Filme do Dia: Excelentíssimos (2018), Douglas Duarte

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Excelentíssimos (Brasil, 2018). Direção e Rot. Original: Douglas Duarte. Fotografia: Camila Freitas. Montagem: Lia Kulakaukas.

Ao menos três documentários longos foram gestados nas imediações do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Além desse, terceiro longa documental de Duarte, O Processo, de Maria Augusta Ramos, o primeiro a ser lançado e Impeachment (2019), de Petra Costa, que viria a se chamar Democracia em Vertigem, e seria o maior de repercussão internacional dos três. A impressão que se fica desse, ainda mais longo que o de Ramos, é o de que o próprio local dos realizadores da produção fica escanteado. Se no filme de Ramos, torna-se fácil identificar o que é imagem de arquivo, das que foram realizadas pela equipe de filmagem, aqui tal diferenciação se torna tão pouco nítida quanto os protagonistas do filme – em uma falha ou opção lamentável, não há créditos para os que são filmados. Tampouco há um estilo único para o documentário. Se o de Ramos segue sua linha observacional praticamente à risca,  excetuando as imagens de arquivo, aqui se tem a maior parte dos momentos em imagens de arquivo ou observacionais da própria equipe, mescladas com entrevistas (com Sílvio Costa, Carlos Marun, etc), apresentação de clipes de propaganda da FIESP, presença inconstante da voz over, que aparece em determinados momentos e some por vários trechos, alguns momentos que demarcam as datas das filmagens, outros simplesmente se esquece ou ignora do recurso, utilização de segmentos com títulos que gradualmente também são esquecidos, etc. Em seu depoimento, com seu habitual tom espalhafatoso, por sinal, Sílvio Costa afirma que a chance de haver impeachment é a mesma dele casar com a filha de Obama. Carlos Marun afirma que “dois (sic) doido” são responsáveis pelo impeachment, o deputado Eduardo Cunha e o juiz Sérgio Moro. Outro momento digno de nota é o que uma série de parlamentares sai comemorando e antevisando com gozo o impeachment de Dilma e do outro lado se ouve um grupo de esquerda a gritar “fascistas, machistas, não passarão”, ao que um dos parlamentares grita em réplica que havia ido para sua manifestação “de graça”, sugerindo se tratar de manifestantes pagos. Uma montagem alterna o encontro das mulheres feministas, um dos últimos atos públicos da presidente antes de seu afastamento para o processo de impeachment com um grupo de parlamentares-pastores em oração. No momento mais tenso flagrado pelas câmeras do documentário o então presidente da Contag, Conferência Nacional dos Trabalhadores Rurais, Aristides Veras, vê-se acuado quando é chamado a depor em uma CPI predominantemente formada por deputados da bancada da bala, incluindo Jair Bolsonaro e seu filho Flávio (ambos se manifestando oralmente, inclusive) e abandona o recinto sob gritos de “bandido”, por parte de um parlamentar delegado. Logo a seguir, observa-se o discurso do então candidato com relativamente poucas chances de ascender à presidência Jair Bolsonaro. Em alguns momentos com captação de som bastante precária, como o momento que flagra uma reunião da bancada do PSDB e aliados que estão contabilizando os votos favoráveis ao impeachment, dos quais os parlamentares parecem somente se tornar conscientes da presença da câmera no meio da tomada, provocando uma situação evocativa ao Entreatos (2004),  o filme ganha vantagem em relação ao de Ramos apenas no acesso ao outro lado do partido então no poder, passeando entre as lideranças da direita e as cobrindo, mesmo que seu foco seja muito mais difuso. Destaca-se também o momento em que Aécio Neves cobre a boca, como a se defender de uma possível leitura labial, enquanto trafega pelos corredores do Senado. Pouco depois flagra um momento de assédio a Sílvio Costa por jornalistas e um encontro eventual com Cristiane Brasil, opositora ao governo que Costa trata carinhosamente, demonstrando apenas por alto como é feito o jogo de convencimento dos parlamentares que ainda se encontram indecisos. Ao final, uma súmula reduzida dos eventos que ocorrem após o impeachment de Dilma ter sido aprovado no Congresso, dando notícia sobre os protagonistas do filme após o evento, tal como virou moda nos filmes ficcionais. Pouco antes disso, houve a presença de trechos dos rostos dos presidentes desde pouco antes da ditadura militar, em suas fotos oficiais no Planalto sobre o áudio de Dilma. Esquina Filmes para Vitrine Filmes. 152 minutos.


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