O Dicionário BIográfico de Cinema#132: Gérard Philipe

 

Gérard Philipe (Gérard Philip) (1922-59), n. Cannes, França

Existe um tipo de ator romântico que imprime a si próprio de maneira mais profunda ao morrer cedo: Valentino, James Dean e Gérard Philipe. Philipe era mais jovem que Yves Montand e apenas três anos mais velho que Michel Piccoli. Morreu quando a regeneração do cinema francês estava se iniciando, e é tentador imaginá-lo nos filmes de Demy, Chabrol ou Rohmer. De fato, do final da guerra até sua morte havia prenunciado a precária mudança da comédia e tragédia na Nouvelle Vague. Ainda que frequentemente tenha sido explorada a sua reputação de ídolo das matinês, Philipe nunca foi excessivo. Como muitas das grandes estrelas, sorriu quando triste e nunca esqueceu a melancolia nos momentos de alegria.

Em qualquer extremidade de sua carreira, interpretou homens preocupados com sexo: como o fogoso, mas fracassado adolescente, apaixonado por Micheline Presle em Le Diable au Corps [Adúltera] (47, Claude Autent-Lara) e como o divertido e meditativo sátiro, Valmont, trazendo algo da calma de Laclos a Les Liaisons Dangereuses [Ligações Amorosas] (59), de Roger Vadim. Estava bem equipado para a auto-observação dos homens jovens de Stendhal. Ainda que nem La Chartreuse de Parme [À Sombra do Patíbulo] (47, Christian-Jaque) nem Le Rouge et le Noir [O Vermelho e o Negro] (54, Autant-Lara) sejam tão fidedignos a Stendhal, como Max Ophüls poderia ter garantido, em ambos os casos as interpretações centrais de Philipe - como Fabrizio e Sorel - capturando o envolvimento simultâneo e desinteresse dos heróis de Stendhal. 

Originalmente, um ator do teatro, Philipe nunca abandonou o teatro. Seu primeiro filme foi Les Petits du Quai aux Fleurs (43, Marc Allégret), mas foi somente após a guerra que seu ar de esperança arruinada fez seu impacto, notavelmente em Adúltera e como o ansioso Mishkin em L'Idiot [O Idiota] (46, Georges Lampin). Sua habilidade para trazer uma tensão criativa a filmes modestos foi enfatizada em Une Si Jolie Petite Plage (48), de Yves Allégret. Não muitos filmes obteram tal pessimismo pungente de uma face, que olha para fora da tela, através daquela desolada praia invernal. Depois disso, esteve  em Souvenirs Perdus [Lembranças do Pecado] (49, Christian-Jacque); como Fausto em La Beauté au Diable [Entre a Mulher e o Diabo] (50, René Clair); como o Conde em La Ronde [A Ronda] (Ophüls), quem pesarosamente certifica Isa Miranda que a felicidade não existe; Avec André Gide (51, M. Allégret);como o prisioneiro sonhador em Juliette ou la Cléf des Songes (51, Marcel Carné); Fanfan la Tulipe (52, Christian-Jacque); uma vez mais como um romântico sonhador em Les Belles de Nuit [Esta Noite é Minha] (52, Clair); Les Orgueilleux [Os Orgulhosos] (53, Y. Allégret); cativante como o francês em Londres, perseguindo as rosas britânicas, em Monsieur Ripois [Um Amante Sob Medida] (54, René Clement); Si Versailles M'Etait Conté [Se Versalhes Falasse...] (53, Sacha Guitry); o provinciano Don Juan da brigada, em Les Grandes Manoeuvres [As Grandes Manobras] (55, Clair); em 1956 atuou e dirigiu Les Aventures de Till L'Espiègle [As Aventuras de Till]; Pot-Bouille [As Mulheres dos Outros] (57, Julien Duvivier); como Modigliani em Montparnasse 19 [Os Amantes de  Montparnasse] (57, Jacques Becker); La Vie à Deux [A Mentira do Amor] (58, Clement Duhour); numa versão de um conto longo de Dostoievski, Le Jouer (58, Autent-Lara). Seu último papel, quando já estava seriamente afetado pelo câncer, foi como o condenado administrador sul-americano em La Fiévre Monte à El Pao [Os Ambiciosos] (59, Luis Buñuel).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2060-61.

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