Filme do Dia: O Submarino (1928), Frank Capra
O Submarino (Submarine, EUA, 1928). Direção: Frank Capra. Rot. Adaptado: Dorothy
Howell, a partir de conto de Norman Springer. Fotografia: Joseph Walker. Música: Maurice Baron &
David Broekman. Montagem: Arthur Roberts. Dir. de arte: Harrison Wiley. Com:
Jack Holt, Dorothy Revier, Ralph Graves, Clarence Burton, Arthur Rankin, Joe
Bordeaux.
Jackie Dorgan
(Holt) e Bob Mason (Graves) são amigos inseparáveis em seu trabalho na Marinha,
mas também de noitadas e mulheres. Corgan é um escanfadrista exímio,
considerado o melhor do ramo. Mason, no entanto, recebe ordens de se juntar a
equipe de um submarino, afastando-se de Jackie. No ínterim, Jackie casa-se com
uma jovem que conhece em um clube noturno, Bessie (Revier), de forma um tanto
impulsiva. Na primeira viagem que Jackie parte, ausentando-se por uma semana
Bessie resolve voltar ao mesmo clube noturno onde conhecera o marido e,
fazendo-se passar por solteira, engata um caso amoroso com ninguém menos que
Mason, que se encontra então de passagem pela cidade. Após voltar de viagem
Jackie apresenta o melhor amigo a esposa e o dois não disfarçam o choque do
reencontro. Pior que isso, Jackie flagra os dois numa situação de enlace
amoroso. A amizade finda. Pouco tempo depois, Bob Mason se encontra numa
situação mortal, com seu submarino, atingido acidentalmente por um destroier,
no fundo do mar. Jackie Corgan é o único escafandrista capaz de descer até tais
profundezas e levar um tubo de ar para os tripulantes já praticamente sem
esperanças e um capitão que pensa em suicídio coletivo. Ele so decide fazê-lo
quando descobre uma liga que a esposa usa que trazia a marca registrada dos
presentes de Bob Mason, percebendo que não fora uma ação unilateral desse. Com
o sucesso da missão, a amizade entre os dois retorna, enquanto Bessie faz uso
de seus habituais expedientes na boate onde também conhecera os dois rapazes.
Aproximando-se,
ao menos superficialmente, de uma seara distinta tanto dos filmes que dirigira
anteriormente (as comédias com Harry Langdon) quanto dirigirá após (os dramas
morais pelos quais é mais lembrado), Capra consegue efetuar um filme com bom
senso de ritmo, mesmo que fortemente prejudicado por sua previsibilidade
rotineira no que toca praticamente a todas as situações que envolvem o inescapável
triângulo amoroso – sendo que essa triangulação favorece, ao final, a dupla
masculina, ratificando que o amor que sentem um pelo outro é, na verdade, mais
importante que o devotado a qualquer mulher, não sendo por acaso, inclusive,
que o relacionamento surgido com Bessie se dê justamente quando o amigo se
encontra ausente. Mesmo que lidando com tipos sem qualquer profundidade
psicológica, algo bastante recorrente no cinema de então, embora alguns
cineastas extraíssem ouro de tais limitações (caso de Frank Borzage com, entre
outros, o contemporâneo Sétimo Céu).
Não é exatamente o caso dessa produção em que os códigos do melodrama privado
são postos a dianteira não apenas pela narração do filme como, de forma
demasiado caricata, pelos próprios personagens de Bessie e, sobretudo, Jackie
Dorgan, que apenas se presta a salvar dezenas de vidas além do seu então
desafeto Bob Mason, após descobrir que sua mulher tivera participação ativa no
processo de sedução. Se é verdade que a Bessie de Revier possui um nível de
autonomia em relação ao desejo impensável para os tempos pós-Código Hays,
também o é que se encontra vinculada à chave convencional (e condenatória) da
frivolidade promíscua. Bem pior que isso, no entanto, é se perceber o quanto a
dupla principal se destaca de todos de seu meio – Jackie como o único ser sobre
a terra que conseguirá descer tão fundo no mar, Bob com uma moral elevada ao
ponto de fazer truques de magia quando todos já se encontram entregues ao
desespero – ao ponto do ridículo involuntário de se ter um Bob, assim como o
capitão, como os únicos que não se encontram afetados até próximo do final pela
falta de oxigênio que já provoca sérios efeitos em todos os outros; do capitão,
que não demonstra nenhum sinal extremo de ter sido afetado, poder-se-á sugerir
cinicamente que por conta de se encontrar próximo dos cilindros de ar, ainda se
beneficiasse do restante dos mesmos. Irwin Willat, co-dirigiu-o, mesmo que não
tenha sido creditado. Embora não possua diálogos, fazendo uso habitual das
cartelas, é um filme que faz uso de efeitos sonoros, sendo o primeiro produzido
pelo estúdio nessa categoria. Uma nova versão do conto de Springer foi
realizada em 1937, O Diabo à Solta,
dirigida por Erle C. Kenton. Columbia Pictures Corp. 90 minutos.
Comentários
Postar um comentário