Filme do Dia: Ardida como Pimenta (1953), David Butler

 


Ardida como Pimenta (Calamity Jane, EUA, 1953). Direção: David Butler. Rot. Original: James O’Hanlon. Fotografia: Wilfrid M. Cline. Música: David Buttolph & Howard Jackson. Montagem: Irene Morra. Dir. de arte: John Beckman. Figurinos: Howard Shoup. Com: Doris Day, Howard Keel, Allyn Ann McLerie, Philip Carey, Dick Wesson, Paul Harvey, Chubby Johnson, Gale Robbins.

Em Deadwood, território Dakota, ocasionalmente vítima de ataques dos Sioux, Calamity Jane (Day) é uma cowboy que consegue livrar Wild Bill Hickok (Keel) desses e, quando o dono da casa de espetáculos local (Harvey) se engana com o gênero da atração local, e o travestido Frances Fryer (Wesson) não consegue esconder sua condição masculina, sob a revolta de todos os homens presentes, Calamity afirma que trará para eles, a figura dos sonhos de todos, Adelaide Adams (Robbins). Ela embarca para Chicago, chama a atenção por seus trajes, assim como também fica estarrecida com alguns trajes femininos lá e, ao contrário de Adams, Jane traz consigo, sem o saber, sua camareira, Katie Brown (McLerie), que tem seus sonhos de estrelato. À farsa, descoberta em pleno palco, segue-se a aclamação de Brown por seu próprio talento. Ela vai morar com Calamity, provocando uma mudança em sua moradia e forma de vestir. Em um baile, no entanto, Katie se interessa pelo objeto de amor de Calamity, o tenente Danny Gilmartin (Carey) e, mesmo que preocupada com a reação da amiga, provoca um rompimento na amizade de ambas. Quando Calamity, já nos braços de Hickok, que também se encontrava interessado em Katie, sabe que essa se encontra na diligência retornando para Chicago, triste por aparentemente ter se interposto no amor da amiga pelo tenente, essa a busca de volta para Deadwood para um casamento duplo.

Um dos destaques na carreira então recente de Day, que brilha como sua máscula protagonista, inspirada muito distantemente em uma figura histórica real, do folclore do Oeste norte-americano, o filme, apesar de sua tola história, traz magnifíca fotografia e uma mescla entre gêneros (aqui o western e o musical) que era interdita ao cinema hollywoodiano das décadas anteriores, mesmo se pensarmos nos faroestes cantados dos anos 30. Outros atrativos são a esplendorosa fotografia, nas cores vibrantes do technicolor da época e sua aproximação do gênero, sendo que as personagens femininas ganham interesse muito maior que o habitualmente oferecido no western convencional, inclusive invertendo a lógica do salvamento, com Calamity salvando a vida de seu futuro companheiro e não o oposto e um punhado de canções acima da média dos musicais de então. Se às licenças do gênero musical-comédia pode se creditar as facilidades com as quais Calamity sai de sua aparente paixão pelo tenente para os braços de Hickok ou ainda a transformação instântanea de uma amadora e desafinada Katie em valente e desinibida presença de palco, a ousadia de gênero, que por momentos chega a flertar em colorações quase homo-eróticas na relação entre Calamity e Katie, espelhamento ao inverso de uma recorrência das amizades masculinas no western, também traz soluções mais convencionais, como a tentativa de feminilização de Calamity, com a reforma de sua cabana e modos de vestir. E não falta um Hickok ou o cocheiro a lhe lembrar de sua condição feminina, no caso do primeiro a associando com histerismo. E quanto ao tratamento dispensado aos indígenas, é o mais raso e superficial, como se apenas aos dramas do período se começasse a se dignar algo mais complexo. Os númereos de canto e dança, sobretudo em sua metade inicial são muito bem produzidos, com destaque para o que Calamity rodopia pelos braços de vários vaqueiros, inclusive passando de um andar para outro, com uma leveza e graça contidas, por se tratar de quem se trata em termos de personagem e, ainda mais, a apresentação que demonstra o talento artístico de Katie. Há também um apropriadamente sutil flerte com a Calamity de Day dirigindo breve e abertamente seu olhar ou alguma frase diretamente para a câmera. Butler, antes de realizador, foi ator, desde os tempos do cinema mudo (A Águia Azul, Sétimo Céu, dentre dezenas). Warner Bros. 101 minutos.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar