Filme do Dia: A Colecionadora (1967), Eric Rohmer

A Colecionadora (La Collectionneuse, França/Itália, 1967). Direção: Eric Rohmer. Rot. Original: Patrick Bauchau, Haydée Politoff, Daniel Pommereulle & Eric Rohmer. Fotografia: Néstor Almendros. Música: Blossom Toes & Giorgio Gomeslky. Montagem: Jacquie Raynal. Com: Patrick Bauchau, Haydée Politoff, Daniel Pommreulle, Alain Jouffroy, Mijanou Bardot, Annik Morice, Dennis Berry, Seymour Hertzberg, Néstor Almendros.
            Adrien (Bouchau) é um jovem que decide viver distante do trabalho após um período de dez anos trabalhando. Ele vai viver como um semi-ermitão na província, na companhia do amigo pintor Daniel (Pommereulle). A presença do amigo não o incomoda, já que ambos compartilham uma filosofia de vida semelhante. A situação muda de figura com a chegada da jovem, atraente e promíscua Haydée (Politoff), que eles classificam como “colecionadora” de homens. Inicialmente ajustada ao ritmo de vida dos dois, Haydée logo se destacará por sua liberdade frente aos padrões morais que os dois amigos, sobretudo Adrien, impõem a si próprios. Possui um relacionamento com Daniel, enquanto seduz Adrien. Daniel, que era considerado por Adrien como modelo de superioridade, irrita-se com a facilidade com que Haydée trafega sem maiores problemas entre os homens e decide ir embora. Um colecionador americano que chega, Charlie (Berry), passa a fazer um jogo de sedução com Haydée, com o consentimento de Adrien, cada vez mais interessado na garota. Ela quebra o valioso vaso chinês que Adrien vendera a Charlie, irritando-o profundamente. Haydée decide então partir com Adrien e esse passa a imaginar que irá viver um relacionamento intenso na última semana que lhe resta de férias.  Haydée, no entanto, encontra um de seus amantes no caminho e, enquanto decide se irá viajar com ele e seu amigo ou não, Adrien parte aliviado com a autonomia de sua decisão. Porém, a segurança e o conforto logo se desfazem quando se encontra novamente só e decide imediatamente comprar uma passagem para Londres.
Faz parte do ciclo de produções que Rohmer batizou de Contos Morais e que possuem semelhanças com o Ciclo das Quatro Estações, empreendido duas décadas após, igualmente centrado nos conflitos afetivos e decisões éticas a serem tomadas no relacionamento de um determinado círculo social. Mesmo que possam ser traçados paralelos com obras como a de Bergman e Chabrol, Rohmer prefere abordar temas como a moralidade, a solidão e o desejo partindo das relações mais microscópicas e banais. Centrado sobretudo nos diálogos e na boa interpretação de seu elenco semi-amador, o cineasta consegue destrinchar com rara habilidade o hiato que existe entre as pretensões morais e a verdadeira satisfação do indivíduo consigo próprio. Nesse sentido, Adrien é o maior exemplo. Aparentando um profundo auto-controle que o faz observar as atitudes de Haydée como levianas e imaturas, será levado ao extremo de perceber que nem sempre a opção por uma trajetória involuntariamente coerente, já que tentado em diversos momentos a se desviar dela, será compensadora. Rohmer leva a discussão moral a um patamar complexo e bem pouco esquemático onde, ao final, a identidade entre a ação e a moralidade do protagonista não evitará que ele se sinta solitário e vazio. Tampouco deixa de salientar sutilmente que somente um contato com um Outro verdadeiro (Haydée, no caso) e não uma projeção de si próprio (Daniel) pode desencadear em uma possibilidade de efetivo movimento em uma situação de torpor. Les Films Du Losange/Rome Paris Films. 89 minutos.



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