Filme do Dia: Os Herdeiros (1970), Cacá Diegues
Os Herdeiros
(Brasil, 1970). Direção e Rot. Original: Cacá Diegues. Fotografia: Dib Lutfi.
Montagem: Eduardo Escorel. Cenografia: Luís Carlos Ripper. Figurinos: Fernando
Bede. Com: Sérgio Cardoso, Odete Lara, Mário Lago, Isabel Ribeiro, Ferreira
Gullar, Grande Otelo, Paulo Porto, Jean-Pierre Léaud, Hugo Carvana, Anecy
Rocha, Daniel Filho, Cláudio Wanderley, André Gouvêia, Laura Galano.
A epopeia
do jornalista foragido Jorge Ramos (Cardoso), que trai seu passado comunista e
delata seu melhor amigo, Sérgio Martins (Gullar) que finda torturado e morto na
prisão. Foragido, aproxima-se de um barão do café, Almeida (Lago), para futuramente o traí-lo, sendo expulso com
sua mulher, Rachel (Ribeiro), filha de
Almeida, ao abraçar o governo Vargas. Assumindo cargo no jornal do governo, trai
igualmente seu amigo Medeiros (Porto), que o quer na Rádio Nacional. Torna-se
amante de uma famosa cantora do rádio, Eugênia (Lara), traindo sua esposa, que
enlouquece. Um dos filhos, David (Wanderley), seu herdeiro dileto, será morto
pela viúva (Galano) do falecido Prof. Maia (Carvana), que Jorge se recusara a
ajudar no momento da repressão. O outro,
Joaquim (Gouvêia), recusar-se-á terminantemente a segui-lo e o levará ao
suicídio.
Sua
estrutura dramatúrgica e metaforização da história política brasileira,
herdeira direta de Terra em Transe
de Gláuber, talvez não seja um primor de originalidade, no sentido de que
posterior a obra-prima de Rocha, mas o filme está longe de ser um fiasco.
Iniciando com a Revolução de 1930, passando pelo Estado Novo, suicídio de
Vargas, surgimento de Brasília, golpe de 1964 e radicalização do Regime
Militar, apresenta menos personagens realistas que representações simbólicas
dos setores sociais que fizeram parte da história política que retrata.
Assumidamente pessimista quanto aos rumos da política formal e sua eterna luta
pelo poder, tampouco acena para qualquer tipo de saída outra, apenas
constatando o conformismo de uma juventude que ainda pretendera se rebelar
contra o sistema – Joaquim, acaba
aceitando, ao final, seguir o caminho do poder. Longe de ser um filme fácil
conta, porém, com uma bela fotografia e majestosos planos abertos, assim como
recorre a nossa tradição musical – de Villa-Lobos à Carmem Miranda – para
construir sua estrutura operística e solene, recheada de momentos em que os
atores permanecem imóveis compondo verdadeiros tableaux vivos, ao mesmo tempo incorporando a histeria das
produções do cinema marginal, nos gritos dolorosos e altissonantes de seus
personagens. Em vários momentos utiliza-se da assincronia entre diálogos e
imagem, típica do cinema autoral de então. Conta com participações breves de
Caetano Veloso, Nara Leão e Dalva de Oliveira. Último trabalho no cinema do
grande ator Cardoso, que fez poucos filmes. Filmado no verão de 1968 para 1969.
Carlos Diegues Produções Cinematográficas/Produções Cinematográficas L.C.
Barreto/J.B Produções Cinematográficas/Novocine/INC. 103 minutos.
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