Filme do Dia: A Candidata Perfeita (2019), Haifaa Al-Mansour
A Candidata
Perfeita (Al Murashahat al Muthalia, Arábia Saudita/Alemanha, 2019).
Direção Haifaa Al-Mansour. Rot. Original Haifaa Al-Mansour & Brad Niemann.
Fotografia Patrick Orth. Música Volker Bertelmann. Montagem Andreas Wodrasche.
Dir. de arte Olivier Meidinger, Abdulrahman Abu Al Faraj, Khalid Gaith &
Tamara Kalo. Cenografia Marie-Catherine Telier. Figurinos Heike Fademrecht. Com
Mila Al-Zahrani, Mohmed Othman, Nora Al Awad, Dae Al Hilali, Hamad Almutaani,
Reema Mohammed, Tarek Al Khaldi, Shafi Alharthy, Ahmad Alsulaimy.
A Dra.
Marian (Al-Zahrani), incomodada com a dificuldade de transitar no acesso que
chega ao hospital público onde atende, decide se candidatar a um cargo público
de política local, surpreendendo a todos, inclusive sua família, notadamente
seu pai, e incomodando algumas de suas irmãs. Sua mãe, cantora de festas de
casamento (o pai é músico das mesmas), é falecida, e a situação se torna
demasiado tensa quando ela se lança como candidata, pois as mulheres possuem
uma vida geralmente restrita às atividades domésticas. Marian sente este estranhamento e rejeição
igualmente no trabalho. Ela busca um aliado para fazer sua apresentação em uma
tenda vizinha a que se encontram os homens que a observarão em um vídeo e as
reações são tão negativas que ela vai pessoalmente ao local onde eles se
encontram, e se posiciona a respeito, sendo gravada por alguns da assistência.
Seu pai acompanha tudo de uma outra região, bastante tenso. Participa então de
um programa de entrevistas na televisão, demonstrando uma vontade de
participação política para além do que lhe procura enquadrar o entrevistador.
Quando retorna, afirma para ela que sua mãe estaria bem orgulhosa dela. Embora
seu pleito, o de asfaltarem o acesso ao hospital ter sido realizado, decide não
abandonar sua candidatura. O resultado da votação sai e ela não possui votos
contabilizados, ao menos oficialmente. No hospital, o idoso que inicialmente
não lhe deixara que ela o tocasse, afirma ter votado nela e não sabe porque
perdeu, pois merecia o cargo. Ela repete que o merecia.
O que
existe menos interessante nesta produção é justamente seu tom de denúncia algo
panfletário, que o filme tenta, e algumas vezes consegue, remediar com algumas
situações dramáticas relativamente envolventes. Este tom já se encontra
presente desde o seu início, quando justamente este senhor observado ao final,
chega com seu neto, recusando-se veementemente a ser assistido por ela. É uma
espécie de fecho que traz um pouco de esperança para mudanças – trata-se de uma
cidade do interior – mas não o suficiente para provocar um sorriso em Marian,
que não busca contemporizar em vários dos momentos, com a sociedade
extremamente misógina na qual se vê inserida. E por mais inverossímil que possa
parecer esta transformação, um pouco amenizada pelo fato dos enfermeiros homens
que o cuidaram lhe provocaram um erro médico que poderia ter lhe custado muito,
um dos trunfos do filme é não conter ao seu final, o escape esperado do sucesso
da conquista de Marian, para satisfazer de vez o público liberal ocidental para
o qual é predominantemente direcionado. Sua derrota demarca de forma indelével
que os obstáculos persistem, mesmo para uma elite relativamente privilegiada. A
figura paterna é um caso interessante de ser observado mais de perto, pois se
com os colegas de trabalho demonstra profunda preocupação e estresse pelas
medidas tomadas pela filha, diante dela é somente elogios, como se as chaves
para lidar com a questão publicamente e na vida privada fossem praticamente
antípodas. Ou seria o temor de enfrentar a filha, com personalidade forte, a lembrar
da esposa? Visualmente não há nada destacável, as interpuetações são corretas e
o tema inicial que a faz se lançar na política como plataforma soa não menos
que risível, assim como sua candidatura se amparar em um dos empregos-chaves
para ter alguma visibilidade social, sobretudo local, como bem sabemos. |Al Mansour
Estate for Visual Media/Razor Film Produktion GmbH/NDR para The Match Factory.
104 minutos.

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