Filme do Dia: Capitães de Abril (2000), Maria de Medeiros
Capitães de Abril
(Portugal/Espanha/Itália/França, 2000). Direção: Maria de Medeiros. Rot. Original:
Éve Deboise & Maria de Medeiros. Fotografia: Michael Abramowicz. Música:
António Vitorino D´Almeida. Montagem:
Jacques Witta. Dir. de arte:
Guy-Claude François & Agustí Camps. Figurinos: Sabine Daisgeler.
Com: Steffano Accorsi, Joaquim de Almeida, Maria de Medeiros, Fele Martínez,
Frédéric Pierrot, Rogério Samora, Otelo Saraiva de Carvalho, Ruy de Carvalho,
José Jorge Letria, Ricardo Pais.
Madrugada de 24 para 25 de março de
1974. A militante Antónia (Medeiros) é esposa de um militar, Gervásio (Almeida)
que, mesmo cético e irônico com as possibilidades, participa ao lado de Maia
(Accorsi), de um movimento militar que invadirá Lisboa e se aproximará do Quartel do Carmo, palácio do governo. Antónia
se encontra bastante preocupada com a segurança de um aluno seu que foi feito
prisioneiro pelos militares. Os capitães conseguem depor o regime sem maiores
obstáculos e sua entrada em Lisboa é saudada com triunfo pelo povo. Manuel
(Letria), outro líder da revolta, toma de assalto a rádio mais ouvida do país. Porém,
a situação se torna mais tensa na praça diante do Quartel do Carmo. Lá se
encontra um relutante Marcelo Caetano (Pais), então governante do país desde o
derrame sofrido por Salazar. Após conquistada a vitória, Maia imediatamente
passa a ter um papel secundário no que se sucede. O poder é transferido para
outro general, Spínola (Ruy de Carvalho) e Maia escolta Marcelo até o embarque
para o exterior. Com a libertação dos presos políticos, Gervásio acabará
descobrindo que Antónia se encontra envolvida com o estudante que havia pedido
para libertar dos porões da ditadura.
Com uma produção bem superior ao dos
dramas convencionais ou dos filmes de maiores pretensões artísticas habituais
na cinematografia portuguesa, Medeiros, mas conhecida como atriz, dirigiu um
filme de resultados bastante canhestros. Fundamental para o seu insucesso é o
modo pouco articulado no qual pretende traçar os dramas pessoais e afetivos de
seus personagens e a moldura mais ampla da história política recente do país,
aliás, restrita ao momento no qual se desenrolam imediatamente as ações. Tanto
a história política quanto a intriga dramática mais comezinha – com laivos de
obviedade pouco estimulantes, como o caso do enredo secundário e de perfil mais
humorístico que une a empregda de Antónia a um soldado em vias de ser enviado à
África e salvo pela revolução – são representados de modo um tanto anêmico pelo
filme. O povo nas ruas apoiando a soldadesca é apresentado do modo mais
cinematograficamente trivial possível, devendo fazer muito pouco jus ao clima
de euforia impressionante até hoje evocado por quem participou da ocasião.
Tampouco o chavão de fazer uso da filha da personagem, vivida evidentemente
pela própria filha de Medeiros, que irá fazer os comentários finais sobre o
destino dos personagens, como eventual
testemunha-narradora dos eventos provoca maior efeito. As poucas motivações que
podem ser atreladas ao filme, que inicia com horrendas e desnecessárias imagens
documentais de cadáveres dos massacres e lutas de indepência na África, são
menos devedoras do próprio filme do que do evento histórico que busca
representar. Seja a personagem de Maia,
que mesmo tendo sido uma das figuras de maior projeção e importância no
levante, praticamente nada conquistou em troca e nem fez questão de; seja o próprio desenho pouco convencional que
a narrativa toma, considerando-se os padrões clássicos, com uma vitória
praticamente sem maiores conflitos
dramáticos envolvidos cedendo posteriormente ao momento de tensão maior
e não o oposto. O documentário Bom Povo
Português aborda o tema de modo mais amplo e com visão mais distancida,
irônica e autoral. Alia Film/France 2 Cinéma/IPACA/JBA Prod./Mutante
Filmes/Producciones Cinematográfica FilmArt/RTP/arte France Cinéma. 123
minutos.
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