Filme do Dia: Brasília, Contradições de uma Cidade Nova (1967), Joaquim Pedro de Andrade

 


Brasília, Contradições de uma Cidade Nova (Brasil, 1967). Direção: Joaquim Pedro de Andrade. Rot. Original: Jean-Claude Bernardet & Joaquim Pedro de Andrade. Fotografia: Affonso Beato. Montagem: Renato Neumann.

Talvez seja o curta-metragem que demonstra de modo mais evidente as estratégias de subversão de uma encomenda pretensamente institucional, algo que o cineasta realizaria ao longo de sua carreira (também no caso da ficção, com Os Inconfidentes (1972). Inicialmente o filme traz uma voz off  grave e neutra que apresenta dados objetivos sobre a cidade de Brasília e sua estruturação em termos arquitetônicos, em estilo que parece ser uma paródia auto-consciente das peças de propaganda oficiais então comuns. Em pouco tempo, no entanto, volta-se para o imenso abismo existente entre a concepção idealizada e generosa de Niemeyer e uma realidade bem mais complexa e segmentada socialmente, flagrando a expansão exorbitante das cidades-satélites e da migração maciça de nordestinos para os contornos da cidade. De viés sociológico, como boa parte da produção documental do período, o filme faz uso tanto de entrevistas com operários, funcionários da classe média e imigrantes ainda em viagem que se contrapõem abertamente com a utopia da cidade feliz da classe média, tampouco satisfeita com o lazer ainda precário, constituído de um único cinema. A impressão final que fica é menos a da realização da utopia centenária da construção de uma capital no “coração do país” que de um pesadelo concentrado de todas as contradições sociais, regionais e culturais desse país. Trata-se de seu primeiro filme em cores. Filmes do Serro. 23 minutos.

 

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