Filme do Dia: A Indústria Açucareira Através da Usina Estrelliana (1930)
A Indústria Açucareira Através da
Usina Estrelliana (Brasil, 1930).
Esse filme que parece ser uma típica
“cavação”, como eram chamados pejorativamente pela crítica os filmes de
encomenda, que invariavelmente auxiliavam grandemente a manter ativas as casas
produtoras ao redor do país, torna-se, involuntariamente, com o passar do
tempo, um delicioso atestado do sistema açucareiro através de um grande
latifundiário, João Wanderley de Siqueira, que possuía dentro de suas terras
uma ferrovia particular da extensão de 50 quilômetros. O comboio ferroviário,
inclusive, é observado cruzando o espaço da sede da usina, de cuja sua
impressionantemente imponente chaminé não se consegue observar inteira no
quadro. Outra imagem impressionante é o da igreja construída dentro da
propriedade, maior que boa parte de suas
similares na maior parte das cidades pernambucanas de então e de contornos
arquitetônicos muito aproximados aos de suas similares interioranas. É bastante sintomático que os nomes dos
filmados tenha resistido ao tempo, seja por sua celebridade, seja pelas
cartelas do próprio filme, enquanto o mesmo não se pode dizer de sua equipe
técnica. E que os rituais de poder observados por essa produção, ao contrário
dos observados em relação às lideranças políticas nacionais (como em O Novo Governo da República) mostrem
algumas poses em que se observa certa tensão ou o rosto empertigado de João
Wanderley, mesmo segurando um neto de cada lado mas, logo depois cedendo ao
sorriso e a descontração, provavelmente por ter sido chamado a atenção por
alguém que estava do lado de lá da câmera. Essa imagem talvez seja a mais
representativa da mescla entre rigidez patriarcal e descontração adocicada a la
Gilberto Freyre que é observada no filme. Realização em duas partes, que a
época significa também dois rolos de filme. Dentro dessa atmosfera de controle
sobre tudo e todos que a usina parece apontar, inclusive com os trabalhadores
morando em casas germinadas na própria propriedade, talvez não seja surpresa
saber que a companhia produtora é de Ribeirão, talvez da própria ou ao menos
mantida pela família dos latifundiários. Lux Film. 19 minutos.
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