Filme do Dia: As Coisas Simples da Vida (2000), Edward Yang
As Coisas Simples
da Vida (Yi Yi, Taiwan/Japão, 2000).
Direção e Rot. Original: Edward Yang. Fotografia: Wei-ham Yang. Música: Kai-Li
Peng. Montagem: Bo-Wen Chen. Dir. de
arte: Peng. Com: Nien-Jen Wu, Elaine Jin, Issei Ogata, Kelly Lee, Jonathan
Chang, Hsi-Scheng Chen, Su-Yua Ko, Shu-shen Hsiao.
Na família
Ling, N.J (Wu), empresário, encontra dificuldades no trabalho e o reencontro
com seu primeiro amor, Sherry (Ko), hoje casada com um sino-americano e morando
em Chicago. Sua mãe sofre um derrame. A irmã acredita que sua vida é
completamente vazia. A filha, Min-Min (Jin), apaixona-se por um rapaz,
conhecido como Gorducho, que a despreza, cometendo um assassinato. Já o filho
caçula, Yang-Yang (Chang), vive as descobertas de um mundo filtrado por uma
visão bem peculiar.
Enredando-se
sem pressa por subenredos que envolvem vizinhos e familiares próximos da
família Ling, Yang consegue esboçar um domínio dos códigos naturalistas, criando um certo senso de estranhamento que remonta
às melhores obras de Altman, ainda que aqui sejam menos personagens e se busque
uma maior aproximação psicológica dos mesmos, conseguindo igualmente maior
autenticidade na expressão de seus sentimentos. A definição do cinema buscado
por Yang parece ser expressa nas palavras do jovem namorado de Min-Min, quando
afirma que o cinema retrata as alegrias e tristezas da vida, ainda que a
própria Min-Min retruque, que assim seria melhor seguir somente com a própria
vida que ir ao cinema, numa alusão bem humorada a contraposição entre um cinema
de cunho mais reflexivo e autoral de um lado e um cinema de entretenimento de
outro. Yang adora retratar seus personagens através das janelas dos prédios em
que residem ou trabalham, onde ao mesmo tempo se reflete as luzes dos veículos
e o movimento intenso das metrópoles Taipei e Tóquio. A certo momento, Yang
traça um explícito paralelo entre as relações de um pai inseguro com o
reencontro de seu primeiro amor e de uma filha igualmente insegura com o
primeiro relacionamento com um rapaz, inclusive repetindo algumas das situações
vividas pelos mais velhos. É notório o seu distanciamento de elementos
dramáticos desnecessários e mesmo quando alguns acontecimentos mais intensos
ocorrem, tais como a morte da matriarca, a tentativa de suicídio do sócio-irmão
de N.J. e o assassinato, esses são apreciados de maneira distanciada e, por
vezes, irônica. Há uma evidente alusão ao sofrimento imposto a um pai e filha
românticos, honestos e excessivamente idealistas em seu contato com a fria
lógica dos negócios e as demandas afetivas-sexuais dos indivíduos com os quais
se envolvem, demonstrando o contínuo interesse do cineasta por problematizar as
relações entre indivíduos e seus embates com a sociedade mais ampla –
representados, inclusive, pela parte cômica da narrativa, na figura de
Yang-Yang, habitual vítima de um grupo de meninas mais velhas. Também é comum
ao seu estilo visual, planos abertos, que apresentam os personagens constantemente
em interação com o seu entorno.Prêmio de direção em Cannes. AtomFilms/Nemuru Otoko Seisaku Iinkai/Omega
Project/PonyEnt.173 minutos.
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