O Dicionário Biográfico de Cinema#289: Donald Seton Cammell

 


Donald Seton Cammell(1934-96) n. Edimburgh 

1970: Performance (co-dirigido com Nicolas Roeg). 1977: Demon Seed [Geração Proteus]. 1987: White of the Eye [O Maníaco do Olho Branco]. 1996: Wild Side [Nas Garras do Crime].

Quando a era sensual do final dos anos 60 e dos idos dos 70 rescindiu, então Donald Cammell pôde ser visto mais plausivelmente como uma figura literária ou inventada - o belo e brilhante rapaz com raízes na arte erudita, no ocultismo e nas drogas. que possui somente uns poucos e ameaçadores créditos para filmes que podem ser mais intrigantes na descrição que de fato testemunhavam as telas. Mas Cammell era uma pessoa real - e numa era futura de amadorismo eletrônico, onde inúmeros personagens e gênios têm trajetórias e carreiras tão fragmentadas, podendo até parecer um protótipo. Em um nível mais mundano e trágico, fica claro que, aos 62 anos, enquanto um há muito tempo e fracassado morador de Los Angeles, Cammell se matou por conta de não conseguir encontrar suficiente trabalho.

Foi o filho de Charles Richard Cammell, que escreveu sobre Byron e Aleister Crowley. Quando jovem, Donald frequentou o Royal College of Art e se tornou um conhecido pintor de retratos (e um especialista numa sociedade de retratos) em Londres. Fez ilustrações para King Arthur and the Round Table, de Alice Mary Hatfield, quando tinha apenas 19 anos. Como tal, estava muito bem enfronhado enquanto uma figura artística no que veio a se tornar a swinging London. Foi como se tornou roteirista - de The Touchables [As Tocáveis] (68, Robert Freeman), no qual algumas groupies tentam sequestrar um cantor pop, e Duffy [Duffy, o Máximo de Vigarice] (68, Robert Parrish), sobre meio-irmãos, interpretados por James Coburn e James Fox. 

Alguém pode ver estes ingredientes contribuindo para o espetacularmente extravagante, porém enigmático Performance. Como Roeg e Cammell colaboraram? Talvez, como os persoangens de Mick Jagger e James Fox, tentando resistir à osmose. Sabemos que Roeg o filmou, e que Cammell o montou. E a lenda conta que a aura maior de experimento perverso era mais do agrado de Cammell que de Roeg. De alguma maneira, possuo o sentimento que não muitas pessoas sequer assistiram Performance até o final muitas vezes. Por outro lado, alguns momentos dele são inesquecíveis, assim como  influentes. Raramente houve uma mistura mais vaga, porém mais idílica. de drogas envenenadas e sexo malicioso - podendo muito bem ser revelado um dia como um divertimento ideal para as crianças muito conscientemente travessas. E poderia ser um raro caso onde estar lá, como se esteve, é mais interessante que qualquer assistência do filme acabado. 

Geração Proteus é horrível, ainda que a ideia de um computador acasalando com Julie Christie, comoveu muitas pessoas à época. Por então, Cammell vivia há muito tempo na América, casado com China Kong e atraído as longas, e em última análise nebulosas, abordagens de figuras como Marlon Brando - que alegadamente desejava Cammell  para realizar um filme de piratas com ele. Nada se desenvolveu até O Maníaco do Olho Branco, que pode ser o filme mais coerente de Cammell - e não pode ser condenado nesta narrativa. Tirando vantagens das paisagens torturadas ao redor de Globe, Arizona, é uma história de sexo e assassinatos seriais construídos rumo ao medo real. Possui algumas boas interpretações de David Keith e Cathy Moriarty. 

O que mais há dizer? Cammell morreu em posse de um roteiro para Pale Fire, e uma colaboração com Kenneth Tynan em um filme sobre Jack, o Estripador. Há também um roteiro ambientado em Istambul em 1933 - chamado apenas '33 - sobre heroína, para o qual Cammell desejava Stanley Kubrick como diretor. Tais sonhos não são mais potentes que o lançamento efetivo de uma história sexual bizarra - Nas Garras do Crime - do qual pende a eventual esperança que possamos um dia ter a "montagem do diretor"? Como ficou, a New Image removeu Cammell dele e ele pediu para ter seu nome excluído dos créditos. 

Há um bom e atmosférico documentário (por Chris Rodley) e certamente um dia haverá uma biografia  - para o qual Christopher Walken (ele está em Nas Garras do Crime) seria providencialmente elencado.

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 387-89.

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