Filme do Dia: Toda Nudez Será Castigada (1972), Arnaldo Jabor
Toda Nudez Será Castigada (Brasil,
1972). Direção: Arnaldo Jabor. Rot. Adaptado: Arnaldo Jabor, baseado na peça de
Nélson Rodrigues. Fotografia: Lauro Escorel. Música: Astor Piazzolla. Montagem:
Rafael Justo Valverde. Cenografia e figurinos: Régis Monteiro. Com: Paulo
Porto, Darlene Glória, Paulo Sacks, Paulo César Pereio, Isabel Ribeiro, Hugo
Carvana, Henriquieta Brieba, Orlando Bonfim, Elza Gomes, Sérgio Mamberti.
Herculano (Porto), viúvo rico e ainda
apaixonado pela falecida esposa, acaba cedendo aos encantos da prostituta Geni
(Glória), apresentada pelo irmão (Pereio). Serginho (Hicks), seu filho rebelde
e mimado como uma criança pelas tias solteironas, é contrário ao romance do pai
e exige respeito eterno à memória da mãe. Após flagrar o pai com Geni, provoca
confusão e sendo preso e estuprado pelo Ladrão Boliviano. Tentando afastar-se
de Geni, por sentir-se culpado em relação ao filho, Herculano recebe o
incentivo de Serginho para casar com Geni, para que ele possa trair o pai.
Consumado o casamento, Geni apaixona-se loucamente por Serginho, que decide
partir com o Ladrão Boliviano. Abalada, Geni comete o suicídio e deixa uma
gravação em que revela tudo a Herculano.
Uma das melhores adaptações de
Rodrigues para o cinema – ao lado de A
Falecida, dirigido por Hirszman – o filme consegue instilar humor e deboche
na sua exagerada dicotomia entre pecado e pureza, prostituta e santa, que rege
a dupla moral classe média, com relação a conduta de Herculano em relação a
Geni. Nem por isso deixa de lado sua matriz melodramática, sendo igualmente
saturado de decadência, acidez e morbidez. Essa ode a passionalidade latina
está presente tanto na fotografia, de tons fortes, quanto nos boleros cantados
por Geni no cabaré e na bela trilha incidental de Piazzolla, assim como na interpretação marcadamente teatral e
anti-naturalista do elenco. Se o universo da Boca-do-Lixo do cinema marginal
paulista, sobretudo O Bandido da Luz
Vermelha (1968), pode ser considerado como provável influência no escracho
e na escolha da trilha musical, o filme de Jabor provocou larga influência na
produção de uma avalanche de adaptações de menor fôlego da obra de Rodrigues.
Por outro lado, as comédias eróticas produzidas na mesma década exarcebaram
tipos e situações caricaturais presente no univeso do dramaturgo. Utiliza-se
com sucesso do recurso do flashback
cíclico, retornando ao ponto de origem, a partir da narração de uma pessoa já
morta, presente em diversos filmes, com motivações diegéticas verossímeis (Pacto de Sangue) ou não (Crepúsculo dos Deuses, Beleza Americana, O Hotel de Um Milhão de Dólares). Faria/Ipanema Filmes/Ventania
Filmes. 102 minutos.
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