Filme do Dia: O Cadete Winslow (1999), David Mamet

 


Cadete Winslow (The Winslow Boy, EUA, 1999). Direção: David Mamet. Rot. Adaptado: David Mamet, baseado na peça de Terence Rattigan. Fotografia: Benoit Delhomme. Música:  Aline Jans. Montagem: Barbara  Tulliver. Dir. de arte: Gemma Jackson & Andrew Munro. Cenografia: Trisha Edwards. Figurinos: Consolata Boyle. Com: Nigel Hawnthorne, Jeremy Northam, Rebecca Pidgeon, Gemma Jones, Matthew Pidgeon, Guy Edwards, Colin Stinton, Sarah Flind.

Na  Inglaterra do início do século, Arthur Winslow (Hawnthorne), patriarca de uma tradicional, porém já não tão rica, família, aceita que sua filha Catherine (Pidgeon) noive com o jovem militar John Watherstone (Gillett). Porém a confraternização, com a participação também do irmão Dickie (Pidgeon), da mãe Grace (Jones) e do eterno pretendente de Catherine, Desmond Curry (Stinton) é conturbado com a inesperada declaração da criada Violet (Flind), de que o filho mais novo de Arthur, Ronnie (Edwards), que só era esperado dentro de alguns dias, encontra-se em casa. Expulso da famigerada Escola Naval de Osbourne, pela acusação de roubo, Ronnie é chamado pelo pai para uma conversa privada, em que nega às acusações. Acreditando na firmeza da resposta, Arthur procura os serviços de um renomado advogado de defesa, Robert Morton (Northam), que após um tenso interrogatório a Ronnie, acredita na sua inocência e aceita o caso. O árduo julgamento que põe em xeque uma decisão de uma instituição da Coroa britânica, o Almirantado, transforma-se num fato político de grande repercussão no país, enquanto a morosidade e os altos custos do processo põem à prova a própria  família Winslow, tanto psicológica quanto financeiramente: John Watherstone desiste de casar com Catherine; Dickie tem que se resignar em abandonar Oxford e arrumar um emprego; Grace pede a Arthur que abandone o processo, já que não suporta mais o auto-sacrifício que é imposto a todos; Arthur, no auge dos cortes para equilibrar o orçamento doméstico, chega a cogitar em despedir Violet, com a família há 24 anos e desistir do processo. Porém, em boa parte graças à perseverança de Morton, a causa é ganha.

O filme se afasta de centrar o foco da narrativa no julgamento em si. Ao optar por esta atitude, ao mesmo tempo afasta-se dos chamados “filmes de tribunais” e prefere inquirir sobre as reações do julgamento na família atingida. Aqui, embora tudo leve a crer – inclusive a elaborada fotografia e direção de arte – que assistiremos a mais um vazio e superficial drama de costumes à la James Ivory, plasmado num pedantismo com pretensões de “artístico”, é antes o oposto que ocorre. Mesmo com a forte presença de certos clichês em dramas do gênero, como a atração entre mentalidades opostas – a feminista Catherine descobre uma inesperada grandeza que a leva à atração pelo conservador Morton, que antes achava repulsivo, e os engenhosos diálogos também sejam, muitas vezes, marcados pela ironia que é a marca registrada de Ivory, tais elementos nem transformam o drama numa lacrimogênea história de amor, nem obscurecem os sentimentos dos personagens. Estes, paradoxalmente, ganham uma inesperada expressividade na própria contenção emocional que é emblemática do enredo, do início – quando se espera uma explosão de Arthur com o filho – ao final – quando Violet conta sobre a vitória da causa. De certa forma, é como se o mote de Morton sobre os sentimentos serem capazes de turvar a razão fossem aplicados à própria narrativa ou, ainda melhor, há uma longa distância entre sentimentos e sentimentalismo. Talvez tenha faltado ao cineasta uma maior preocupação com a montagem, no sentido de que o filme acaba sendo mais longo que o necessário. Os irmãos Catherine e Dickie são vividos pelos igualmente irmãos, na vida real, Matthew e Rebecca Pidgeon. A peça de Rattingam já havia sido adaptada para às telas em 1948, dirigida pelo britânico Anthony Asquith. Winslow Partners/Columbia-TriStar. 104 minutos.

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