Filme do Dia: Amor Profundo (2011), Terence Davies
Amor Profundo (The Deep Blue
Sea, Reino Unido/EUA, 2011). Direção: Terence Davies. Rot. Adaptado:
Terence Davies, a partir de uma peça de Terence Rattigan. Fotografia: Florian
Hoffmeister. Montagem: David Charap. Dir. de arte: James Merifield, David
Hindle & Sarah Pasquali. Cenografia: Debbie Wilson. Figurinos: Ruth
Myers. Com: Rachel Weisz, Tom Hiddleston, Simon Russell Beale, Ann Mitchell,
Barbara Jefford, Jolyon Coy, Karl Johnson, Oliver Ford Davies.
Segunda Guerra Mundial. Hester
(Weisz) abandona o casamento com o bem situado socialmente juiz, Sir William
Collyer (Beale) para viver uma tórrida paixão com um piloto da Força Aérea,
Freddie Page (Hiddleston). A relação entre ambos é sempre marcada pelo tom
indignado, ressentido e violento de Page. Mesmo com as constantes súplicas do
ex-marido para retornar, Hester tenta o suicídio, mas mantém os sentimentos
pelo amante. Com o final da guerra, a relação entre ambos entra em declínio,
com Freddie cada vez menos socialmente adaptado. Quando surge uma possibilidade
de trabalho e aventura no Rio de Janeiro, ele decide que é hora de partir e
avisa no mesmo dia para Hester.
Talvez o que torne esse filme de
Davies mais interessante, seja a absoluta recusa de atualizar sua mais que
convencional relação de submissão feminina e quase indiferença masculina dos
dias da peça de Rattigan aos dias em que o filme veio a ser produzido. E, agindo
assim, tudo parece ainda mais afinado com a sua habitual direção de arte,
fotografia e iluminação características, repletas de nostalgia e com direito às
canções, cantadas coletivamente em pubs e estações de metrô, a singelo meio
passo entre a empostação absoluta do musical e a mais realista discrição.
Certamente não se deve esperar algo particularmente original nem com a
pungência somente conseguida de todo nos filmes de matriz fortemente
autobiográfica do realizador (A Trilogia
de Terence Davies, Vozes Distantes),
mas o habitual esmero na direção de atores e na reconstituição da atmosfera de
uma época faz com que o envolvimento com os personagens se torne quase
inevitável. Ao final, tal como no episódio mais tocante de sua trilogia, Children (1976), observa-se a câmera se
distanciar dos personagens, demarcando-os dentro de seu cenário e, ao mesmo
tempo, intensificando a situação de dor em contraste com as ações cotidianas
vividas pelos que se encontram nos arredores, alguns deles bem próximos
fisicamente da protagonista. Talvez a utilização do Concerto para Violino e Orquestra, Opus 14, de Samuel Barber seja
demasiado enfático e funcione de forma menos orgânica que as canções da época
que habitualmente povoam seus filmes – aqui basicamente restritas aos momentos
diegéticos referidos. Uma versão para as telas da peça havia sido produzida
pouco depois de sua estreia teatral, dirigida por Anatole Litvak, com Vivien
Leigh e Kenneth More nos papéis principais. Em pouco tempo, a dramaturgia de
Rattigan cairia do gosto com a explosão de John Osborne e de seus angry young men, que também dominariam
as telas cinematográficas inglesas a partir do final dos anos 50. Camberwell-Fly Films/Film4/UK Film Council/Lipsync Prod./Protagonist
Pictures/Fulcrum Media Services/Artificial Eye para Music Box Films. 98 minutos.
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