O Dicionário Biográfico de Cinema#27: Michael Ovitz

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Michael Ovitz
n. Encino, Califórnia, 1947

Ele nasceu e cresceu em San Fernando Valley, onde frequentou o ensino médio e a U.C.L.A. Casou-se com a namoradinha dos tempos ginasiais em 1969. Viveram em uma residência decente com duas crianças em Brentwood. Ao se graduar, empregou-se na agência William Morris em Beverly Hills, e lá aprendeu o negócio - ou mais particularmente a arte que envolve a televisão - com uma dívida especial com o agente Howard West. Abandonou a Morris para um curso de direito, nunca completado e voltou à agência. Avançou muito rápido por razões bem simples: era astuto, trabalhava demasiado e foi determinado. Não existe qualquer mistério verdadeiramente em ser um bom  agente. Assim como para ser um grande agente, duas coisas devem ser ditas: (1) um grande agente pode ser uma contradição em termos, porque (2) o que na verdade ele deseja? Em outras palavras, ser um agente fenomenal é ser modesto e mesmo anônimo.

Michael Ovitz possui o estilo dos primeiros, o que não o leva à obscuridade. Ele se tornou a pessoa mais reconhecida no negócio a determinado momento simplesmente porque a maior parte das pessoas no negócio o elegeu como a pessoa  mais poderosa do meio. Ele fez filmes? Não, não exatamente. existem algum filmes que são famosos por seu papel de influenciador - por exemplo, Legal Eagles [Perigosamente Juntos], Rain Man, Bugsy e Ghostbusters [Os Caça-Fantasmas]. Mas, não se sugere que ele interferiu neles, ou propôs um envolvimento criativo. Ele fez a negociação: agentes existem como 10% da negociação. E, numa época em que se paga, independente de ocorrer ou não resultado final (*), não sendo estritamente necessário que filmes sejam feitos.  Ovitz é um grande negociador.

Em 1975 formou um grupo dissidente dentro da William Morris com Ron Mayer, William Haber, Michael Rosenfeld, e Rowland Perkins. Eles acreditavam que a Morris era arcaica, complacente e muito centrada no topo. Os jovens não poderiam ir adiante. Ovitz e Meyer foram demitidos e fundaram a CAA, com orçamento bastante reduzido. Eles minaram os acordos de TV da Morris, e encontraram rápido sucesso.

A CAA tinha cerca de uma centena de agentes, uma receita anual de pelo menos 100 milhões, um elegante prédio desenhado por I.M. Pei no cruzamento da Wilshire e Santa Monica. E clientes - por exemplo, Steven Spielberg, Barbra Streisand, Madonna, Michael Jacson, Magic Johnson, Kevin Costner, Dustin Hoffman, Sean Connery, Barry Levinson, Warren Beatty, Michael Douglas, Tom Cruise e Robin Williams.

A agência possui rivais: ainda a William Morris e a ICM. Mas a CAA desfrutou diversos anos de proeminência, dependente da receita e talento, e uma soberba insinuação de Ovitz de seu misterioso ego na alta política do show business. Ele foi temido, invejado e desaprovado em alguns círculos. É dito dele que inflacionou os salários dos talentos top; que havia reduzido os estúdios a funcionários desesperados de possuir suficientes grandes projetos; que observava a vital aliança de estrelas independentes e a proteção advocatícia de seus interesses.

Tudo isso é verdadeiro, natural e inevitável. Ovitz é somente o homem que cristalizou o novo estado de poder, uma vez que o sistema de estúdios ruiu. Cada talento se tornou seu próprio estúdio. Mas talento é algo geralmente inseguro e Ovitz percebeu o quão longe agências podiam abrigar, promover e impulsionar as estrelas. Ele fez seu trabalho, e não era realmente seu trabalho se preocupar com os filmes, com exceção em que medida afetavam as perspectivas de suas carreiras e de negociar posições.

Há mais de Ovitz. Ele interpretou papéis discretos, mas muito importantes, nas negociações através das quais a Matsushita comprou a MCA (por 6.6 bilhões) e a Sony adquiriu a Columbia (3.4 bilhões). Envolveu a CAA em consultoria de transações com a Coca-Cola e Credit Lyonnais (o proprietário efetivo da MGM). Participou da estratégia que levou David Letterman a CBS. Esses avanços parecem naturais em um jovem que parecia entediado em apenas reunir o que era necessário para os filmes. Noutras palavras, a lógica da carreira de Ovitz o levou sempre ao alto, e quão mais alto chegou, mas perigosa a vida se tornou, porque estava fazendo muito mais do que acordos. Estava envolvido em diplomacia, sonhos e estratégias, todos sabendo o caminho para o inferno.

Isso foi em 1994. Um ano depois, por sua decisão, mas com o sentimento de que não buscava estabilidade, Ovitz deixou sua própria agência. Ele desejava o cargo máximo da Universal, mas se desapontou. Ao primeiro sinal de inimigos prontos para vê-lo humilhado. Ao contrário, Michael Eisner, contratou-o como o segundo da Disney, uma negociação que durou ao menos um ano e terminou em um acordo de indenização de cerca de 100 milhões. Desde então, Ovitz se envolveu em diversas empreitadas - Livent, ganhando uma franchise da NFL para Los Angeles - sem sucesso. Voltou-se então ao que pensava conhecer, agenciamento, mas com uma indústria organizada contra ele, e com o papel de agente mais suspeito. Formou então uma nova companhia, a Artists Television Group. No entanto, pelo verão de 2001, estava demitindo muitos empregados, com rumores de perdas na altura de 70 milhões de dólares. O golpe de misericórdia veio em maio de 2002, quando sua companhia mudou de mãos. Aos 55, o arco de Ovitz estava completo. Estava? Ele aceitaria a história ou não? Naturalmente, seu legado está intacto: ele presidiu o mais massivo crescimento nos preços que jamais houve.

Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionary of Film. Londres: Knopf, 2010, pp. 7371-79.

(*) (N.do T.) pay or play, expressão de língua inglesa de difícil tradução,  originalmente.

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