O Dicionário Biográfico de Cinema#288: Nestor Almendros

 

Nestor Almendros (Nestor Almendros Cuyas) (1930-1992), n. Barcelona, Espanha

Almendros foi um amado cidadão do universo do cinema, um terno cavalheiro, homem de diversas línguas, e uma ajuda inestimável a muitos e variados diretores. Seu livro, A Man with a Camera, é tão valoroso quanto os filmes nos quais trabalhou, como o documentário Mauvaise Conduite (83), sobre a vida gay em Cuba que fotografou, co-escreveu e co-dirigiu com Orlando Jimenez Leal. No entanto, Almendros está neste livro por conta de ser um excelente diretor de fotografia, modesto mas inventivo, e mais feliz se pudesse servir bons diretores. 

Poucos diretores de fotografia demonstraram o que chamaria um personagem singularmente criativo - John Alton vem à mente, Gregg Toland, talvez Raoul Coutard. Estes são cinegrafistas sem os quais determinadas carreiras, e mesmo gêneros, poderiam não ter sido a mesma coisa. No entanto, fotografia não é tão difícil, e nem mesmo tão influente ou decisiva - suspeito que a música e mesmo a montagem possuem mais efeito sobre o que sentimos sobre um filme que a fotografia. A imagem é tão fundamental e tão maravilhosa em e por si mesma, mas ela é um dado: todo dia, ao redor do mundo, milhões de pessoas tiram fotos maravilhosas e úteis. E não é notável que umas poucas centenas de pessoas façam-no para o cinema?

Noutras palavras, não quero exagerar Almendros enquanto câmera. Serviu diversos diretores bastante bem - Truffaut, Rohmer, Barbet Schroeder, Robert Benton. Mas  sabemos, pelo seu visual ou sentimento que, digamos, La Sirène du Mississippi [A Sereia do Mississippi], La Femme d'la Aviateur [A Mulher do Aviador], Reversal of Fortune [O Reverso da Fortuna] ou Nadine [Nadine - Um Amor à Prova de Balas] não são de Almendros? Não confiaria, pois ele filmou Nadine. Igualmente, encontraria dificuldades de fazer reinvindicações de uma consistente personalidade fotográfica em filmes tão diversos quanto Places in the Heart [Um Lugar no Coração], Ma Nuit chez Maud [Minha Noite com Ela] e Les Deux Anglaises et le Continent [Duas Inglesas e o Amor]. Sou tocado pelo visual destes filmes, mas não convencido que Almendros trouxe mais que a apropriada perícia e compreensão a eles. 

Há dois filmes em que a fotografia é mais forte: Sophie's Choice [A Escolha de Sofia] (82, Alan J. Pakula), com a palidez doentia e santa de Meryl Streep enquanto ela recorda; e Days of Heaven [Cinzas no Paraíso] (78, Terrence Malick), com muitos milagres de luz natural sobre a pradaria, um filme para o qual - na minha percepção - a fotografia se infiltrou em áreas abandonadas pelo diretor. Cinzas no Paraíso é fotografado até a exaustão. E é grande mérito de Almendros que tão raramente tenha merecido esta repreensão. 

Foi para Cuba em 1948 e se tornou um ativo cineasta lá, fotografando e dirigindo muitos curtas numa época de fermento criativo. Estudou na Universidade de Havana, no City College de Nova York e no Centro Sperimentale, em Roma. Todos nos anos 50. Dos anos 60 em diante trabalhou como câmera na Europa e na América.

Fez estes para Truffaut: O Garoto Selvagem (69); Domicílio Conjugal (70); Duas Inglesas Românticas (71); A História de Adèle H. (75) - com um bom senso caribenho: O Homem Que Amava as Mulheres (77); O Quarto Verde (78); O Último Metrô (80); De Repente num Domingo (82).

Então para Rohmer: um episódio para Paris Visto Por...(64); A Colecionadora (66); Minha Noite com Ela (69); O Joelho de Clare (70); Amor à Tarde (72); A Marquesa d'Ó (76); Perceval, o Gaulês (82).

E para Benton: Kramer x Kramer (79); Na Calada da Noite (82); Places in the Heart [Um Lugar no Coração] (84);  Nadine - Um Amor à Prova de Bala (87); e Billy Bathgate [Billy Bathgate - O Mundo a Seus Pés] (91).

Além destes, Almendros trabalhou em The Wild Racers [Arrojo nas Pistas] (68, Daniel Haller e Roger Corman); La Vallée [O Vale dos Perdidos] (72, Schroeder); La Gouele Ouverte [Ferida Aberta] (74, Maurice Pialat); Général Idi Ami Dada (74, Schroeder); Cockfighter [Galo de Briga] [74, Monte Hellman); Mes Petites Amoureses [Meus Pequenos Amores] (75, Jean Eustache); Maîtresse (76, Schroeder); Des Journées Entières dans les Arbres (76, Marguerite Duras); La Vie Devant  Soi [Madame Rosa - A Vida à Sua Frente) (77, Moshe Mizrahi); Goin' South [Com a Corda no Pescoço] (78, Jack Nicholson); The Blue Lagoon [A Lagoa Azul] (80, Randall Kleiser); Heartburn [A Difícil Arte de Amar] (86, Mike Nichols]; Nadie Escuchaba [Nobody Listened]; e "Lições de Vida", episódio para New York Stories [Contos de Nova York] (89, Martin Scorsese).

Texto: Thomson, David. The New Biograpical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 42-43.