O Dicionário Biográfico de Cinema#26: Barbara Stanwyck
Barbara Stanwyck (Ruby Stevens)
(1907-90), n. Brooklyn, Nova York
Tanto de seu caráter residia na distância entre os nomes real e profissional. Se "Barbara Stanwyck" foi uma mulher do mundo, sofisticada, implacável e uma feroz carreirista, a dama geralmente sufocava a prostituta íntima, então "Ruby Stevens" foi a garota do lado errado dos trilhos, dura por fora e macia por dentro, generosa, mas ambiciosa: a garota no burlesco que pode mascarar-se enquanto dama, quando a oportunidade permitia. Uma vez mais, sua melhor obra ficou no meio desse intervalo, exibindo-a em escalas sociais, morais e emocionais corrediças.
Stanwyck era mais inteligente e muito mais difícil que Joan Crawford, cuja obra apresentava certa semelhança a dela, e ela sempre foi mais interessante e divertida de se assistir. A maneira de sua sobrevivência, não importa se muitas vezes rebaixa o material melodramático e romântico, foi uma reivindicação de personalidade e atitude que ela acumulou em seus filmes. Não existe um retrato mais crível no cinema de uma mulher mundana, atraente e independente em um mundo masculino que o que a carreira de Stanwyck revelou. Na meia-idade e velhice, parece destilada em olhos estreitos e cabelos prateados; portanto, é digno de nota insistir que nos anos 30 e 40 ela foi deleitável, uma agitada mescla de dureza e sentimento, uma criativa mulher de duas caras.
Órfã quando criança, Ruby foi criada por uma irmã mais velha, que era dançarina. Teve uma vida difícil. Inevitavelmente, ela começou trabalhando no mesmo mundo, em clubes noturnos e eventualmente na Broadway em The Noose e como estrela de Burlesque em 1926. Foi dançarina em seu primeiro filme, Broadway Nights [Noites de Broadway] (27, Joseph C. Boyle) para o First National, e em 1929 interpretou em The Locked Door [Entre Portas Fechadas], de George Fitzmaurice. O próprio talento de Stanwyck, sua voz rouca e os esforços empresariais de seu marido, o comediante Frank Fay, rapidamente a fizeram uma estrela do cinema mudo. Ela conseguiu, com sucesso variado, interpretar com os Warners e Columbia, um contra o outro, sem nunca se ater exclusivamente a um estúdio: Mexicali Rose [Amor de Satã] (30, Erle C. Kenton); Ten Cents a Dance [A Vida é uma Dança] (31, Lionel Barrymore); e The Secrete Bride [Casados em Segredo] (34, William Dieterle).
Dois diretores se destacam em sua carreira inicial: Frank Capra e William Wellman. Com Capra, na Columbia, realizou Ladies of Leisure [A Flor dos Meus Sonhos] (30), The Miracle Woman [A Mulher Miraculosa] (31), Forbbiden [A Mulher Proibida] e The Bitter Tea of General Yen [O Último Chá do General Yen] - o último incluindo um vibrante brilho erótico quando Stanwyck sonha em ser dominada por Nils Ashter. Enquanto para Wellman, foi ameaçada por Gable em Night Nurse [Triunfos de Mulher], amadurecendo em So Big [No Palco da Vida] e em The Purchase Price [O Preço da Compra].
Sua imagem de garota insensível de virtude fácil foi mantida em Ladies They Talk About [Mulheres do Mundo] de William Keighley e em Baby Face [Serpente de Luxo] (33, Alfred E. Green), no qual ela manipula sua trajetória até a ascensão no mundo dos negócios. Difícil pensar numa atriz que expressasse uma garota dos idos dos anos 30 tão marcante, íntima, brilhante e frágil quanto um deslize, mas com olhos sempre astutos e alertas. Frequentemente uma grande atriz de cinema, temos uma primeira impressão de seu tom de pele, muito quente pela dureza brilhante.
Gambling Lady [Paixão de Jogo] de Archie Mayo e The Woman in Red [A Mulher de Verdade] (35), finalizou o contrato dela com os Warners e Columbia. Entrou então em acordo com a RKO, que lhe permitiu alguns trabalhos como free-lancer, e realizou Annie Oakley [Na Mira de um Coração] (35, George Stevens), A Message to Garcia [Mensagem a Garcia] (36, George Marshall), e His Brother's Wife [A Mulher de Meu Irmão] (36, W.S. Van Dyke). (Foi nesse filme que trabalhou a primeira vez com Robert Taylor, seu segundo marido, 1939-52). Stanwyck agora mesclava comédias com dois filmes intransigentemente sérios: Banjo On My Knee [Um Romance no Mississipi] (36) e The Plough and the Stars [Horas Amargas] (37), de John Ford. Logo após, realizou um de seus filmes clássicos: como mãe em Stella Dallas (37) para Goldwyn e King Vidor, mais emocional em que a maior parte de seus trabalhos, e imposta pela completa indignação das barreiras sociais à natureza bruta.
