Filme do Dia: O Monstro de Pedras Brancas (1959), Irwin Berwick
O Monstro de Pedras Brancas (The Monster of
Piedras Blancas, EUA, 1959). Direção Irwin Berwick. Rot. Original H. Haile
Chace. Fotografia Philip H. Lathrop. Montagem George A. Gittens. Com Jeanne
Carmen, Don Sullivan, John Harmon, Les Tremayne, Forrest Lewis, Frank Arvidson, Pete Dunn, Joseph La Cava.
Mortes misteriosas e brutais passam a
acometer uma pequena cidade costeira, e o faroleiro Sturges (Harmon) já sabia
da existência de um monstro e o comerciante Kochek (Arvidson), sempre a se
lembrar da lenda sobre um monstro local, vem a ser sua terceira vítima, após
dois pescadores irmãos terem sido mortos. Inicialmente avesso a tese do
monstro, o delegado George Matson (Lewis) passa a ficar menos certo quando ouve
as vozes da ciência local, o médico Sam (Tremayne) e o jovem Fred (Sullivan),
que vem a ser o namorado da filha de Sturges, Lucille (Carmen).
O modelo de tais filmes já se
encontrava tão genérico, que nem sequer há preocupação em se nominar os
personagens nos créditos, embora existam nos diálogos, letreiros sendo
identificados por suas profissões (o médico, o caseiro, o comerciante, o
faroleiro, etc.) ou características de gênero e idade bastante presentes na
ficção científica da época e, igualmente, posterior (rapaz, garota),
subentendendo já uma relação romântica, com o divertido detalhe do Monstro ser
creditado enquanto tal. Embora Jeanne Carmen, que vive a mocinha, aqui com uma
dose de sensualidade mais elevada que o habitual, seja apresentada com seu
apagado contraparte masculino, como tendo estreado nesta produção, já havia
participado de uma meia-dúzia de filmes, alguns deles creditados. E o mesmo
pode ser dito de Don Sullivan, que inclusive participaria de outra produção (O
Monstro Gigante de Gila) similar no mesmo ano. E depois da clássica cena de
A Um Passo da Eternidade, ficou difícil driblar cenas românticas de
apelo erótico, como um beijo em trajes de banho e com o mar a rodear – aqui
curiosamente o homem se encontrando em roupa de banho e a mulher não. Porém
esta é quem viverá a cena mais ousada, deixando suas roupas sobre umas pedras e
indo se banhar no mar, depois de receber uma negativa do rapaz. Cena que
poderia antecipar a do início de Tubarão década e meia, não fosse o
desinteresse do monstro por mulheres despidas – ao contrário da besta do
contemporâneo The Manster; e se fica com as pedras, embora surja uma
calcinha, algo ainda impensável para uma produção de um grande estúdio ou então
com a pretensa nudez da jovem completamente encoberta pela penumbra da noite.
Porém, para remediar o seu desinteresse inicial, o monstro posteriormente
invadirá sem nenhum esforço o farol, pois a porta nem trancada está, apesar da
sucessão de eventos vividos recentemente,
e pouco após vislumbrarmos a mocinha em roupas íntimas, trocando-se para
dormir. Não menos interessante é se observar que o monstro costuma degolar quem
encontra pela frente, mas quando se trata do delegado parece temeroso da
autoridade, apenas o arranhando
praticamente e da mocinha, talvez com intuitos escusos, carrega-a nos braços de
camisola, em tributo a King Kong, lógico que somente depois de uns
afiados gritos agudos, dos quais a A Mosca da Cabeça Branca é
virtuoso. O tema do faroleiro de anseios
incestuosos em relação a filha (observado no anterior brasileiro Luz Apagada
(e reciclado décadas após em A Ostra e o Vento) surge aqui com bem
mais discrição. Se há algo a elogiar nesta produção é a bela fotografia em
p&b, realizada pelo talentoso Lathrop (Bonequinha de Luxo, Sua Última Façanha); custa crer a insensibilidade de se ter uma versão
colorizada desta produção, embora a resenhada
seja a original. Ainda que os enquadramentos não ficam nada a dever a
uma produção de estúdio, há algumas pequenas falhas de continuidade aqui e
acolá, em relação a movimentação dos atores. Um exemplo é quando o pai de
Lucille está deitado e no plano seguinte se observa uma mudança um tanto brusca
de sua posição em relação ao prévio. Por mais precárias que sejam as soluções
dramáticas e também algumas interpretações, esta figura paterna se torna
interessante a partir do momento que confessa a filha ter alimentado o monstro
por anos, ao mesmo tempo que alimentava uma espécie de monstruosidade interior,
quase um espelhamento do novo “amigo”, afastando-se de tudo e de todos, assim
como passível de ser observado de forma mais ambígua em relação à filha do que
disposto pelo filme, como é o caso da sensação de ser observada quando ela
tomava banho de mar despida, cena ao qual também observamos a figura do pai. E
a motivação alegada para a aproximação com a criatura se dando justamente após
a partida da filha e crescente sensação de vazio. De mais engraçado, temos a
repentina posse de saberes científicos pelo médico local e, sobretudo, por
Fred!! Motivo para que tenham surrealistas diálogos pretensamente científicos a
chancelarem de vez o filme enquanto ficção-científica, ao mesmo tempo que nem
eles nem qualquer autoridade sequer imagina pedir algum tipo de auxílio de
alguma instituição federal ou estadual, como se vivessem apartados do restante
do mundo. Destaque para o hilário momento em que Lucille, vulgo Lucy, diz ao
amado que o monstro se encontra com o pai no farol, como se anunciasse apenas
uma visita indesejada ao jantar. Para a sorte de boa parte dos personagens, os
que são focados pela narrativa sobretudo, o monstro é ocasionalmente
atoleimado, e para além dos rugidos bestiais que são o contraponto de gênero
aos gritinhos da heroína, parece não se decidir se anda em linha reta ou em
círculos. A estética do monstro é grandemente herdeira do pioneiro O Monstro
da Lagoa Negra, lançado meia década antes. |Vanwick Prod. para Filmservice
Dist. Corps. 71 minutos.

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