Filme do Dia: A Aventura (1960), Michelangelo Antonioni

 


A Aventura (L´Avventura, Itália/França, 1960). Direção: Michelangelo Antonioni. Rot. Original: Michelangelo Antonioni, Enio Bartolini & Tonino Guerra, sob argumento de Antonioni. Fotografia: Aldo Scavarda. Música: Giovanni Fusco. Montagem: Eraldo Da Roma. Dir. de arte: Piero Poletto. Figurinos: Adriana Berselli. Com: Gabrielle Ferzetti, Monica Vitti, Lea Massari, Dominique Blanchar, Renzo Ricci, Dorothy De Poliolo, Lelio Lutazzi, Giovanni Petrucci, Esmeralda Ruspoli, Jack O´Connell, Ângela Tomasi Di Lampedusa.

Anna (Massari) parte com amiga Claudia (Vitti) e o namorado Sandro (Ferzetti) para uma ilha próxima a Sicília, onde se reúnem num iate com um grupo de amigos. Porém, Anna desaparece misteriosamente sem deixar qualquer vestígio. Sandro e Claudia partem para uma pretensa investigação sob seu paradeiro, mas na verdade se encontram mutuamente atraídos um pelo outro. Claudia, em poucos dias se espanta com a própria indiferença em relação ao paradeiro da amiga e, acreditando-se apaixonada por Sandro, acabará flagrando-o com uma prostituta, Gloria Perkins (De Poliolo) no hotel em que se hospedam.

Primeiro filme do que ficou conhecido como a Trilogia da Incomunicabilidade, ao qual se sucederam A Noite (1961) e O Eclipse (1962). O filme é notável pela desconstrução  tanto da “gramática normativa” associada ao cinema clássico, quanto com as expectativas comuns aos filmes de gênero de então. Nesse sentido, o que aparentemente sugere ser mais um filme de mistério e suspense a respeito de uma garota desaparecida, transforma-se na expressão do próprio vazio de seus protagonistas. Colabora para tanto as  inusitadamente belas composições visuais e sua não menos esplendorasa textura de p&b, onde a predominância de motivos visuais de tons claros e repletos de luz contrasta com as angústias de seus personagens. A aproximação densa da subjetividade dos mesmos e, paradoxalmente, sua recusa em reproduzir o modelo clássico, ancorado a partir do ponto de vista deles confluem no seu menosprezo pela narrativa calcada na ação, ao demonstrar, por exemplo, tão pouco interesse no desaparecimento de Anna enquanto principal foco narrativo. Tal estratégia traça uma “revolução” que já podia ser vislumbrada em filmes como Viagem à Itália (1953), de Rossellini, e seria radicalizada em títulos posteriores do cineasta como O Eclipse, no qual a mesma Vitti (então companheira de Antonioni), viverá uma personagem com angústias semelhantes, o que também ocorrerá em  Deserto Vermelho (1964). Prêmio do Júri em Cannes. Cino del Duca/Produzione Cinematografiche Europee/Robert & Raymond Hakin Co./Societé  Cinématographique Lyre. 145 minutos.

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