Filme do Dia: Xingu (2011), Cao Hamburger

 


Xingu (Brasil, 2011). Direção: Cao Hamburger. Rot. Original: Helena Soarez, Cao Hamburger & Anna Muylaert. Fotografia: Adriano Goldman. Música: Beto Villares. Montagem: Gustavo Giani. Dir. de arte: Cássio Amarante. Figurinos: Verônica Julian. Com: João Miguel, Felipe Camargo, Caio Blat, Maiarim Kaiabi, Awakari Tumã Kaiabi, Adana Kambeba, Maria Flor, Augusto Madeira, Fábio Lago.

Os irmãos Leonardo (Blat) e Claudio (João Miguel) Villas-Bôas abandonam a vida urbana paulistana em 1943 para adentrarem nos rincões praticamente inexplorados do sertão. O mais velho dos irmãos, Orlando (Camargo) se junta a expedição que logo passa a ter os primeiros contatos, tensos, com os indígenas. Eles se tornam amigos da tribo, mas seu contato acabará trazendo infecção para os indígenas, dizimando metade da população de aldeia. Posteriormente, a preocupação dos Villas-Boas é com a exposição negativa da gravidez de uma indígena por Leonardo, que é expulso do grupo. Leonardo e Claudio também se desentendem, indo cada um ficar no comando dos extremos do Parque Nacional do Xingu, que é criado nos idos da década de 1960. Leonardo morre do coração. Os militares iniciam o projeto da Transamazônica e os Villas-Boas se encontram divididos entre a defesa dos interesses indígenas e a necessidade de interação com a mentalidade tacanha dos militares.

Como em seu longa anterior, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, há uma preocupação em tematizar uma narrativa que dialogue diretamente com a história brasileira. Porém, ao contrário daquele, o caráter episódico e superficial com que tudo é tratado, compreensível e até mesmo admirável no filme anterior, por conta de seu protagonista infantil, aqui se aproxima mais da inépcia de um tratamento dramático mais apurado. O filme patina numa história observada, em termos dramáticos, sobretudo a partir das relações sentimentais entre os irmãos, algo que tampouco se constrói de forma eficiente. Soçobram valores de produção e tomadas deslumbrantes da gigantesca área verde que se tornará o futuro parque, mas uma cena como a do passeio dos indígenas, levados ao avião pelo impulso de Claudio, torna-se comezinha e mesmo banal em relação às suas imagens, servindo prontamente como metáfora para o próprio filme, perdido entre sua pretensão e o resultado bem mais modesto, findo previsivelmente de forma um tanto quanto atabalhoada. A partir do momento que somente a eficácia dramática justifica a opção pela ficção e não o documentarismo com relação a boa parte dos filmes relativamente calcados em episódios históricos, sua fragilidade aqui suscita o desejo de se assistir a trajetória dos Villas-Boas menos pela via do docudrama que do próprio documentário. 102 minutos.

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