Berlinale

Dirigido por Diao Yinan, o filme policial chinês Black Coal, Thin Ice surpreendeu o público ao levar o prêmio de melhor filme da Berlinale (Festival de Filmes Internacional de Berlim), neste sábado (15), na capital alemã. Além do Urso de Ouro pela honraria, o longa ainda faturou o Urso de Prata de Melhor Ator (Liao Fan). A Berlinale 2014 teve recorde de venda de ingressos – 300 mil em dez dias de festival.
Com o prêmio,  Black Coal, Thin desbancou a produção favorita ao principal prêmio do evento, Boyhood, de Richard Linklater, que foi honrado como melhor diretor na 63ª edição do evento, o principal voltado ao cinema da Alemanha, presidida pelo produtor James Schamus. 
"É difícil acreditar que esse sonho que tive por tanto tempo se tornou realidade", disse o diretor com aparência surpresa ao receber o prêmio na noite deste sábado, no Berlinale Palast.
Black Coal, Thin Ice se passa no norte da China e conta a história de um policial que é suspenso depois de sobreviver a uma troca de tiros com suspeitos de um assassinato. Cinco anos depois, outra série de homicídios misteriosos leva o agora perturbado e alcoólatra ex-agente de volta à ativa.
Surpresas do Oriente
A China apresentou três expoentes de seu novo cinema na competição. O olhar desses novos cineastas para um país em rápida transformação revelou um cinema promissor, mas que ainda precisa amadurecer sua cinematografia. No entanto, o júri se encantou com o filme de Diao, que não era considerado o favorito.
Com imagens elaboradas e trilha sonora que tenta recriar a sensação de um cego, Blind Massage, de Lou Ye, foi o mais interessante dos filmes chineses no evento e levou o prêmio de contribuição artística por sua fotografia.
O japonês Yoji Yamada apresentou o delicado The Little House, uma história de um amor proibido na Tókio dos anos 1930 e 1940 vivida pela criada da casa, interpretada por Haru Kuroki, que também surpreendeu ao levar o Urso de Prata de melhor atriz.
Outros vencedores
A comédia de mistério e aventura O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, que abriu o festival e conta com um elenco de estrelas que causou frisson em Berlim, acabou levando o Grande Prêmio do Júri.
Os irmãos Dietrich e Anna Brüggemann levaram o Urso de Prata de melhor roteiro por The Station of the Cross, dirigido por Dietrich. Life of Riley, do veterano Alain Resnais, faturou o Prêmio Alfred Bauer por "abrir novas perspectivas na arte cinematográfica".
Olhar infantil
Diversos filmes apresentados no festival buscaram o universo ou o olhar infantil no desenrolar de suas histórias. Entre eles, o favorito Boyhood. O tocante e divertido longa sobre a infância e adolescência de um menino é também um sensível e corajoso projeto cinematográfico. Durante 12 anos, Linklater reuniu um grupo de atores para contar as aventuras de uma família.
O filme é focado em Manson (Ellar Coltrane) e em sua jornada de descoberta do mundo através da relação com o pai ausente (Ethan Hawke), a mãe (Patricia Arquette) e seus casamentos, e sua irmã mais velha, Samantha (Lorelei Linklater).
Dois filmes alemães apresentaram grandes atuações de jovens protagonistas. Ivo Peitzcker brilha no drama Jack, de Edward Berger, na pele de um menino de dez anos que toma conta, sozinho, de si mesmo e do irmão mais novo já que a jovem mãe trata os filhos como amigos. É quando um acidente muda o destino da família.
The Station of the Cross, que também era forte candidato ao Urso de Ouro, mostra o cotidiano da adolescente Maria (Lea Van Acken), cuja vida é comandada por sua fé na Igreja Católica. A jovem não consegue lidar com a família conservadora e os desafios do mundo contemporâneo.
O austríaco Macondo, de Sudabeh Mortezai, fala das dificuldades de um menino checheno ao tomar conta de sua família e, ao mesmo tempo, buscar um modelo em seu processo de amadurecimento para se tornar um adulto em um mundo com poucas opções e limitadas perspectivas.
Outro destaque foi o argentino Historia del Miedo. O filme mostra de maneira apocalíptica o cotidiano e as tensões entre ricos e pobres no país através das relações de moradores e empregados em um condomínio de luxo no subúrbio de Buenos Aires.
Bom ano para o cinema brasileiro
O cinema brasileiro triunfou na Berlinale desst ano com a dupla premiação de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. O longa de estreia de Daniel Ribeiro, que conta a história de um jovem cego que se descobre gay, ganhou o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema e o Teddy Awards de melhor filme de temática GLBT. O longa ainda ficou em segundo lugar na escolha do público da mostra Panorama, na qual também foi apresentado O Homem das Multidões, de Cao Guimarães e Marcelo Gomes.
A estreia de Praia do Futuro na mostra competitiva não empolgou a crítica e polarizou opiniões. A história do salva-vidas Donato, que abandona a família no Brasil para viver com o namorado em Berlim, tem belas imagens, cenas de sexo realistas e boa trilha sonora, mas se perde na transição entre o Brasil e a Alemanha. Ainda assim, com o futuro lançamento em diversos países são grandes as expectativas de que o belo filme de Aïnouz conquiste público – e prêmios – mundo afora.
Outro destaque foi Castanha, de Davi Pretto. O filme brinca com o real e o ficcional ao mostrar a vida do ator e transformista. Através da relação do protagonista com sua mãe, o diretor mergulha na essência do personagem e fala de amor, família e arte.
O longa de Pretto fez parte da mostra Forum, que neste ano apostou em novas visões da realidade através de filmes que transitavam entre o documentário e a ficção, como O Sequestro de Michel Houellebecq,de Guillaume Nicloux – uma paródia do suposto sequestro do escritor francês, em 2011. A reflexão sobre mídia, literatura e a atual França foi um dos mais divertidos e interessantes filmes da Berlinale.
Recorde de público
A Berlinale 2014 será lembrada pelo recorde de venda de ingressos – foram 300 mil em dez dias de festival – mas também por sua morna competição.


A 64ª edição do Festival de Cinema de Berlim mostrou que o cinema está buscando novos caminhos, não só como forma artística, mas em sua visão de retratar a realidade e potencializar seu caráter político.
Fonte: Terra.

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