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Bakhtin retém uma certa fidelidade ao realismo, não no sentido da reprodução mimética do real, mas no sentido quase-brechtniano de revelar a "rede causal" dos eventos, de comunicar a profunda sociabilidade e historicidade do comportamento humano.
Para Bakhtin, o s elf  é uma matriz de formas discursivas, local de múltiplas identidades e identificações, objeto trespassado por múltiplos discursos - que de forma alguma condenam as realidades de classe, gênero e nação, somente as complicam.
Contra a beleza estática, clássica, acabada da escultura antiga, Bakhtin contrapõe o corpo mutável, a "passagem de uma forma a outra", refletindo o "ainda incompleto caráter do ser." (Robert Stam, Subversive Pleasures , p. 158-9)
Nenhuma hierarquia conceitual confere a cópula ou ao orgasmo, o ápice da importância. O pensamento bakhtiniano, nesse sentido, encontra-se de alguma forma, fora do que Stephen Heath denomina, a "determinação do sexo", a moderna hipostasia da sexualidade como raison d'étre  imperiosa da existência humana. A copulação, para Bakhtin é inseparável da defecação e da urina e outras lembranças semi-cômicas dos deleites grotescos do corpo. A visão compreensiva de Bakhtin ilumina, ainda que somente pelo contraste, o que é opressivo a respeito da maior parte da pornografia - sua implacável univocidade, sua falta de humor, sua obsessiva teleologia sexualista manifestada, em termos cinematográficos, nos zoom-ins na foda, no pênis, na vagina, na repetição infinita do que Lucy Irigaray chama "a lei do mesmo". E é essa univocidade que gera a inevitável perda de aura e mistério da pornografia. Ainda que o sexo seja auto-télico e auto-justificado, quando focado exclusivamente pa...
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Observar a nós mesmos no espelho é inspecionar o reflexo de nossa vida no plano da consciência de outros; é ver e apreender nós mesmos através dos olhos imaginados de nossos pais, nossos irmãos e irmãs, através do olhar de apoio de nossos amigos ou das considerações hostis de nossos inimigos, assim como através dos mais abstratos "olhos" panópticos da cultura de massas, com suas normas implícitas de elegância e aparência aceitável. (Robert Stam,  Subversive Pleasures , p. 5)