O Dicionário Biográfico de Cinema#219: John Alton
John Alton (Janos ou Jacob Altman) (1901-96), n. Sopron, Hungria
No início dos anos 90, nada foi relatado que sugerisse que Alton estivesse morto, mas ninguém parecia saber onde ele estava. E então sua carreira estranha e incompreensível tornou-se mais misteriosa e romântica. Quão fácil foi supor que um dos grandes criadores das sombras, havia simplesmente optado por uma rara obscuridade. Fazia quase trinta anos que Alton deixara de trabalhar: foi o diretor de fotografia inicial em Birdman of Alcatraz [O Homem de Alcatraz] (62), mas ele e o diretor Charles Crichton foram substituídos por John Frankenheimer e Burnett Guffey. E depois disso?
Teria Alton ficado desgostoso ou desapontado? Sentiu que não havia mais razão para perder seu tempo em Hollywood? Ou reconheceu que estar com 60 era o suficiente? Retomou algum nome ou identidade húngara? - certamente não nasceu "John Alton". Se tudo isto é difícil o suficiente de explicar, ainda existe um enigma maior. Por anos, Alton trabalhou nos mais baratos dos filmes, filmes B e para consumo imediato. Então, no espaço de poucos anos, ajudou a criar o visual do cinema noir. E em seguida...foi contratado pela MGM, onde fotografou uma miscelânea de filmes, mas nunca retornou ao noir.
Os cinéfilos "redescobriram" Alton. Naturalmente, ele soube onde estivera - e havia sido em Los Angeles a maior parte do tempo, o local mais óbvio, e por esta exata razão, talvez, o melhor para se esconder. Então a lenda deu vazão a alguns fatos verificáveis.
Alton chegou na América da Hungria em 1919-20. Trabalhou nos laboratórios da MGM e então se tornou assistente de Clyde De Vinna e Woody Van Dyke. Como tal, trabalhou em Spoilers of the West [Despojadores do Deserto] (28, Van Dyke) e Wyoming [Ódio Fraternal] (28, Van Dyke), primeiros esforços de David Selznick na Metro. Alton esteve também viajando, e fez algumas filmagens em locações na Alemanha para The Student Prince [O Príncipe Estudante] (27, Ernst Lubitsch). Fez algumas filmagens em Paris para Song of the Flame [A Flama] (30, Alan Crosland), Better to Laugh* (31. E.W. Erno), e em Constatinopla para Der Mann, der den Mord Beging (31, Curtis Bernhardt).
Por esta época, Alton escolheu ir à Argentina, para ajudar a desenvolver a indústria de cinema no país. Filmou mais de vinte produções, e até mesmo dirigiu: El Hijo de Papá (32, Alton)**; Los Tres Berretines [The Three Amateurs] (32, Enrique T. Susini); La Vida Bohemia (38, Joseph Berne); e Puerta Cerrada [Porta Fechada] (39, Luis Saslavsky).
Seus créditos americanos começaram em 1940, em filmes que são difíceis de assistir, e que em alguns casos parecem ter desaparecido: The Courageous Dr. Christian [Corajoso Dr. Christian] (40, Bernhard Vorhaus); The Refugee [Fugitivos do Terror] (40, Vorhaus); Three Faces West [Fugitivos do Terror] (40, Vorhaus)***; Forced Landing [Aterrisagem Forçada] (41, Gordon Wiles); The Devil Pays Off (41, John H. Auer); Mr. District Attorney in the Carter Case [Testemunho do Cádaver] (42, Vorhaus); Moonlight Masquerade (42, Auer); The Sultan's Daugther [A Filha do Sultão] (43, Arthur Dreifuss); Atlantic City (44, Ray McCarey); Lake Placid Serenade [Ilha dos Sonhos] (44, Steve Sekely); Girls of the Big House [As Presidiárias] (45, George Archainbaud); A Guy Could Change [Mandato Supremo] (45, William K. Howard); Affairs of Geraldine [Cupido é do Barulho] (46, George Blair); The Madonna's Secret [Obsessão Trágica] (46, William Thiel); e The Ghost Goes Wild [Por Conta do Fantasma] (47, Blair).
