Filme do Dia: A Esposa do Dr. Hanaoka (1967), Yasuzô Masumura
A Esposa do Dr.
Hanaoka (Hanaoka Sheishû no Tsuma,
Japão, 1967). Direção: Yasuzô Masumura. Rot. Adaptado: Kaneto Shindô, baseado
no romance de Sawako Ariyoshi. Fotografia: Setsuo Kobayashi. Música: Hikaru
Hayashi. Montagem: Kanji Suganuma. Dir. de arte: Yoshinobu Nishioka. Com: Ayako
Wakao, Hideko Takamine, Raizô Ichikawa, Yûnosuke Itô, Misako Watanabe, Chisako
Hara, Chieko Naniwa, Taketoshi Naitô.
A jovem Kae
(Wakao) é pedida em casamento para o filho do Dr. Hanaoka (Itô), Umpei
(Ichikawa), que se encontra afastado para estudos. Ela aceita, mesmo com a
contrariedade inicial do pai. Kae admira muito a mãe de Umpei, a bela Otsugi
(Takamine), de forte personalidade. Após a morte do pai, Umpei inicia suas
pesquisas sobre anestesia e toma conta de seus pacientes em casa, com a ajuda
de alguns assistentes. A irmã de Umpei morre de câncer. Ele testa seus
experimentos em anestesia em gatos, mas teme fazer uso de seus pacientes como
cobaias. Kae, que havia sido afastada para a casa dos pais durante a gravidez e
sua mãe, oferecem-se como cobaias. Umpei
testa primeiro com a mãe em doses fracas, depois com Kae com uma dosagem mais
forte. A tensão entre as duas mulheres é sempre forte.grande. Otsugi não perdoa
Kae por ter tido uma filha e nunca mais ter gerado outro bebê, de preferência
homem, para se tornar o herdeiro da família. Kae perde sua criança numa gripe.
Otsugi morre após algum tempo. Outra irmã de Umpei se encontra enferma, também
com câncer, Okatsu. Após servir uma segunda vez como cobaia, Kae fica cega.
Cega e com 40 anos ela acaba ficando grávida e tendo o esperado filho-herdeiro
de Umpei. Esse se torna o primeiro médico a aplicar a anestesia em cirurgia em
1810, que é um sucesso.
Narrado
como se fosse a partir da ama de criação de Kae, e fotografado em p&b, provavelmente
por Masumura achar mais condizente com o gênero de filmes históricos aos quais
não se encontrava entre os realizadores habituais. Talvez o filme finde por se
ressentir disso. Enquanto Masumura consegue trafegar por gêneros (yakuza,
melodrama, comédia) diversos ambientados na realidade contemporânea,
imprimindo-lhes seu toque pessoal, aqui tal toque parece se restringir a
questão da condição feminina, motivo presente em boa parte de sua produção. E
mesmo assim, em grande parte reprodutora do que já havia sido expresso antes
por Mizoguchi. Aqui, Okatsu, personagem grandemente secundária, porém atenta
observadora da relação conflituosa entre a mãe e a cunhada, será quem
expressará o ponto de vista talvez mais antenado com a ideologia de seu realizador:
quando duas mulheres entram em conflito, o único a se beneficiar disso é o
homem pelo qual elas entraram em conflito. A perspectiva diferenciada com que
Kae compreende a figura feminina mais madura de Otsugi é que se torna
verdadeiramente o tema do filme, compreendendo diversas fases, da admiração
desde criança até o momento que vai morar com a família, passando pela revolta
quando de seu casamento até a compreensão tardia e póstuma de uma figura a qual
acredita dever sua fibra. Talvez igualmente essa seja a grande força do filme,
que perde, no entanto, em seu tom demasiado cinza e lúgubre, não se escusando
em apresentar todas as feridas de seus enfermos, assim como as experiências com
gatos, de forma quase sádica – a determinado
momento, por exemplo, Umpei abre o seio de uma mulher e extrai
literalmente o seu câncer, noutro ele enfia uma lâmina em um gato. E, pior que
isso, pois ainda se pode compreender sua proposta de apresentar o sofrimento de
frente, expondo literalmente suas cicatrizes, talvez seja a falta de síntese de
uma narrativa que parece querer dar conta de muitos dos detalhes do romance que
lhe serviu como base, como os inúmeros momentos nos quais se detém nas
experiências com anestesia na mãe e esposa de Umpei, na necessidade de
apresentar os funerais da filha precocemente falecida de Kae, etc. Destaque
para o brilho da veterana Hideko Takamine, atriz-fetiche de Mikio Naruse.
Daiei. 100 minutos.
Comentários
Postar um comentário