Após The Mad Miss Manton [Quando Elas Teimam] (38, Leigh Jason), foi uma moleca heroína de DeMille em Union Pacific [Aliança de Aço]; esteve em Golden Boy [Conflito de Duas Almas] (39); soberba como larápia de lojas em Remember the Night [Lembra-se Daquela Noite?] (40); dando uma das melhores performances cômicas americanas em The Lady Eve [As Três Noites de Eva] (41),de Preston Sturges; juntou-se a Capra para Meet John Doe [Adorável Vagabundo] (41); You Belong to Me [Você Me Pertence] (41, Wesley Ruggles); ensinando gíria criminal a Gary Cooper em Ball of Fire [Bola de Fogo] (41), de Hawks; mais dois filmes com Wellman: The Great Man's Lady [Até Que a Morte nos Separe] e Lady of Burlesque [A Morte Dirige o Espetáculo] (43), o último como uma stripper espertinha. Se a falta de escrúpulos em sua persona esteve em segredo por alguns anos, foi novamente revelada em Double Indemnity [Pacto de Sangue] (44), de Billy Wilder. Como a traiçoeira esposa loura, ela é maravilhosamente sinuosa e desaforada, a perfeita exploradora da preguiçosa inércia moral de Fred McMurray. Sua presença convida abertamente ao toque - argolinhas, sapatos de salto plataforma, vestidos com babados, tornozeleiras, ombreiras e farpas verbais - que se fecham em mãos galanteadoras. É parte do sonho americano, um conforto para um vendedor cansado, que tais Medusas borboleantes estejam esperando por trás das portas em qualquer outra casa.
Enquanto envelhecia e com a reação do pós-guerra a muitas outras estrelas estabelecidas, Stanwyck encontrou-se em diversas comédias rasas e enquanto uma mulher solteira, assediada por um homem. Esse é um papel que Joan Crawford fez o seu próprio, mas Stanwyck teve três tentativas notáveis de fazê-lo: Cry Wolf [Mansão da Loucura] (47, Peter Godfrey), The Two Mrs. Carrolls [Inspiração Trágica] e, melhor que todos, ameaçada por Burt Lancaster, em Sorry, Wrong Number [Uma Vida Por um Fio] (48), de Litvak. Stanwyck tem sido sempre a mulher de um homem e foi triste vê-la entrando no melodrama de mulheres: The Strange Love of Martha Ivers (46, Lewis Milestone); The Other Love [A Orquídea Branca] (47, André de Toth); e East Side, West Side [Mundos Opostos] (49, Mervin Le Roy). Esteve muito melhor em California [Califórnia] (46, John Farrow), em The Furies [Almas em Fúria] (50), de Anthony Mann, e excepcional novamente como uma mulher, com um passado seguro para um casamento estável em Clash by Night [Só a Mulher Peca] (52), de Fritz Lang; esta é a sua interpretação mais humana e tocante. Inegavelmente, sua carreira agora parece começar a declinar em termos de prestígio e papéis que valessem a pena. Ainda assim, mesmo nos melodramas ou como mulher dominadora, realizou diversos filmes excelentes: The File on Thelma Jordan [A Confissão de Thelma] (49), de Siodmak, no qual ela suspira, "Talvez eu seja somente uma dama e não soubesse", quando Wendell Corey a beija pela primeira vez; muito tocante em No Man of Her Own [Casei-me com um Morto] de Mitchell Leisen; All I Desire [Desejo Atroz] (53, Douglas Sirk); o excelente Blowing Wild [Sangue da Terra] (53, Hugo Fregonese), que a restabeleceu enquanto mulher sexy; duas aventuras de Allan Dwan, Escape to Burma [Selvas Indomáveis] e Cattle Queen of Montana [Montana, Terra do Ódio] (54). Uma mulher de negócios moderna em Executive Suite [Um Homem e Dez Destinos] (54), ela foi mais feliz na aventura puro sangue: enojando seu marido aleijado, Edward G. Robinson em The Violent Man [Um Pecado em Cada Alma] (55, Rudolph Maté); The Maverick Queen [Até a Última Bala] (56, Joseph Kane); Crime of Passion [Da Ambição ao Crime) (57) de Gerd Oswald; e Forty Guns [Dragões da Violência], de Samuel Füller. There's Always Tomorrow [Chamas Que Não se Apagam] (56, Sirk), foi uma tentativa de reuni-la com Fred MacMurray, mas ela entrou depois em uma relutante aposentadoria.
Reemergiu para dominar o absurdo de Walk on the Wild Side [Pelos Bairros do Vício] (62, Edward Dmytryk), juntar-se a Elvis Presley em Rustabout [Carrossel de Emoções] (64, John Rich), e para interpretar com Robert Taylor no mísero Night Walk [Quando Descem as Sombras] (65, William Castle). Ela não faria mais filmes, mas sua série de TV The Big Valley, foi um sucesso pessoal (65-69) e interpretou uma matriarca em The Thorn Birds [Pássaros Feridos] (83).
Enquanto viveu, não parecia ser uma das grandes estrelas. Mas quando morta, ficou clara o quão imensamente foi amada. Foi honesta, penetrante, corajosa e astuta. Formidável!
Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionary of Film. Londres: Knopf, 2010, pp. 9341-53.
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