Filme do Dia: Desassossego (Filme das Maravilhas) (2010), Felipe Bragança, Gustavo Bragança, Andrea Capella, Carolina Durão, Marco Dutra, Caetano Gotardo, Helvécio Marins Jr., Marina Meliande, Raphael Mesquita & Juliana Rojas
Desassossego (Filme das Maravilhas)
(Brasil, 2010). Direção Felipe Bragança, Gustavo Bragança, Andrea Capella,
Carolina Durão, Marco Dutra, Caetano Gotardo, Helvécio Marins Jr., Marina
Meliande, Raphael Mesquita, Juliana Rojas. Rot. Original Conceito de Felipe
Bragança. Fotografia Andrea Capella & Flora Dias. Música Lucas Marcier.
Montagem Marina Meliande. Com Rômulo Braga, Marina D’Elia, Nuno Gil, João Pedro
Zappa, Clarisse Zarvos.
Há um frescor poético e inventividade
visual, assim como arroubos de cinema-ensaio a la Godard, que demonstram um
amadurecimento da produção de diversos coletivos que aqui se entrelaçam como
resposta visual a uma carta de uma garota de 14 anos que não chega a ser
apresentada. Ficam demarcadas a presença dos coletivos Teia, Duas Mariola,
Filmes do Caixote e, em bem menor escala, Alumbramento – já que Ivo Lopes não é
exatamente um integrante do coletivo e rapidamente se associou a diversas
produções Brasil afora. Há momentos de singeleza amorosa como também os há de
pura criatividade visual – como as inesperadas explosões que assustam o casal
que se encontra nas areia das praia. Trata-se de fragmentos, mais que da
apresentação de uma certa linearidade, mais desconstrutivo e com menos fixação
espaço-temporal que alguns dos filmes cearenses pioneiros do que veio a ser
considerado Novíssimo Cinema Brasileiro (Sabado à Noite, Estrada para
Ythaca) e, no entanto, muito mais abertos a pulsões que levam em conta uma
dimensão de universo que não é tragada apenas pelo espelho narcísico de seus
realizadores (caso de Ythaca, para se ficar em um exemplo mais óbvio). E
usa-se de criatividade visual a partir de pequenos achados que se transformam
em algo pulsante, vivo, que consegue se descolar positivamente da personalidade
de x ou y, cometer o que quase sempre é saudável em qualquer processo
artístico, que é a mediação e transcendência quanto ao artista que o produz.
Tome-se o exemplo dos dois homens a discutirem sobre si próprios e sua relação
em meio à noite e fazendo uso de lanternas que os iluminam e com o qual
iluminam um ao outro. Ou ainda do casal, que o homem lê com certa dificuldade
uma declaração de amor para a mulher, cujo atrativo maior emerge dessa fricção
entre sentimento, exposição de si e a palavra escrita. O que não quer dizer que
não existam momentos um tanto aborrecidos e recorrentes, que também fazem parte
habitualmente de tais tipos de tessituras. Duas Mariola Filmes/Filmes do
Caixote para Vitrine Filmes. 65 minutos.
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