Filme do Dia: A Escolha de Sofia (1982), Alan J. Pakula

 


A Escolha de Sofia (Sophie’s Choice, EUA, 1982). Direção Alan J. Pakula. Rot. Adaptado Alan J. Pakula, a partir do livro homônimo de William J. Styron. Fotografia Nestor Almendros. Música Marvin Hamlisch. Montagem Evan A. Lottman. Dir. de arte George Jenkins & John Jay Moore. Cenografia Carol Joffe. Figurinos Albert Wolsky. Com Meryl Streep, Kevin Kline, Peter MacNicol, Rita Karin, Stephen D. Newman, Günther Maria Halmer, Greta Turken, Josh Mostel, Marcel Rosenblatt.

A judia Sophie (Streep) tenta reconstruir sua vida nos Estados Unidos em tempos sombrios, ao lado do emocionalmente instável Nathan (Kline). O casal passa a ter como amigo mais próximo um jovem aspirante a escritor que vem a morar no mesmo local que eles, Stingo (MacNicol).

A sequencia da alegria desmesurada no parque de diversões foi chupada da Nouvelle Vague, mas particularmente Truffaut (sem a melancolia de algo similar em Os Incompreendidos, mais próxima dos jogos de Jules e Jim, inclusive na composição triangular formada por dois homens e uma mulher). Ainda era uma época na qual filmes de grande visibilidade podiam apresentar um personagem masculino, ao mesmo tempo abusivo e enormemente amoroso, sobre quem o objeto de seu amor afirmará ter lhe salvo a vida – e Streep sabe-se lá por quais procedimentos terá passado em apoio à maquiagem para parecer tão exangue. Há uma previsibilidade em seu clacissismo não de todo má. Assim, quando Nathan chega eufórico e com presentes para Sophie e Stingo, acreditando ser um futuro Nobel, a comemoração dos dois últimos com a sua chegada horas depois já se antecipará como marcada por uma mudança brutal de comportamento do mesmo. Embora ao pé da letra, como aliás quase toda narrativa, não se possa afirmar ser possível Sophie escutar e colar ao que ouviu ao seu ponto de vista, consegue-se ir além do habitual. No momento em que Himmler conversa com Hess, observamos Sophie no porão a escutar a conversa. É um longo trecho de filme falado em alemão e com fotografia em preto&branco, a ressaltar sua característica de flashback. A descrição dos nazistas é menos com tinturas de grotesco que próximas de uma normalidade ou banalização do mal. Talvez mais do que a pungente escolha  a ser feita por Sophie, a se tornar quase uma expressão popular, a designar uma escolha entre dois bens tão caros ao pronunciante da mesma ou sobre quem dela fala, fica a impressão de as coisas não aparentarem ser o que são. Que por trás da personalidade construída socialmente, há uma pletora de falsificações. Caso do contado por Sophie a respeito de seu passado, escondendo o colaboracionismo de seu pai com os nazistas. E também de Nathan e sua fabulação sobre ser um grande biólogo a serviço da Pfizer a esconder sua paranoia esquizofrênica. E a proximidade desta, em certas almas sensíveis como Nathan, está a um passo da criatividade artística, parece ser sugerido, de modo relativamente discreto.   Quando estes pontos fora da curva (serão tão fora da curva assim?) assomam e, sobretudo, quando há reverberações sobre representações dominantes mais amplas, como é o caso do colaboracionismo de judeus para com o próprio holocausto ou o desejo breve de Hess (vivido de forma interessante por Halmer) por Sophie, imagina-se já a enxurrada de críticas vivida pela obra literária de Styron. Curioso um rosto tão familiar quanto o de Stephen D. Newman tenha feito tão poucos filmes. |ITC/Keith Barrish Prod. para Universal Pictures. 150 minutos.


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