Filme do Dia: Um Copo de Cólera (1999), Aluísio Abranches

Um Copo de Cólera (Brasil, 1999). Direção: Aloísio Abranches. Rot. Adaptado: Aluísio Abranches & Flávio R. Tambellini, baseado no romance de Raduan Nassar. Fotografia: Pedro Farkas. Música: André Abujamra. Montagem: Idê Lacreta.Com: Alexandre Borges,  Júlia Lemmertz, Ruth de Souza, Lineu Dias, Marieta Severo. 
      Uma jornalista (Lemmertz)  vive com um agronômo (Borges) que resolveu se isolar do mundo, em sua fazenda,  uma relação amorosa atravessada por um longo dia de explosões de fúria de ambos os lados, desde que, no café da manhã, esse resolve correr desesperado para atacar as saúvas que apareceram em sua propriedade. O bate-boca só finda quando, ao invés do momento de amor que pensa viver, a jornalista, que fora atiçada pelo pé de seu companheiro no seu sexo, acaba se revoltando quando esse acaba rindo de sua situação e abandona a propriedade, onde cai no chão, completamente vencido por suas próprias perturbações, sendo reerguido pelos caseiros que há pouco humilhara. No final da tarde, a jornalista, como sempre não resistindo ao retorno, reencontra-o completamente despido e indefeso em posição fetal na cama.
      Embora a proposta de se adaptar diálogos literários com um viés também literário seja instigante, pela sua originalidade, o resultado não se sustenta desde o início, sendo constrangedor e aborrecido, seja nos diálogos repletos de adjetivos, clichês e frases de efeito, que talvez ainda provocassem alguma reação no teatro, ou ainda na tentativa de se apresentar como um produto artisticamente refinado e cult, através da música, fotografia bem cuidada e ritmo. De uma gravidade absurdamente pomposa, o filme se torna ridiculamente pretensioso, mesmo nas cenas de amor “ousadas” do casal, que soam tão artificiais quanto o filme como um todo. Como expressão de erotismo e obsessão sexual se encontra a anos-luz de O Império dos Sentidos (1976), de Oshima. Como adaptação de uma fonte extra-cinematográfica a anos-luz de Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966) de Nichols, que também apresenta uma situação de conflito conjugal em uma situação espaço-temporal igualmente comprimida, devido, em grande parte, a limitação dos atores e da fonte literária. Ravina Produções. 70 minutos.

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