Filme do Dia: O Banquete (2018), Daniela Thomas



46º Festival de Cinema de Gramado – terça-feira, 21 de agosto – TV ...
O Banquete (Brasil, 2018). Direção: Daniela Thomas. Rot. Original: Daniela Thomas & Beto Amaral. Fotografia: Inti Briones. Música: Antonio Pinto. Montagem: Daniela Thomas. Dir. de arte: Valdy Lopes. Figurinos: Cássio Brasil. Com: Drica Moraes, Mariana Lima, Caco Ciocler, Rodrigo Bolzan, Fabiana Gugli, Gustavo Machado, Chay Suede, Bruna Linzmeyer, Georgette Fadel.
Idos dos anos 90. Grupo de amigos e colegas de trabaho são convidados para um jantar na casa de Nora (Moraes). Seu marido, Plínio (Ciocler), chega bêbado e constrange quem esta pronto para servir os convidados, Ted (Suede). O pretexto para a reunião são os dez anos da união do influente Mauro (Bolzan) e de sua mulher, a atriz Bia (Lima). Dentre os convidados se encontra Maria (Gugli), Lucky (Machado), colunista social, uma garota de programa fantasiada de mulher-gato (LInzmeyer) e Claudinha (Fadel), camareira de Bia. As tensões, à flor da pele, logo explodem, sob a iminência de Mauro, o mais poderoso de todos e que manteve relações com todas as mulheres do ambiente com exceção da lésbica Claudinha, vir a ser preso a qualquer momento por ter publicado, mesmo que inadvertidamente, uma carta aberta contra o presidente.
Paga-se caro pela ousadia tentada. Raros filmes conseguem se sustentar em ambientes fechados do início ao final. Essa produção não é exceção, saindo-se mal nas três possibilidades maiores de se firmar. Enquanto retrato de uma época, através de seus personagens, comentário político sobre o país (inclusive, e principalmente, o atual) ou ajuste de contas entre casais, senda que o filme parece perseguir com mais afinco. Enquanto comentário político sobre um momento em que o pensamento liberal se debate com a derrocada de sua própria escolha não vai além de umas poucas referências. Enquanto despojamento por camadas, das tensões pessoais do grupo, mesmo com um raro momento de inusitada pungência, no duelo entre a amante e a mulher de Mauro, o filme é um flagrante desperdício de inocuidades, regada a interpretações exageradas e irrelevância dos dramas apresentados. Sim, fulano traiu sicrana com beltrana. Sim, Lucky pretende fazer sexo com Ted. A mais sincera pergunta a ser formulada é um “e daí?” para essa malfadada tentativa de um retrato de um fragmento de nossa elite que sucumbe ao grotesco da caricatura, cuja melhor expressão talvez seja o bebum de Ciocler. Embora o tenso engomadinho jornalista Mauro de Bolzan – inspirado, inclusive visualmente, no editor da Folha de São Paulo Octávio Frias -  funcione em chave ainda mais unidimensional. E a fila poderia continuar, como é o caso da “mal comida” Maria.   Quando Plínio surge ao início, bêbado como um gambá, como define sua própria mulher que o despreza, tem-se uma anunciação do que se espera, prognóstico esse infelizmente acertado. E até mesmo frases que poderiam ter um papel subversivo mais amplo, caso o contexto ajudasse, como quando Bia afirma ser o amor que há de mais obsceno em um mundo no qual o sexo virou lugar-comum, sexo esse que teria como metáfora todas as relações de poder implicadas entre as personagens, descem rapidamente esgoto a baixo no manancial dos lugares-comuns. Se cineastas como Polanski, acostumados a lidarem com ambientes claustrofóbicos tiveram experiências mal sucedidas em tentativas similares (caso de O Deus da Carnificina), Quem Tem Medo de V.Woolf?  (1966), de Mike Nichols, continua um dos poucos filmes que venceu os obstáculos de restrições similares, em grande parte tanto ao talento de seu elenco quanto ao maravilhoso texto que tinha em mãos. Definitivamente não é o caso aqui, em que nada de sólido se ergue para além das referências priápicas de seus personagens. Cisma Prod. para Imovision. 104 minutos.

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