Filme do Dia: O Céu de Suely (2006), Karim Ainouz
O Céu de Suely (Brasil/França/Alemanha, 2006). Direção: Karim
Ainouz. Rot. Original: Karim Ainouz, Felipe Bragança & Maurício Zacharias.
Fotografia: Walter Carvalho. Música: Berna Ceppas, Kamal Kassin & João
Nabuco. Montagem: Tina Baz & Isabela Monteiro de Castro. Dir. de arte:
Marcos Pedroso. Com: Hermila Guedes, Maria Menezes, Zezita Matos, João Miguel,
Georgina Castro, Cláudio Jaborandy, Marcélia Cartaxo, Flávio Bauraqui, Matheus
Vieira.
Hermila
(Guedes) se descobre jovem mãe solteira após retornar de São Paulo para o
sertão do Ceará, na cidade de Iguatu, com o filho pequeno Matheus (Vieira). Sem maiores
perspectivas de vida e reagindo de maneira ambígua aos galanteios de seu
ex-namorado, o mototaxista João (João Miguel) e se tornando cada vez mais
próxima da prostituta Georgina (Castro), ela decide rifar a si própria
para conseguir dinheiro e partir para bem longe. Logo, todos ficam sabendo e a
avó de Hermila, Zezita (Matos), a expulsa de casa. Sua tia, Maria (Menezes),
ainda lhe arranja um programa para que complete o dinheiro da viagem. Hermila,
reconciliada com a avó, parte.
O
segundo longa dirigido por Ainouz, longe do mesmo fôlego de Madame Satã,acaba ficando entre um
naturalismo centrado em afetos, ilusões e decepções de personagens menores como
o de Cidade Baixa e um desprezo por
eventos narrativos mais afeitos ao cinema de gênero, tal como em Cinema, Aspirinas e Urubus (ambas
produções das quais foi co-roteirista). Ainda que seu tom poético e o carinho
que traça os pequenos atos de sua protagonista sugiram, sem dúvida, uma
aproximação maior com o último, o filme por vezes acaba igualmente flertando
com um sensacionalismo que possui como maior fonte, as emoções em estado bruto
de seus personagens pouco lapidados, tal como no filme de Sérgio Machado. O
resultado final, soa mais efetivo em uma visada retrospectiva do que durante
seu imediato transcorrer, algo que se deve em grande parte ao afinado trabalho
do elenco. Seu modo de traduzir aspectos da cultura regional e local se afastam
tanto da exaltação dos mitos da cultura popular na filmografia de Rosemberg
Cariry quanto da perspectiva extremamente subjetiva e anti-naturalista de um
cinema mais autoral quanto o de José Araújo, dois outros realizadores
cearenses. Celluloid Dreams/Fado Filmes/Shotgun Pictures/Videofilmes. 90
minutos.
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