Filme do Dia: Cinema Novo (2016), Eryk Rocha

 


Cinema Novo (Brasil, 2016). Direção: Eryk Rocha. Rot. Original: Juan Posada & Eryk Rocha. Fotografia: Eryk Rocha & Renato Valone. Música: Ava Rocha. Montagem: Renato Valone.

Pode-se falar algumas coisas não muito abonadoras sobre esse documentário, que vão desde uma certa preguiça em se deter em alguns pontos nodais do Cinema, inclusive a questão Embrafilme até coisas menores (mas não menos importantes!) como a ausência de crédito aos filmes que tem seus trechos exibidos, acantonando-os coletivamente em meio ao rápido subir dos créditos; um pecadilho para quem investiu, com todo direito, aparentemente, em uma apresentação mais didática do movimento e espécie de convite às novas gerações para conhecerem os filmes e quando toda imagem ou áudio dos realizadores, por mais vezes que apareçam, são sempre creditados. Porém, duas opções ao menos são elogiáveis, senão três. A primeira, é a presença um tanto democrática de vários realizadores, muitas vezes em imagens de arquivo pouco  conhecidas (como a que Louis Marcorelles apresenta praticamente todos os nomes principais do movimento, e ainda uma cineasta venezuelana e Marco Bellocchio), sendo até relativamente discreta a participação de Gláuber, líder inconteste, figura de longe de maior projeção internacional e, last but not least, pai do cineasta e a quem já havia dedicado Rocha Que Voa. A segunda é que, goste-se ou não – e não deixa de ser interessante sua estratégia – o filme praticamente se ampara do início ao final em imagens de arquivo, observando o testemunho dos realizadores em sua própria época e não visões retrospectivas, que tendem a serem condescendentes. Parece haver imagens da própria produção do documentário, ou não se teria os créditos de direção de fotografia, mas elas não permanecem na memória findo o filme. Terceira,  parece uma chance única quase de se redescobrir boa parte das imagens cinema-novistas que  estão estalando de novas em seu fulgurante preto&branco, como as de Deus e o Diabo na Terra do Sol ou A Grande Cidade, O Desafio ou Os Fuzis. Ou ainda as cores carnavalescas, alegres de Macunaíma. O recorte que Rocha faz do movimento parece levar em conta predominantemente a década de 1960. Depois, como alguém comenta, a ditadura consegue afastar o espírito de coletividade que marcara intensamente os primeiros anos, com colaborações de uns nos filmes dos outros, caso de Nelson Pereira dos Santos a fazer a montagem de A Falecida, de Hirszman, visto em vários depoimentos. Porém, noutros momentos é em parte generoso ou mesmo equivocado, ao incluir Walter Hugo Khouri ou Fernando Coni Campos e, em menor extensão, o crítico precursor do cinemanovismo Alex Viany e Domingos de Oliveira. Rocha faz uso bastante esporádico, de associações mais evidentes, caso dos tiros disparados que possuem como “contraplano” a queda de um jogador em Garrincha, Alegria do Povo. Embora muitas vezes seus realizadores não reconhecessem notórias influências Gláuber, a certo momento, vincula praticamente todos os realizadoeres a momentos importantes anteriores da história do cinema internacional. E o próprio filme evoca o massacre das escadarias de Odessa em Encouraçado Potemkin ao de Deus e o Diabo. Traz trechos de, além dos já citados Rio 40 Graus, Rio Zona Norte, Mandacaru Vermelho, Vidas Secas, O Pátio, Barravento, Terra em Transe, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, A Idade da Terra, Os Cafajestes, Os Deuses e os Mortos, Pedreira de São Diogo, Maioria Absoluta, São Bernardo, Eles Não Usam Black-Tie, Couro de GatoO Padre e a Moça, Brasília, Contradições de uma Cidade Nova, Cinema Novo, Arraial do Cabo, Porto das Caixas, Capitu, Menino de Engenho, Na Boca da Noite, A Lira do Delírio, Ganga Zumba, A Grande Cidade, Os Herdeiros, O Bravo Guerreiro, Cinema Brasileiro: Eu e Ele, Iracema, Uma Transa Amazônica, Subterrâneos do Futebol, O Profeta da Fome, Assalto ao Trem Pagador, Viramundo, Yaô, Opinião Pública, Mauro, Humberto, Colagem, Todas as Mulheres do Mundo, Viagem ao Fim do Mundo,  O Corpo Ardente, São Paulo S/A, A Hora e a Vez de Augusto Matraga, Gimba, Redenção, A Grande Feira, Bahia de Todos os Santos, Aruanda, Ganga Bruta, O Canto da Saudade, Limite, Um Dia na Rampa, Jardim de Guerra, Manhã Cinzenta, Vadiação, Em Defesa do Cinema BrasileiroNelson Filma, Walter. Doc. Coqueirão Pictures/Aruac Filmes  91 minutos.

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