Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#74: Gabriela Samper

 


SAMPER, GABRIELA (Colômbia, 1918-1974). Uma documentarista pioneira na América do Sul, Gabriela Samper se dedicou à cultura colombiana tradicional, incluindo seus aspectos indígenas, e foi também uma importante expoente do teatro infantil e de marionetes. Nascida em Bogotá de pais ricos, viajou por toda a Europa e estudou literatura e filosofia na Universidade de Colúmbia, em Nova York, onde também estudou balé, sob os auspícios de Martha Graham. Viveu períodos nos Estados Unidos, assim como em Trinidade, e dedicou sua vida às artes, trabalhando no teatro e televisão colombianos. Teve cinco crianças e não voltaria a filmar senão em 1963, quando casou-se com seu terceiro marido, Ray Witlin.

Formaram uma companhia juntos, Cinta Limited, primeiramente para produzir comerciais, e em 1965 escreveu e co-dirigiu seu primeiro filme, uma obra de ficção de 22 minutos, El Páramo de Cumanday, patrocinado pela Esso. De acordo com Juana Suárez, Witlin foi creditado como cinegrafista e diretor", mas o filme é geralmente atribuído a Samper (2012, p. 101). Belamente fotografado em película preto&branco na cordilheira central andina, ilustra uma história de maioridade baseada em uma lenda indígena. Um aprendiz de doze anos e seu mestre-guia de mulas sobem a trilha de uma montanha e são observados por um homem fantasmagórico em um poncho. Quando é deixado por sua conta, o rapaz é assustado por fantasmas, mas a figura de poncho em cerâmica o ajuda a superar seu medo, presenteando-o com um sino e um cavalo. Os planos em câmera baixa e filmados de ângulos oblíquos, intercalam-se e se sobrepõem, proporcionando um sentimento dinâmico a El Páramo de Cumanday, acentuando a natureza física da jornada, enquanto a presença contínua da névoa acrescenta mistério ao conto.

Após realizar dois filmes nos Estados Unidos em 1967, Samper retornou à Colômbia e dirigiu três curtas etnográficos em 1969: Festival Folclórico de Fomeque, Los Santísimos Hermanos, e El Hombre de la Sal. Em 1970 concorreu sem sucesso a uma bolsa Guggenheim, o que reduziu sua obra cinematográfica etnográfica, e em 1972 presa e acusada de ser membra da teia de relações do Exército de Libertação, um grupo guerrilheiro de esquerda. Foi torturada e então transferida a uma prisão feminina, onde ficou detida por cinco meses, eventualmente sendo solta por ausência de evidências. Passou um ano na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, mas adoeceu e morreu de câncer em 1974.

Gabriela Samper deixou um grande legado. Jorge Silva trabalhou como fotógrafo em El Hombre de la Sal, e sua obra documental com sua parceira Martha Rodríguez foi inspirada pela dedicação de Samper às populações marginalizadas da Colômbia. A antropóloga Gloria Triana produziu uma série de filmes sobre tradicões populares colombianas que foram montados pela filha mais jovem de Samper, Madi Samper, que desde então dirigiu numerosos filmes etnográficos, incluindo Human Faces Beyond the Forrest (2001), documentando os indígenas colombianos destruídos pela colheita da papoula do ópio.

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymounth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 507-8.

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