The Film Handbook#189: Robert Siodmak

Imagem relacionada

Robert Siodmak
Nascimento: 08/08/1900. Menphis, Tennessee, EUA
Morte: 10/03/1973, Locarno, Suíça
Carreira (como diretor): 1929-1969

A reputação de Robert Siodmak reside em uma série de thrillers realizados durante um período breve nos anos 40. Apesar de sua obra na Europa tanto antes quanto depois desse período ser hoje raramente vista, ele permanece uma importante, ainda que subestimada, figura no desenvolvimento e exploração do estilo hoje conhecido como cinema noir.

Nascido de pais alemães-judeus, Siodmak se mudou para a Alemanha quando tinha um ano. Após trabalhar no ramo econômico e teatral, passou ao mundo do cinema como roteirista de cartelas e editor. Sua estreia na direção, Gente no Domingo/Meschen am Sonntag foi uma charmosa comédia romântica quase destituída de enredo, notável por sua análise realista e em locações dos berlineses se divertindo ao final de semana, e pelos colaboradores de Siodmk, que incluíram Edgar G. Ulmer, Wilder,Zinnemann e o irmão do diretor, Curt, posteriormente um roteirista digno de nota. Siodmak passou a diversos dramas competentes, mas nada notáveis, porém com a ascensão dos nazistas, em 1933, ele voou para Paris para continuar sua carreira. Em 1940 foi novamente forçado a fugir, e embarcou em uma série de filmes B em Hollywood, sendo os mais chamativos deles o estilizado O Filho de Drácula/Son of Dracula e o kitsch Mulher Satânica/Cobra Woman. Porém foi somente em 1944 que encontraria seu verdadeiro nicho com A Dama Fantasma/The Phantom Lady>1 um thriller soberbamente atmosférico sobre a busca de uma secretária por uma mulher desaparecida que pode propiciar um álibi para seu patrão, preso por assassinato. Bem interpretado e fazendo excelente uso de sombras expressionistas - virtualmente abstratas em uma virtuosa cena em um clube de jazz onde o flerte da heroína com uma testemunha crucial provoca um orgasmático clímax na bateria - o filme apresenta um assassino psicótico e introduziu tanto o eloquente estilo visual de Siodmak quanto sua fascinação por temas psicológicos como insanidade, obsessão, paranoia, lealdade e traição.

Nos seis anos seguintes, os obscuros e morbidamente fatalistas, além de virtuosamente construídos thrillers de Siodmak se detiveram em uma galeria de personagens vivamente elaborados, envolvidos em esforços mortais: Férias de Natal/Christmas Holiday imaginativamente faz uso de Gene Kelly e Deanna Durbin, contra os tipos habituais que vivenciavam, sendo uma cantora-anfitriã e seu criminosamente vingativo marido; em Dúvida/The Suspect e Caprichos do Destino/The Strange Affair of Uncle Harry, Charles Laughton e George Sanders, respectivamente, interpretavam  tímidos inocentes levados a praticar um crime por paixão romântica e famílias repressoras. Silêncio nas Trevas/The Spiral Staircase>2 colhia o suspense ao ter uma surda-muda perseguida por um assassino com ódio psicótico por mulheres de imperfeições físicas, enquanto Espelho d'Alma/The Dark Mirror apresentava gêmeas idênticas (ambas vividas por Olivia De Havilland), uma normal, a outra homicida esquizofrênica. De forma semelhante quando, no final dos anos 40, Siodmak se voltou para uma forma levemente mais realista de noir, filmando, como era então moda, parcialmente em locações, ele não apenas reteve seu estilo visual chiaroescuro, mas enfatizou os aspectos psicológicos e emocionais dos personagens e do enredo. Assassinos/The Killers>3 um filme de roubo com múltiplos flashbacks baseado muito vagamente em um conto de Hemingway, tem um boxeador (Burt Lancaster em sua impressionante estreia nas telas) se tornando fatalmente envolvido em um ousado assalto por sua obsessão pela traiçoeira amante do líder do bando; em Uma Vida Marcada/Cry of  the City> um policial caça um fora-da-lei que crescera com ele, e é visualmente interpretado enquanto uma imagem negativa de sua presa; Baixeza/Criss Cross repete a mescla de contenção erótica e decepção assassina de Assassinos; e A Confissão de Thelma/The File on Thelma Jordan diz respeito a um honesto promotor cuja submissão crédula e ilícita às sedutoras astúcias de uma assassina ameaça sua carreira, seu casamento e sua vida. Uma vez mais, as armadilhas do melodrama são evitadas por  interpretações finamente ajuizadas e a caracterização econômica e astuta do diretor através de meios visuais.

Nos anos 50 a carreira de Siodmak entrou em declínio. Após a gloriosa exuberância e a mordaz ironia de O Pirata Sangrento/The Crimson Pirate, que revelou os talentos acrobáticos de Lancaster com efeito gracioso, Siodmak retomou sua carreira na Europa; os filmes posteriores realizados na França e na Alemanha foram grandemente medíocres. Mas seus filmes de crime do final dos anos 40 tem raramente encontrado equivalentes, e sua obra é digna de reavaliação.

Cronologia
Os thrillers noir de Siodmak frequentemente inspiraram menções a Lang, que observava o destino  mais que a psicologia individual como força motora. Também se pode comparar Siodmak com Hitchcock, Anthony Mann, Lewis,  e talvez - mais apropriadamente - Carné

Leituras Futuras
Underworld USA (Londres, 1972), de Colin MacArthur

Destaques

1. A Dama Fantasma, EUA, 1944 c/Ella Raines, Thomas Gomez, Franchot Tone

2. Silêncio nas Trevas, EUA, 1945 c/Dorothy McGuire, George Brent, Ethel Barrymore

3. Assassinos, EUA, 1946 c/Burt Lancaster, Ava Gardner, Albert Dekker

4. Uma Vida Marcada, EUA, 1948 c/Victor Mature, Richard Conte, Shelley Winters

Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 265-6.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar