Filme do Dia: Mulheres Apaixonadas (1969), Ken Russell
Mulheres Apaixonadas (Women in
Love, Reino Unido, 1969). Direção: Ken Russell. Rot. Adaptado: Larry
Kramer, baseado no romance de D.H. Lawrence. Fotografia: Billy Williams.
Música: Georges Delerue. Montagem: Michael Bradsell. Dir. de arte: Kenneth
Jones. Cenografia: Harry Cordwell. Figurinos: Shirley Russell. Com: Alan Bates,
Oliver Reed, Glenda Jackson, Jennie Linden, Eleanor Bron, Alan Webb, Vladek
Sheybal, Catherine Wilmer.
1920. As irmãs e professoras Gudrun (Jackson) e Ursula (Linden) se
apaixonam ao mesmo tempo por dois amigos, Gerald Crich (Reed) e Rupert Birkin
(Bates), respectivamente. Ursula, tipo mais convencional, não entende o motivo
de Rupert nunca se encontrar satisfeito somente com ela, após ter rompido sua
relação com Hermione (Bron), e necessitar de uma amizade masculina que seja tão
importante quanto ela, algo que vê em Gerald. Gerald, por sua vez, possui uma
relação menos convencional com Gudrun que, ao mesmo tempo que afirma não
amá-lo, não consegue se libertar do prazer que esse lhe proporciona. Ele a
busca, após a morte do pai (Webb) e a humilhação que lhe é imposta pela
excêntrica mãe (Wilmer). Quando os dois casais se unem para uma temporada numa
vila alpina coberta de neve, após a partida de Rupert e Ursula, a situação fica
cada vez mais tensa. Gudrun se sente atraída pelo conhecimento artístico e a
espiritualidade do alemão Loerke (Sheybal), despertando a fúria de Crich. Ele
acaba se deixando morrer em meio a neve, provocando o desconsolo de Rupert,
enquanto Gudrun especula sobre a possibilidade de partir para a Alemanha.
O filme que deu visibilidade internacional a Russell, mesmo que longe
de conseguir traduzir a intensidade lírica do romance de Lawrence, talvez seja igualmente
o seu melhor, inclusive dada a sua relativa frugalidade diante dos excessos que
serão uma marca registrada de sua filmografia posterior, descontado talvez o
uso pouco interessante da trilha musical, que procura meio que emprestar
intensidade emocional em dois ou três momentos, no mais vulgar sentido habitual
de um cinema de pretensões “artísticas”, e provocando, na realidade, o efeito
oposto. É mais do que evidente que Russell capitalizou na excentricidade e
relativa liberalidade dos personagens de Lawrence, em parte inspirados no
célebre círculo de Bloomsbury, tendo em vista o momento no qual o filme foi
produzido, onde imagens de um casal de namorados que se lança ao rio
completamente despido no meio de uma festa mais parece egresso de algum festival
de rock da época. De todo modo, não tão intensamente quanto o livro, que foi
censurado como obsceno a época de seu lançamento, o filme conseguiu chegar às
telas após alguns cortes que dizem respeito sobretudo a luta entre Gerald e
Rupert completamente nus (sendo considerada a primeira nudez frontal masculina
em um filme para grande público, juntamente com o americano Medium Cool). Fundamentais para que o
filme transcenda os habituais e insípidos dramas históricos de inspiração
literária ao estilo posteriormente celebrizado por James Ivory são as
indagações sobre a própria natureza das paixões humanas que três dos quatro
personagens principais se defrontam. Pode-se até achá-las por demais
discursivas, ainda que de fato o sejam igualmente no romance. De todo modo
ganham boa sustentação por parte do elenco, sobretudo Reed, que consegue
impregnar seu personagem pseudo-afásico com um tipo de tensão que somente
consegue dar vazão através da realização de um sexo selvagem. É essa crescente tensão entre ele e Gudrun,
que se pressupõe acabar de maneira trágica, pois fruto de uma relação que beira
a psicose, que mantém o interesse aceso na segunda metade do filme. Destaque
para o admirável modo abrupto com que o filme inicia e finda. Brandywine Prod.
para United Artists. 131 minutos.
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