Dos colégios, o de São José é o mais antigo e afamado. Foi provavelmente fundado logo após a Igreje de São Sebastião, encontrando-se ao pé do morro que traz seu nome, perto da rua da Ajuda. Na frente há um portão, mais que sólido, degenerando já para o pesado estilo brasileiro. Passando por debaixo desse portão, os visitantes atingem uma vasta área aberta, coberta de grama, em cujo fundo encontram um só lance de edifício com janelas de rótulas pintadas de vermelho. A aparência externa oferecia sinais palpáveis de negligência, e exames ulteriores confirmavam as primeiras impressões. [...] Avistamos uns poucos colegiais que se achavam por ali passeando, de beca vermelha, alguns já tonsurados, mas a maior parte ainda muito jovem. Não apresentavam nenhuma elasticidade de espírito, nenhuma curiosidade sagaz, nenhuma urbanidade de maneiras e pouquíssimo asseio pessoal. Examinaram-nos com um pasmo estúpido,  demonstrando ao que nos pareceu a influência da ignorância despótica sobre as forças que ela pretende cultivar. Ao sairmos dali, estávamos todos prontos a dizer: "Nem um raio de ciência jamais penetrou aqui." [...] um outro colégio, mais respeitável quanto à aparência e direção que o anterior, encontra-se na estreita e suja rua de São Joaquim, tendo o mesmo nome que ela. Ali os letrados fazem praça de educar os jovens para funções de estado e de lhes ensinar muito especialmente os conhecimentos próprios para esse fim. Mas embora o governo empreste o seu patrocínio à instituição o número de estudantes é pequeno e, na realidade, a casa não está em condições de os receber em grande quantidade. Distinguem-se estes por seus trajes de lã branca, mas o estado dos quartos adapta-se mal à cor de suas vestes.
(John Luccock, Notas sobre o Rio de Janeiro e as Partes Meridionais do Brasil. Tomadas Durante uma Estada de Dez Anos Nesse País, de 1808 a 1818. in: SUSSEKIND, Flora. O Brasil Não é Longe Daqui. São Paulo: Cia das Letras, 2006. p. 83.

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