Filme do Dia: Eles Não Usam Black-Tie (1981), Leon Hirzsman


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Eles Não Usam Black-Tie (Brasil, 1981). Direção: Leon Hirzsman. Rot. Adaptado: Leon Hirzsman, baseado em peça de Gianfrancesco Guarnieri. Fotografia: Lauro Escorel. Música: Adoniram Barbosa, Chico Buarque & Gianfrancesco Guarnieri. Montagem: Eduardo Escorel. Dir. de arte: Jefferson Albuquerque, Francisco Osório & Marcos Weinstock. Figurinos: Yurika Yamasaki. Com: Carlos Alberto Ricelli, Bete Mendes, Gianfrancesco Guarnieri, Fernanda Montenegro, Milton Gonçalves, Lélia Abramo, Rafael de Carvalho, Fernando Ramos da Silva.
Tião (Ricelli) possui planos de se casar e constituir família com a também operária Maria (Mendes). Ele é filho do veterano líder sindical Otávio (Guarnieri) e da dona de casa Romana (Montenegro). Maria se encontra grávida e o noivado deles se encontra planejado para dentro de duas semanas. Durante esse período, no entanto, os sonhos dos dois são atropleados pela realidade. O pai de Maria, alcoólatra, é assassinado quando retornava para casa, o que a torna mais vinculada a família, por conta da mãe (Abramo) doente e do irmão de criação menor (Silva). Uma greve estoura, provocando uma cisão na família e, posteriormente, na própria relação de Tião com Maria. Tião permanece favorável ao trabalho mesmo testemunhando a prisão do pai e sabendo depois do espancamento e quase perda do filho de Maria, sendo rejeitado tanto pelo pai quanto por Maria. O movimento parece ganhar ainda maior força após o assassinato de uma de suas maiores lideranças, Braúlio (Gonçalves).
Esse, ironicamente talvez o filme mais conhecido de Hirzsman no exterior e também seu último longa de ficção, é uma obra menor em sua carreira. Hirzsman procura unir o ambiente contemporâneo de redemocratização e explosão do movimento sindical no país para reatualizar a dramaturgia engajada que fora a semente de sua própria geração a partir dos idos de 1960. Certamente lida com ambientes e temas que lhe são bastante familiares, mas a sensibilidade que demonstrara ao devassar o universo psicológico do subúrbio carioca (em A Falecida) ou o requinte visual que fora a marca de sua obra-prima, São Bernardo, acabam sendo vencidos pela  esquemática contraposição entre o pai engajado e o filho alienado de sua fonte teatral. O que não deixa de ser curioso quando se leva em conta o modo extremamente original e sensível com que havia se aproximado dos universos de Nélson Rodrigues e Graciliano Ramos. Aqui, mesmo em termos estéticos, o filme parece se contaminar por um certo desleixo que ainda pode ser interpretado como condizente com o ambiente sofrido e pobre que retrata, solução fácil quando se percebe a riqueza com que ambiente semelhante foi trabalhado na adaptação de Rodrigues. Se até mesmo em seu curta de estréia, Pedreira de São Diogo (segmento do longa Cinco Vezes Favela), talvez o mais panfletário de todos os seus filmes, ainda há uma correspondente demonstração de talento visual no modo de enquadrar as cenas que ganham dimensões épicas, aqui infelizmente apenas soçobram chavões e uma tentativa de manipulação emocional que ganha contornos por vezes de um didatismo constrangedor – como é o caso da fala em que Maria põe aparentemente um fim em sua relação com o pai do filho que espera, sendo aliás a escalação de Ricelli como operário uma das piores escolhas de elenco possíveis. Talvez um dos poucos momentos verdadeiramente dignos de nota seja o que Romana/Montenegro se despede do filho ou cata feijão ao lado do marido, ambos em silêncio, onde o habitual gosto do realizador por planos longos de mais de um ou dois minutos se faz presente. Prêmios FIPRESCI e Grande Prêmio do Júri em Veneza. Embrafilme/Leon Hirzsman Prod. Cinematográficas para Embrafilme. 120 minutos.

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