Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#69: Argentina Sono Film

ARGENTINA SONO FILM.  A maior produtora de filmes argentinos de todos os tempos, Argentina Sono Film S.A.C.I., foi também o primeiro estúdio no país a realizar filmes com som óptico (na película). A companhia foi formada pelo financista Don Ángel Mentasti; o diretor de cinema Luis Moglia Barth (que realizou dois longas silenciosos); um advogado, Julian Ramos; e Robert Favre, que havia sido o gerente da divisão argentina da companhia de cinema Pathé. Tango! (1933), produzido, escrito e dirigido por Moglia Barth, tornou-se a primeira produção da Argentina Sono Film, apresentando um desfile de cantores populares (Miazana Azucena, Libertad Lamarque, Mercedes Simone), comediantes (Luis Sandrini, Pepe Arias) e atrizes (Tita Merello, Alicia Vignoli), assim como as orquestra de tango de Juan de Dios Filisberto, Osvaldo Fresedo, e Pedro Maffia. Os dois filmes seguintes da companhia, El Dancing (1933) e Riachuelo (1934), também foram escritos e dirigidos por Moglia Barth. 

Com o número crescente de produções - duas em 1935, quatro em 1936, seis em 1937 e 1938, nove em 1939 - novos diretores foram convidados a trabalhar com a Argentina Sono Film, incluindo o mais notável dentre eles, Mario Soffici, com El Alma de Bandoneón (1935), estrelado por Libertad e Santiago Arrieta; Luis César Amadori, que co-dirigiu Puerto Nuevo, em 1936, com Soffici; e Luis Saslavsky, que co-dirigiu Puerta Cerrada (Porta Fechada), com John Alton, em 1939. Moglia Barth continuou a ser o principal diretor, tendo realizado 15 longas à época de Boína Blanca (1941), que a determinado ponto Amadori e Soffici assumiram, o primeiro dirigindo oito filmes entre 1941 e 1943. Moglia Barth realizou a primeira adaptação sonora de um romance argentino famoso, Amalia (1936), de José Marmol. Dirigiu mais musicais, tais como Melodías Porteñas (1937), mas também realizou filmes de crime, tais como Con El Dedo en el Gatillo (1940). O esforço mais notável de Soffici no estúdio foi Kilómetro 111 (1938), talvez o primeiro filme argentino a denunciar o imperialismo britânico. Amadori foi um crítico de teatro e compositor de tangos, antes de ser contratado pela Sono Film. A maioria de seus filmes foram comédias românticas, que algumas vezes focavam em personagens marginalizados, incorporando uma crítica social. Porta Fechada foi um dos mais memoráveis melodramas de Libertad Lamarque, e o trabalho de cinematografia de John Alton foi tão relevante para o filme, que ficou acordado seu crédito como co-diretor. Como em sua contribuição para outro grande estúdio argentino, Lumiton, Alton deixou sua marca visual na Sono Film.

A produção nacional argentina teve seu pique em 1942, quando mais de 30 estúdios empregavam cerca de 4 mil técnicos e 56 filmes foram realizados. A Argentina Sono Film teve seu maior ano em 1941, quando dez filmes foram realizados, e ainda que a produção tenha decrescido após isso, o estúdio foi capaz de se recuperar de 1945 em diante, mesmo tendo a indústria mexicana capturado o mercado latino-americano com métodos de produção de baixos custos. Vinte e quatro filmes foram realizados no restante da década e uma produção com uma média de mais de quatro filmes por ano continuou ao longo dos anos 50, caindo para 3.4 por ano, nos anos 60. Amadori se tornou o chefe da Sono Film em 1940 (assegurando 50% das ações), e dublou os filmes de Walt Disney em espanhol. Continou a ser um diretor de cinema prolífico até meados dos anos 50, quando partiu para o exílio na Espanha (em 1956), por conta de suas simpatias peronistas. Os anos 1950 foram os mais prestigados do estúdio. Filmes foram dirigidos por Carlos Hugo Christensen, Lucas Demare, Hugo del Carril e, particularmente Leopoldo Torre Nilsson, que realizou cinco filmes na Sono Film nesta década, incluindo sua obra-prima, La Casa del Ángel (1957). Dos anos 1960 até o presente, começando com Obras Maestras del Terror (1960), uma antologia de Edgar Allan Poe, a Sono Film voltou-se mais e mais para filmes sensacionalistas cômicos, de horror e de ação. Títulos típicos são Los Superagentes Contra Todos (1980), Extermineitors II: La Venganza del Dragón (1990) e Brigada Explosiva: Misión Pirata (2008). Apesar disso, a Argentina Sono Film é certamente a mais bem sucedida companhia de cinema sul-americana, tendo realizado mais de 200 produções desde sua criação.

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 52-54.