O Dicionário Biográfico de Cinema#71: Maurice Pialat
Maurice Pialat (1925-2003) n. Cunlhalt, França
1960: L'Amour Existe [O Amor Existe] (c). 1964: La Flêur de l'Âge, ou les Adolescentes. 1969: L'Enfance Nue [A Infância Nua]. 1971: La Maison des Bois (TV). 1972: Nous Ne Veillirons Pas Ensemble [Nós Não Envelheceremos Juntos]. 1974: La Gueule Ouvert [Ferida Aberta]. 1979: Passe Ton Bac d'Abord [Antes Passe no Vestibular]. 1980: Loulou. 1983: À Nos Amours [Aos Nossos Amores]. 1985: Police [Polícia]. 1987: Sous le Soleil de Satan [Sob o Sol de Satã]. 1991: Van Gogh. 1995: Le Garçu. 1997: Les Auto-Stoppeuses.
O crítico francês Jean Narboni uma vez escreveu sobre a interpretação de Pialat como policial - em Que La Bête Meure [A Besta Deve Morrer] (69, Claude Chabrol), que ela foi "massiva, abrupta e incrivelmente gentil." A descrição se aplica a obra de Pialat enquanto diretor, assim como parece se adequar ao bastante controverso realizador em pessoa. Ele podia ser confrontador e arrogante; reconhecido como um diretor difícil e exigente; no entanto, há uma delicadeza e compaixão em sua obra que evoca a tradição naturalista francesa de Renoir.
Possuía mais de 40 quando dirigiu seu primeiro longa, A Infância Nua. Havia estudado arte na Escola de Artes Decorativas e na Escola de Belas Artes em Paris, e trabalhado alguns anos como pintor (seus filmes algumas vezes se referem a Bonnard - e, obviamente, Van Gogh). Foi estar realizando algum trabalho como ator que o levou ao cinema, e inicialmente TV, e chegou a sua estreia em longa-metragem algo timidamente. Isso deve ser enfatizado, já que hoje Pialat é famoso como tirano. Não se faz necessária nenhuma contradição, somente a verdade psicológica da modéstia e da ira serem vizinhas.
Seus temas essenciais são a infância e a família, a estabilidade e a pressa em relação ao risco e a aventura. Trabalhou frequentemente com atores não profissionais e pode nos apresentar uma textura mais áspera e nua em atores estabelecidos que acreditávamos conhecer. Foi ele próprio uma presença taciturna enquanto ator, notavelmente em A Besta Deve Morrer, Mes Petits Amoreuses [Meus Pequenos Amores] (74, Jean Eustache), e como pai em Aos Nossos Amores. Mas, somado isso, deu-nos - e talvez a si próprio - Sandrine Bonnaire e Gérard Depardieu em alguns de seus maiores papéis e Jacques Dutronc como Van Gogh. São peças de atuação que parecem serem diretas, escassamente mediadas ou treinadas. Ao trabalhar e estar com atores, Pialat parecia descobrir o que sentia sobre a vida.
A Infância Nua diz respeito de um rapaz indesejado; Nós Não Envelheceremos Juntos descreve o tortuoso fim de um relacionamento (os atores são Jean Yenne e Marlène Jobert); Ferida Aberta demonstra o modo como a morte imimente de câncer de uma mãe afeta seu marido e crianças; Antes Passe no Vestibular mostra crianças se estabelecendo em uma vida adulta árida. Loulou é um estudo sobre a afinidade sexual entre uma besta (Gérard Depardieu) e uma mulher mais refinada (Isabelle Huppert); Aos Nossos Amores é um dos grandes filmes sobre adolescência selvagem, assegurando que os mais velhos no filme sabem os becos sem saída que a selvageria levará; Polícia é a história de um policial (Depardieu) e uma garota do lado errado da lei; Sob o Sol de Satã sobre um padre encarando a tentação (Depardieu e Bonnaire); e Van Gogh é esta coisa rara, uma biografia na qual o grande homem é, de certo modo, menos fascinante que os outros personagens.
O de Pialat é um cinema de atores; até mesmo nos faz esquecer a notável ternura de sua filmagem e montagem. É como Renoir e Truffaut na maestria tanto das cenas bastante longas quanto nos fragmentos, e um modo de pô-las junto que somente o cinema pode administrar. Mas, por fim, é um humanista ferido e maltratado, um dos últimos vínculos deixados pela herança de Ozu, Mizoguchi e Renoir.
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2063-65.
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