The Film Handbook#176: William Dieterle

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William Dieterle
Nascimento: 15/07/1893, Ludwigshafen, Alemanha
Morte: 09/12/1972, Ottobrunn, Alemanha Ocidental
Carreira (como diretor): 1923-1960

Embora não exista consistência temática ou estilística nos filmes de Wilhelm (sic) Dieterle que sugiram algo mais que um eficiente artesão, a ambição, variedade e inteligência de sua melhor obra estimula qualquer reavaliação de sua negligenciada carreira.

Enquanto ator do teatro e cinema alemães, Dieterle trabalhou para Max Reinhardt, Murnau, Paul Leni e E.A. Dupont antes de dirigir ele próprio seus filmes, frequentemente escolhendo enredos bastante inusitados. Sex in Chains/Geschlecht in Fesseln ofendeu a censura com seu olhar para o amor na prisão. Em 1930 foi convidado pela Warner Brothers para Hollywood: após interpretar Ahab na versão alemã de Moby Dick, dirigiria O Último Vôo/The Last Flight>1, um impressionante e frágil drama cômico sobre os nervos e corpos de quatro ex-pilotos aniquilados pela Grande Guerra. Profundo e honesto ao sugerir o niilismo que subjaz na jovialidade de Era do Jazz, é um sombrio e tocante, infelizmente negligenciado, clássico.

Diversos filmes menores bem realizados se seguiram - Névoa do Mistério/Fog Over Frisco é notável não somente por seu ritmo frenético e virtuosa montagem, mas como pelo modo que se desfaz de sua heroína, ao estilo de Psicose/Psycho, após vinte minutos de filme. Seu Sonho de uma Noite de Verão/A Midsummer Night's Dream>2, excentricamente estrelado por Mickey Rooney como Puck e James Cagney enquanto Bottom, é inspirado, enquanto a fotografia e cenários extravagantes foram fundamentais para seu lirismo mágico. Ele alternaria então entre uma série de lentas, reverenciais e banais biografias (Pasteur, Zola, Juarez), estreladas por Paul Muni com obras mais ambiciosas. Bloqueio/Blockade foi uma narrativa ingênua, mas controversa, sobre a Guerra Civil Espanhola, enquanto uma versão épica de O Corcunda de Notre Dame/The Hunchback of Nôtre Dame criaria um definitivo e grotescamente patético Quasímodo na forma de Charles Laughton, evocando memoravelmente um ignorante mundo medieval intolerante e cruel à margem da instrução e do esclarecimento.

Futuras biografias se seguiram, de Reuter e Dr. Erlich (o inventor da cura para a sífilis) antes do notável O Homem Que Vendeu a Alma/All That Money Can Buy>3. Deslocando a lenda de Fausto para a Nova Inglaterra, com um ambicioso fazendeiro jovem vendendo sua alma a um caipira maliciosamente perverso chamado Sr. Scratch, o filme mesclava cultura americana dos anos 1840 com Expressionismo alemão com engenhoso e firme efeito. Então, tendo realizado uma das mais inventivas tentativas de Hollywood de lidar com o fenômeno do jazz (Cavalgada de Melodias/Syncopation), Dieterle assinou contrato com David O. Selznick e - além de filmar parte de Duelo ao Sol/Duel in the Sun - realizou dois derramados melodramas estrelados por Jennifer Jones e Joseph Cotten: apesar de carregados de enredos ridículos, tanto Um Amor em Cada Vida/Love Letters (a amnésia de uma garota é curada pelo amor do amigo de seu falecido noivo) quanto O Retrato  de Jennie/Portrait of Jennie>4 (um artista apaixona-se pelo fantasma de uma garota morta) funcionaram enquanto celebrações vívidas e desembaraçadas do amour fou através de um meticuloso trabalho de câmera (Jennie alterna preto&branco, sépia e cores) e interpretações de rara convicção.

Após sofrer diversos ataques da Comissão de Atividades Anti-Americanas (CAAA), a carreira americana de Dieterle findou com uma série de romances pouco inspirados, e ele retornaria à Alemanha para dirigir um punhado de filmes antes de voltar ao teatro. Se a sua trajetória foi inevitavelmente errática, seu talento com projetos pouco usuais, particularmente aqueles envolvendo elementos grotescos ou sobrenaturais, provaram-se vigorosos, originais e inteligentes.

                                                                 Cronologia
A amizade de Dieterle com Reinhardt, Ludwig Berger e várias outras figuras do teatro e do cinema certamente influenciaram sua obra; ele foi amigo próximo de Brecht, cuja viagem aos Estados Unidos ele parcialmente financiou e com quem planejou diversos filmes (abortados).
          

                                                                  Destaque 
1. O Último Võo, EUA, 1931 c/Richard Barthelmess, Helen Chandler, David Manners

2. Sonho de uma Noite de Verão, EUA, 1935 c/James Cagney, Victor Jory, Olivia De Havilland

3. O Homem Que Vendeu a Alma, EUA, 1940 c/Walter Huston, James Craig, Edward Arnold

4. O Retrato de Jennie, EUA, 1949 c/Jennifer Jones, Joseph Cotten, Lillian Gish

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 80-1.


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