Filme do Dia: Pais e Filhos (2013), Hirokazu Kore-eda



PAIS & FILHOS - Hirokazu Koreeda - DVD
Pais e Filhos (Soshite Chichi ni Naru, Japão, 2013). Direção e Rot. Original: Hirokazu Kore-eda. Fotografia: Mikiya Takimoto. Música: Takeshi Matsubara, Junichi Matsumoto & Takashi Mori. Montagem: Hirokazu Kore-eda. Dir. de arte: Keiko Mitsumatsu & Kazunari Hattori. Cenografia: Akiko Matsuba. Figurinos: Misako Kajimoto & Kazuko Kurosawa. Com: Masaharu Fukuyama, Machiko Ono, Yôko Maki, Lily Franky, Keita Ninomiya, Shôgen Hwang, Yuri Nakamura, Kazuka Takahashi.
Ryota (Fukuyama) é um bem sucedido e competitivo homem de negócios e obcecado pelo seu trabalho. Embora seja bem casado com Midori (Ono), parece algo ressentido pelo filho de ambos, Keita (Ninomiya), não apresentar um talento especial e fibra para nada em que se mete a fazer. O casal recebe uma notificação do hospital em que Midori teve seu filho e ficam sabendo que, na verdade, houve uma troca de crianças, e que o filho natural deles é Ryusei (Hwang), que vive com um casal de comerciantes, Yukari (Maki) e Yudai (Franky), e dois irmãos mais jovens. Tentando inicialmente fazer com que as duas crianças tenham experiências graduais em outras famílias, em pouco tempo Ryota pretende que cada um fique com seu filho natural e não mais mantenha relações com a outra família. Certo dia, no entanto, Ryusei, inconformado com seu novo padrão de vida, distante da rua e do humor leve de quem considerou seu pai até o momento, foge de casa. Midori, que dormia no momento, fica desesperada. Eles vão até a residência dos Saiki, após confirmarem que ele se encontra por lá. Tentando se aproximar do garoto há tempos,  Ryota observa que Ryusei continua distante e, mesmo depois de chama-lo pela primeira vez de pai e ter se divertido com ele e Midori em brincadeiras, volta a falar sobre a vontade de retornar a casa dos pais adotivos. Midori, por sua vez, sente-se culpada, pois fica imaginando como estará Keita e por a cada dia mais se apegar a Ryusei. Após ver fotos que Keita havia feito dele na câmera, Ryota finalmente se emociona e sente-se culpado por como tratara o menino, decidindo ir uma vez mais a casa dos Saiki. Lá, Keita foge de casa quando o vê, e ele o segue, mantendo certa distância e tentando convencê-lo de que gosta dele e pedindo desculpas pela forma como agira. Keita, após certa relutância, abraça-se com Ryota e ambos voltam a residência dos Saiki, em que todos aguardavam preocupados.
Trabalhando com a matéria básica do qual são feitos a maior parte dos melodramas familiares – família mais humilde mais aberta aos sentimentos, pai de melhor posição social com pouco tempo para mulher e filho, mulher se sentindo culpada por não ter identificado o verdadeiro filho (e, inclusive, vindo a ser questionada por isso em um tribunal), angústia das crianças a partir da troca (Ryusei por se encontrar em um mundo repleto de bem estar material, mas ausente de afeto mais espontâneo e físico; Keita por se sentir rejeitado pela sua primeira figura paterna), etc. – Kore-eda lida com sentimentos básicos sem fazer uso de opções estilísticas que acentuem o sentimentalismo. Assim, cenas de forte carga emocional como a de Ryota descobrindo o quanto era importante para Keita ou esse se deslocando em sua dignidade ferida, acompanhando não de tão longe por Ryota não precisam de nada muito além delas próprias para emocionar. É lógico que se pode questionar que a essência melodramática permanece intacta ao se apostar que os sentimentos podem transformar as pessoas de características muito fortes de suas personalidades – e aqui o x da questão é Ryota. Seu final acena para um convívio menos tenso entre as duas famílias, a partir do momento em que  decide modificar sua postura. Algumas subtramas, como a da visita de Ryota para contestar o desejo da enfermeira que efetuara conscientemente a troca de se retratar são um tanto desnecessárias para o cerne do drama aqui posto, em que “sangue” e “hábitos”, assim como o desejo de se ver refletido em seu próprio filho, ganham protagonismo. Ambas as crianças escolhidas se saem muito bem e é difícil ficar incólume ao carisma emanado por um Keita vivido por um ator de nome idêntico e sobrenome quase. Na banda sonora, porém em momentos acertadamente menos dramáticos, as Variações Goldberg de Bach na interpretação de Glenn Gould. Prêmios do Júri e Ecumênico no Festival de Cannes. Amuse/Fuji Television Network/GAGA. 121 minutos.

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