Filme do Dia: Edison, O Mago da Luz (1940), Clarence Brown

 


Edison, O Mago da Luz (Edison, the Man, EUA, 1940). Direção: Clarence Brown. Rot. Original: Talbot Jennings & Bradbury Foote, a partir do argumento de Dore Schary & Hugo Butler. Fotografia: Harold Rosson. Música: Herbert Stothart. Montagem: Frederick Y. Smith. Dir. de arte: Cedric Gibbons. Cenografia: Edwin B. Willis. Figurinos: Gile Steele & Dolly Tree. Com: Spencer Tracy, Rita Johnson, Lynne Overman, Charles Coburn, Gene Lockhart, Henry Travers, Felix Bressart, Peter Godfrey.

Edison (Tracy) é um jovem cheio de sonhos que chega a Nova York e vai trabalhar em uma firma que, no mesmo prédio, conhece sua futura esposa, Mary (Johnson). Em pouco tempo Edison não apenas se destacará como criará sua própria firma, em Menlo Park, que desenvolve as invenções mais diversas, como o gravador de áudio, mas que também se afunda em dívidas por sua falta de senso prático. Nesse quesito ele busca do General Powell (Coburn), homem de dinheiro e que não interfere em seus projetos. Porém, Powell morre pouco depois e a alternativa que se impõe a ele é do mais astucioso Cavatt (Overman), preferindo dispensar seus empregados a ceder às interferências dele. Tempos depois, a insolvência de Edison é vencida, e seu projeto mais ambicioso, após ter conseguido desenvolver a iluminação elétrica, é oferecer o serviço de iluminação para a cidade de Nova York, encontrando forte oposição de ninguém menos que Cavatt, que possui interesses no uso da iluminação à gás. O debate chega a câmera da cidade e Edison tem que cumprir com as instalações de seu sistema até o dia 4 de setembro de 1882.

Nenhuma cena exemplifica melhor o espírito de seu tempo que a que Edison chega em casa carregado de preocupações – e os primeiros conflitos somente surgem com 45 minutos de filmes rodados – e sua mulher parece abrir mais um, no front doméstico, com relação a sua ausência e grosseria eventual com ela sem pedido de desculpas. Porém Mary, ao escutá-lo um pouco, pensa o quão mesquinhas são suas diatribes diante do idealismo e grandiosidade do marido, reforçando os laços conjugais, ao mesmo tempo que se anula. Fosse uma década depois e se exploraria com gosto essas tensões domésticas, talvez mesmo em uma figura tão cara e emblemática do self made man e do Sonho Americano quanto o retratado. E isso se refletirá até mesmo no star system, em que os dramas e detalhes mais picantes dos escândalos das estrelas eram ainda devidamente abafados, o que o protagonismo crescente que a intimidade passa a ter na cultura, e o enfraquecimento crescente do sistema de estúdios, não mais poderá abafar. Embora, pela própria cultura dramática hollywoodiana, a figura do inventor se destaque em relação a sua equipe, observando-se ele como muito acima do conhecimento de seus técnicos, esses sempre estão por perto. Deve-se observar a relativa tranquilidade que o filme lida com o achado da primeira lâmpada elétrica que permanece acesa durante um longo período; não há um clímax instantâneo, até mesmo que para se comprovar se funcionou mesmo o experimento ela deve permanecer acesa por horas. Porém, algumas cenas podem ser antecipadas sem grande dificuldade, quase como se houvesse as cartelas do período mudo as indicar. É o caso de um dos geradores dar problema, enquanto falta somente cinco horas para o limite do prazo. Com relação ao próprio cinema, ele é citado apenas brevemente em meio a uma quantidade de outros, numa sequência final que encavala imagens referentes aos inventos – também há uma referência a ele ter criado os filmes sonoros.  Como o filme praticamente transcorre todo em flashback, ao ponto de esquecermos que se trata de um, em homenagem a um Edison já idoso (em uma caracterização digna de envelhecimento para a época, diga-se de passagem), pode-se imaginar esse recurso narrativo, nunca tão em voga quanto nessa década, como associado às memórias do próprio Edison ou a fala que o homenageia. O discurso final de Edison parece trair um conhecimento retrospectivo do momento em que o filme foi produzido sobre a ciência; ou seja, vangloria-se de um momento de fé e confiança irrestrita no progresso até o limite de um período das incertezas postas pelo armamento nuclear e a guerra mundial que já ocorria quando de sua produção, mesmo que meia década antes da explosão das bombas nucleares sobre as cidades japonesas. Seu discurso humanista, seria o equivalente ao de Chaplin no contemporâneo O Grande Ditador, embora com retórica e apresentação bem mais comedidas. Houve consultoria da própria firma Edison – sendo que seu fundador havia morrido apenas 9 anos antes - no que parecem ser cópias fiéis das maquinarias utilizadas no período aqui retratado. Com diferença de apenas dois meses, a Metro havia lançado O Jovem Thomas Edison, com direção e elenco distintos e Tracy efetuando uma ponta não creditada admirando um retrato de Edison. Destaque para a cena em que um aloprado organista da igreja, personagem folclórica da cidadela, rege um coro e suas sombras ganham feições algo sombrias-expressionistas, em um momento particularmente destacado da narrativa, e evocativo de algumas cenas semelhantes no contemporâneo Argila, de Humberto Mauro. MGM. 107 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso