido e morre, e El Cordobés, mortalmente ferido, não consegue encontrar Sandra no ferry para Montevideu, seu destino romântico e escapista. O último plano do filme, com a câmera posta na popa do ferry se distanciando gradualmente do litoral de Buenos Aires e de El Cordobés, é também o mais longo plano do filme e deixa o espectador com um sentimento de vazio. Curiosamente, apesar do filme tender a ser bastante corrido é ocasionalmente intimista, isto é intercalado com passagens reflexivas. Os protagonistas nunca são explorados em profundidade e, portanto, nunca se tornam personagens totalmente identificáveis e, apesar de se engajarem em atos criminosos, são também algo simpáticos. Em sua desjuntividade e ambuiguidade, permanece como um protótipo para trabalhos futuros do Novo Cinema Argentino.

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014,  pp. 457-8.

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