Filme do Dia: O Andarilho (1926), Harry Langdon

 


O Andarilho (Tramp, Tramp, Tramp, EUA, 1926). Direção Harry Langdon. Rot. Original Frank Capra, Hal Conklin, Gerald C. Duffy, J. Frank Holliday, Harry Langdon, Arthur Ripley, Murray Roth & Tim Wheelan. Fotografia Elgin Lessley & George Spear. Com Harry Langdon, Joan Crawford, Edward Davis, Tom Murray, Alec B. Francis, Brooks Benedict, Carlton Griffin.

Amos Logan (Francis), velho e em uma cadeira de rodas, recebe o aviso que terá três meses para saldar sua dívida ou será expulso da residência alugada. Seu filho, Harry (Langdon), obecado por uma moça que vê em um cartaz publicitário, Betty Burton (Crawford), irá concorrer a um percurso que cruza o país, para tentar ganhar o prêmio de 25 mil dólares, prometido pelo pai de Betty, John Davis. Após inúmeros contratempos, Harry terá que se deparar com um ciclone que atinge a cidade do Velho Oeste onde se encontra o final do percurso.

Embora o título, os modos de andar, as roupas esgarçadas e frouxas, a falta de compostura em termos de modelo de hombridade viril e a timidez pega-mocinhas seja muito calcada no exemplo mais célebre de cômico da época e seu personagem, Chaplin e seu vagabundo, Edwards e sua gregária lista de co-roteiristas (que inclui o futuramente célebre Frank Capra – ele próprio dirigiria alguns filmes de Langdon), traz também distanciamentos de seu modelo. Um deles é a auto-referência ao universo do próprio cinema, que Chaplin havia deixado de lado ao início de sua carreira (Dia de Estreia) e só voltaria no amargor final de Luzes da Ribalta. Antecipador do humor de um FrankTashlin – como não lembrar no infantilismo cego do fã Jerry Lewis de Ou Vai ou Racha, o ardor insistente por sua “estrela”, aqui de uma campanha publicitária em cartazes e ironicamente no primeiro filme de destaque do modelo de estrela por excelência hollywoodiano, Joan Crawford. E talvez protagonista da cena mais divertida de todo o filme, quando o insone e obsessivo fã vai tentar consertar uma parte da enorme foto com o rosto de sua diva, surrupiado de algum outdoor e desaba em cima do companheiro de quarto que dormia. Crawford, que tem talvez seu primeiro close-up cinematográfico nesse filme, é ainda mais ornamental que as heroínas dos filmes de Chaplin.  E voltando ao título, aqui é um maroto pretexto onomatopeico em relação ao avanço dos competidores sobre o solo de sua longa caminhada/competição. Faz-se piada, ao final, com a própria persona fílmica de Langdon, conhecido como cara de bebê, ao representar o bebê do casal mocinho. Não menos chapliniana é a cena do ciclone ao final, em que a destruição de casas – também presente no universo de Buster Keaton – surge com força total. Ou uma cena em que o herói se vê na iminência de uma queda que parece dez vezes mais alta que os arranha-céus com os quais se encrencaria Harold Lloyd. Harry Langdon Corps para First National Pictures. 62 minutos.

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