Filme do Dia: Procedimento Operacional Padrão (2008), Errol Morris
Procedimento Operacional Padrão (Standard
Operational Procedure, EUA, 2008). Direção Errol Morris. Fotografia Robert
Chappell & Robert Richardson. Música Danny Elfman. Montagem Andy Grieve,
Steven Hathaway & Dan Mooney. Dir. de arte Steve Hardie. Cenografia John
Michael Kelly. Figurinos Marina Draghici. Maquiagem Brad Look.
Algumas imagens são evocativas do Saló
de Pasolini. Porém não há qualquer esboço de alegoria sobre o fascismo ou o
quer que seja. E sim um detalhamento maior das imagens feitas pelos soldados
estadunidenses contra os prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib,
comentadas pelos próprios que a filmaram e/ou perpetraram toda sorte de
sevícias devidamente registradas. Neste documentário, Morris não faz tanto uso
de duas recorrências em sua filmografia. Aliás, três. Efeitos visuais de
detalhes algo rebuscados, reconstituição de alguma cena – não há muito a ser reconstituído, pois existe fartura de
imagens e fotografias, embora nem por isso os bastidores de tal captura não
pudessem tê-lo motivado a se aventurar e
ele o faz– ou presença visual nas imagens, quando da captação das entrevistas
com os militares americanos, mesmo suas intervenções em áudio sendo menos
frequentes. Os efeitos visuais podem ser os da reconstituição de cenas de
sevícias em sobreposições de imagens sobre cenários efetivos ou a aproximação
destacando trechos de cartas enviadas por militares, habitualmente reclamando de situações as quais
pretensamente foram submetidos a fazer – uma mulher, diz que este foi o
procedimento para que, no seu aniversário de vinte e um anos, fosse fotografada
ao lado de prisioneiros se masturbando; ou temerosos de que sofressem alguma
punição. Ou ainda da carnificina perpetrada contra prisioneiros. Talvez a mais
chamativa destas imagens “de apoio” aos testemunhos, ao qual talvez se tivesse
que criar outra denominação (“líricas”?) traz um corredor da prisão repleto por
papel pretensamente destruído pelas ordens superiores, após o vazamento das
primeiras fotos, tal como um chão coberto por uma nevasca ou pelas pétalas do
tapete de rosas da Semana Santa no Brasil. O título vem de uma das surpresas
próximas ao final. A delimitação entre o
que é ato criminal e o que seria “procedimento operacional padrão”. Ganham esta
rubrica inúmeras situações de pessoas despidas e com capuz ou as próprias
cuecas a lhes cobrirem os rostos, fotografadas em situações humilhantes e
estressantes para o corpo e psicológicas, algemadas com os braços abertos a
grades. Se em boa parte do documentário
os relatos são bastante distantes de se colocarem diante do que foi feito, ao
final se tornam mais estridentes de maneiras diferentes. Há o que alega que não
houve tortura no que foi filmado, apenas sevícias, que as verdadeiras torturas
resultando em mortes não foram registradas. E apenas o registrado foi punido.
Há quem demonstre não apenas o grau de militarização do país, mas também a
tendência a continuidade familiar de vínculos com militares, nada incomum em
outros países (como novamente no Brasil), quando afirma que o avô, o tio e o
pai receberam honras por suas participações no Vietnã, quanto para ele soçobrou
a vergonha. Ficções também tematizaram a
famosa prisão, porém sintomaticamente de realizadores de menor prestígio que o
de Morris junto ao campo documental. Uma delas é Vigilantes de Guerra,
lançado meia década após. |Participant/Sony Picture Classics para Sony Picture
Classics. 116 minutos.
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