Filme do Dia: A Felicidade é uma Canção Triste (2004), François Delisle

 


A Felicidade é uma Canção Triste (Le Bonheur c´Est une Chanson Triste, Canadá, 2004). Direção & Rot. Original: François Delisle. Fotografia: Edith Labbe. Montagem: Pascale Paroissien. Dir. de arte: Eric Bernard. Com: Anne-Marie Cadieux, Fréderick De Grandpré, Boucar Diouf, Micheline Lanctôt, Kent McQuaid, Luc Proulx.

Anne-Marie (Cadieux) é uma bem sucedida profissional na área de publicidade até decidir voluntariamente abandonar seu emprego e sair pelas ruas de Montreal perguntando às pessoas o que para elas representa a felicidade. Tal processo de desapego a sua antiga rotina acaba levando-a a completa falta de rumo afetivo e financeiro. A situação só muda de figura quando volta a encontrar um antigo namorado, também em situação de desnorteamento frente à vida, e tem sua câmera roubada por um viciado em drogas. Encontra um novo emprego e reencontra um relacionamento que marcara sua vida.

Embora a questão da indagação sobre a felicidade num verão tórrido canadense possa suscitar algum paralelo com o clássico documentário de Jean Rouch, Crônicade um Verão, o resultado, em comparação, soa ainda mais desastroso e equivocado. O filme torna-se prisioneira da armadilha de uma estética visual que faz uso do vídeo como motivo de aproximação da vida ordinária, tal qual os preceitos do Dogma, ao ponto de forjar uma encenação mimética de documentário que soa, no entanto, tão ou mais artificial do que se tivesse trilhado uma forma de representação sem esses artifícios. Outro elemento de apelo ao real é o suor onipresente em todos os personagens. Essa transpiração dos corpos e o apelo a uma dramaturgia que busca ir aos limites da exasperação emocional, encarnados na protagonista, são outros elementos que pretendem adicionar realismo mimético. Finda, no entanto, trespassando para sua própria narrativa a carga de desorientação – no pior sentido da palavra – de um mundo sem maiores referencias políticos, religiosos ou estéticos. Mesmo a intenção sendo interessante, a forma como se dá a representação de um mundo em que qualquer referência que fuja a rotina ao trabalho e ao capital pode significar um processo de desequilíbrio psíquico é tosca e não apresenta qualquer outro vislumbre que não um patético final de reinserção na rotina de trabalho, com a protagonista agora já “purgada” de tudo que havia de negativo em seu horizonte. A produção, nesse aspecto, de certa forma torna-se presa de uma das facetas do mundo contemporâneo que pretende pretensamente criticar, o do individualismo, já que todo o drama se desenvolve apenas no plano meramente psicológico, sendo descartados as relações de conflito no trabalho (ela pede demissão) e família (não há qualquer referencia a ela fazer parte de uma), e as referências desencontradas de felicidade que seus entrevistados dão, sugerem menos um verdadeiro diálogo com o outro, que consigo mesmos. Produzido para televisão. Films 53/12. 90 minutos.

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