Driftwood [Turbilhão da Vida] (47, Allan Dwan), foi um avanço, e possui algumas belas coberturas atmosféricas de Natalie Wood criança. Mas os filmes de Alton seriam reconhecidos somente posteriormente (e todos eram produções pequenas em seus dias): He Walked by Night [Demônio da Noite/O Foragido] (48, Alfred L. Werker - e com algum trabalho não creditado de Anthony Mann); Raw Deal [Entre Dois Fogos] (48, Mann); Hollow Triumph [A Cicatriz] (48, Sekely); T-Men [Moeda Falsa] (48, Mann); Reign of Terror [A Sombra da Guilhotina [49, Mann); Border Incident [Mercado Humano] (49, Mann); e Devil's Doorway [O Caminho do Diabo] (49, Mann).
A visão de Alton se adequava perfeitamente aos baixos orçamentos: usava poucas lâmpadas e deixava de lado cenários padrões; também estava disposto a angariar raiva do sindicato dos eletricistas, ao dispensar seus procedimentos preferidos. Estava tão à vontade nos cenários da Revolução Francesa, de A Sombra da Guilhotina, quanto no ambiente urbano e moderno do noir Moeda Falsa. Era uma iluminação bastante artística, a despeito de seu mau humor: em 1945, Alton publicou um livro chamado Pintando com Luz, que ajudava a chamar atenção para sua fotografia bastante rebuscada, e para a influência de Rembrandt.
Em 1950 assinou um contrato com a Metro, e foi trabalhar em Father of the Bride [O Papai da Noiva] (50, Vincente Minnelli)! Um ano depois dividiu o Oscar de fotografia em cores por An American in Paris [Sinfonia de Paris] (51, Minnelli) - seu primeiro trabalho em cores. Foi uma obra mais prestigiada e bem paga. Por dez anos, Alton foi um câmera de estúdio, ainda que Allan Dwan observou que lutou contra os sindicatos com igual zelo: Grounds for Marriage [Amor Vai, Amor Vem] (50, Robert Z. Leonard); Mystery Street [A Noite de 23 de Maio] (50, John Sturges); Father's Little Dividend [O Netinho do Papai] (51, Minnelli); The People Against O'Hara (52, Don Siegel****); ; Battle Circus [Campo de Batalha] (52, Richard Brooks); Count the Hours [Medo Que Condena] (52, Siegel); I, the Jury [Eu, o Juri] (53, Harry Essex); Take the High Ground [Dá-me Tua Mão] (53, Brooks); Cattle Queen of Montana [Montana, Terra do Ódio] (54, Dwan); Passion [Sob a Lei da Chibata] (54, Dwan); Silver Lode [Homens Indomáveis] (54, Dwan); The Big Combo [Império do Crime] (55, Joseph H. Lewis) - talvez o melhor noir que tenha trabalhado; Escape to Burma [Selvas Indomáveis] (55, Dwan); Pearl of the South Pacific [A Sereia dos Mares do Sul] (55, Dwan); Tennessee's Partner [A Audácia é Minha Lei] (55, Dwan); The Catered Affair [A Festa de Casamento] (56, Brooks); Slightly Scarlet [O Poder do Ódio] (56, Dwan) - em magnífico Technicolor tardio!; Tea and Sympathy [Chá e Simpatia] (56, Minnelli) - funesto exemplar inicial de Metrocolor; The Teahouse of the August Moon [Casa de Chá no Luar de Agosto] (56, Daniel Mann); Designing Woman [Teu Nome é Mulher] (57, Minnelli); The Brothers Karamazov [Os Irmãos Karamazov] (58, Brooks); Lonelyhearts [Por um Pouco de Amor] (58, Vincent J. Donahue); Twelve to the Moon (60, David Bradley); e Elmer Gantry [Entre Deus e o Pecado] (60, Brooks).
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 49-52.
N. do E:
(*) Não encontrei referências a este filme; provavelmente um título em inglês de alguma produção em outra língua
(**) no IMDB consta como sendo de 1934.
(***) aparentemente, os dois últimos títulos são alternativos a um mesmo filme.
(****) no IMDB, a direção é creditada a John Sturges.
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